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Facebook lucra com anúncios de produtos oriundos do tráfico de animais selvagens

16 de abril de 2018
4 min. de leitura
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O Facebook está exibindo anúncios de corporações norte-americanas conhecidas, além de conteúdo de páginas de grupos operados por traficantes estrangeiros que vendem ilegalmente partes do corpo de animais ameaçados de extinção, incluindo marfim de elefante, chifre de rinoceronte e dentes de tigre.

Em uma denúncia secreta apresentada à Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (SEC), os defensores da preservação da vida silvestre alegam que a falha do Facebook em impedir que comerciantes ilícitos usem seu serviço por atividades ilegais viola as responsabilidades da rede social como empresa de capital aberto.

Em uma declaração na última terça-feira, o Facebook disse que seus padrões comunitários proíbem a venda de animais selvagens, espécies em extinção ou suas partes. A empresa ainda afirmou que remove grupos envolvidos em conduta ilegal quando são identificados

O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, se pronunciou na última semana no Capitólio sobre outros assuntos.

A queixa, cuja cópia foi fornecida à rede de notícias Associated Press, foi inicialmente apresentada em agosto do ano passado em nome de um informante disfarçado representado pelo National Whistleblower Center, um grupo jurídico sem fins lucrativos. A identidade do informante, que gravou vídeos de reuniões com traficantes de animais selvagens feitas no Facebook, foi mantida em sigilo por motivos de segurança. A SEC se recusou a comentar na última segunda-feira se a coleção de denúncias resultaram em uma investigação sobre a empresa.

“O Facebook não é um inocente espectador desses crimes. A empresa vendia anúncios nas próprias páginas em que o marfim estava sendo comercializado”, disse Stephen Kohn, diretor executivo do National Whistleblower Center.

O Facebook afirmou na terça-feira que interrompeu a exibição de propagandas pagas dentro das páginas do grupo no ano passado. No entanto, os defensores dos direitos animais reuniram capturas de tela mostrando o que parecem ser anúncios corporativos exibidos em feeds de notícias individuais, juntamente com postagens ilícitas vendendo jóias esculpidas em marfim de elefantes.

“Nossos padrões comunitários não permitem a caça e a venda de animais selvagens, espécies em extinção ou suas partes, e nós imediatamente removemos este material assim que tomamos conhecimento. Temos muitos sistemas para evitar a venda ilegal e não permitimos anúncios sobre a comercialização venda de animais ameaçados. Estamos tristes em ouvir esses relatórios e estamos investigando esse problema”,  declarou o Facebook em um comunicado.

(Foto: Associated Press)

A rede social é uma das 20 empresas de tecnologia que se uniram no mês passado à Coalizão Global para Acabar com o Tráfico de Vida Silvestre Online, organizada pelo Google e pelo World Wildlife Fund. Semanas após o anúncio do dia 7 de março, um repórter da Associated Press conseguiu ver dezenas de produtos de origem animal proibidos internacionalmente à venda em grupos públicos e privados no Facebook, a maioria localizada no sudeste da Ásia.

Entre os itens disponíveis, estavam cintos feitos com pele de tigres de Bengala, uma espécie ameaçada de extinção, com apenas cerca de 2.500 ainda vivendo na natureza. Também foram anunciados chifres de rinocerontes negros, uma espécie fortemente visada por caçadores, com pouco mais de 5 mil ainda vivendo pela África.

Negociações sobre preço e entrega desses animais são frequentemente iniciadas pelo Facebook Messenger. O Instagram e o WhatsApp, duas plataformas de mídia social também pertencentes ao Facebook, também são às vezes usadas por criminosos. As alegações que vinculam o Facebook ao tráfico de animais selvagens estão surgindo enquanto a empresa já está lutando para se recuperar de um escândalo de privacidade de dados que destruiu 79 bilhões de dólares de acionistas durante as últimas três semanas.

A crise começou após revelações de que a Cambridge Analytica, uma empresa de mineração de dados ligada à campanha de sucesso do presidente Donald Trump em 2016, explorou as fraquezas nos controles de privacidade do Facebook para coletar informações pessoais sobre 87 milhões de pessoas sem o seu consentimento.

A denúncia da SEC pode desencadear outras linhas de investigação sobre quanto da receita anual de 41 bilhões de dólares da empresa foi gerada por anúncios veiculados em páginas com atividades ilegais, como a venda de marfim de elefante e dentes de tigre. O Facebook não divulgou que parte de sua receita pode estar ligada ao tráfico de animais silvestres em registros regulatórios que devem delinear vários riscos e outras ameaças.

Investigadores do tráfico de animais informam que não notaram nenhuma queda nos produtos ilegais vendidos no Facebook, depois de promessas públicas anteriores da empresa de reprimir essas ações. Foi pedido aos órgãos federais de segurança que obriguem o Facebook a congelar imediatamente as contas usadas por traficantes e cooperar com as autoridades internacionais para identificar os indivíduos envolvidos no processo.

“A quantidade de marfim que está sendo negociada no Facebook é horripilante”, declarou Gretchen Peters, diretora executiva do Centro de Redes Ilícitas e Crime Organizado Transnacional, que analisou grupos online em que produtos provenientes de animais selvagens estão sendo comercializados. “Eu olhei para milhares de posts contendo marfim, e estou convencido de que o Facebook está literalmente facilitando a extinção das espécies de elefantes”, finalizou.

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