Exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, teve sua gestão marcada por sucessos desmontes de políticas públicas voltadas à preservação da natureza. Alvo principal de investigações por crimes ambientais, Salles é suspeito de envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira.
Nos dois anos e meio em que esteve à frente do ministério, Salles colecionou recordes de desmatamento na Amazônia. O ex-ministro também comandava a pasta no ano passado, quando o governo federal se manteve omisso frente às queimadas sem precedentes que destruíram o Pantanal e mataram milhões de animais silvestres.
Em edição extra do Diário Oficial da União publicada nesta quarta-feira (23), o governo anuncia a exoneração de Salles e informa que o ex-ministro pediu para deixar o cargo. E sua saída foi cercada de elogios pelo presidente, que, um dia antes do anúncio da exoneração, tentou passar uma imagem de que as investigações que têm Salles como alvo são descabidas.
“Prezado Ricardo Salles, você faz parte da história. O casamento da Agricultura com o Meio Ambiente foi um casamento quase que perfeito. Parabéns, Ricardo Salles. Não é fácil ocupar seu ministério. Por vezes, a herança fica apenas uma penca de processos”, disse Bolsonaro durante cerimônia realizada na terça-feira (22) no Palácio do Planalto para anunciar o Plano Safra 2021-2022.
Após o pedido de demissão ser anunciado publicamente, o ex-ministro do Meio Ambiente também se pronunciou e manteve o mesmo discurso do início de sua gestão. Numa tentativa de maquiar a verdade sobre o desmonte ambiental que promoveu desde que se tornou ministro, Salles contestou as críticas que recebeu e defendeu os setores da economia que lucram com a destruição da natureza, como a agropecuária.
“Experimentei ao longo destes dois anos e meio muitas contestações, tentativas de dar a essas medidas caráter de desrespeito à legislação, o que não é verdade”, afirmou o ex-ministro, que disse ainda que a sociedade espera “respeito” ao setor produtivo e à iniciativa privada. Salles defendeu ainda a ampliação de obras de infraestrutura e a manutenção do Brasil no posto de “grande líder do agronegócio”.
Para que seus planos possam se concretizar, Salles indiciou ao cargo de ministro do Meio Ambiente Joaquim Alvaro Pereira Leite, que também está alinhado aos interesses de Jair Bolsonaro no que se refere a defender o desenvolvimento econômico em detrimento da preservação ambiental. “Para que se faça [a transição] da maneira mais serena possível, apresentei meu pedido de exoneração”, disse.
A indicação do ex-ministro foi acatada por Bolsonaro, que nomeou Joaquim Alvaro Pereira Leite como novo ministro no mesmo decreto em que anunciou a exoneração de Salles. Até então, Leite ocupava o cargo de secretário da Amazônia e Serviços Ambientais do ministério. Ele também já foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e é defensor do agronegócio.
“Salles foi o responsável pelo maior desmonte de políticas ambientais da história”
Nas redes sociais, a exoneração de Ricardo Salles foi comemorada por ambientalistas, ativistas e políticos que defendem a preservação dos recursos naturais. Em uma publicação no Twitter, o deputado federal Marcelo Freixo afirmou que “Salles já vai tarde” e disse que o “ex-ministro foi o responsável pelo maior desmonte de políticas ambientais da história e por uma devastação sem precedentes”. “Mas ele era apenas o jagunço de luxo de Bolsonaro, o operador. O mandante de todos os crimes é o presidente da República”, afirmou.
O deputado federal Paulo Teixeira também comemorou a exoneração. “As florestas agradecem. O maior desmatador do Brasil pede demissão do Ministério do Meio Ambiente. Fora Ricardo Salles. O próximo é Bolsonaro”, escreveu.
O período em que Ricardo Salles esteve no comando do ministério do Meio Ambiente foi marcado por inúmeras polêmicas. Dentre elas, a criação de um órgão para perdoar multas ambientais; os recordes de queimadas e desmatamento; a retirada da participação da sociedade civil do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a revogação de resoluções que protegiam as restingas e os manguezais; a liberação da queima de lixo tóxico em fornos para cimento; a paralisação do Fundo Amazôni; o avanço do garimpo em áreas protegidas e unidades de conservação; o desmonte dos órgãos de proteção ambiental, como Ibama e ICMBio, e o emparelhamento dessas instituições, que passaram a ser chefiadas por militares sem conhecimento técnico; as suspensão das multas ambientais e dos brigadistas durante recorde de queimadas no Pantanal.
Outras tantas ações desastrosas e omissões foram orquestradas pelo ministro que ficou mundialmente conhecido após sugerir, durante reunião ministerial de 22 de abril de 2020, no Palácio do Planalto, que o governo aproveitasse o fato da imprensa estar focada na pandemia de Covid-19 para “ir passando a boiada” no setor ambiental para alterar regras de proteção à natureza.
Tamanho desmonte das políticas ambientais colocou o Brasil em uma condição vergonhosa diante do resto do mundo. Desde que o início do governo Bolsonaro e da gestão de Salles, dupla que se manteve alinhada diante dos mesmos interesses, países como Estados Unidos, Alemanha e Noruega pressionam o governo brasileiro para que medidas urgentes de preservação ao meio ambiente sejam implementadas. Os pedidos internacionais, porém, têm sido ignorados.