Uma pesquisa recentemente contribui para um crescente grupo de evidências indicando que inúmeras espécies de plantas e animais estão passando por mudanças físicas e comportamentais em resposta ao aquecimento global.
O biólogo Simon Griffith iniciou a pesquisa em sua terra natal, a Grã-Bretanha, estudando pardais na ilha Lundy, na costa da Inglaterra, um lugar frio em que os pardais passavam semanas reunidos nos celeiros para evitar o clima quente e intenso.
Griffith se mudou para a Austrália em 2003, e viveu no centro quente e árido do país, ele precisava dirigir cerca de 800 quilômetros a oeste de Sydney para chegar no laboratório. Cada vez que ele parava de gasolina ao longo do caminho, o biólogo notou no alto das filas de postos de serviço que as aves pareciam menores e mais magras em comparação com os pássaros frios e fortes da Inglaterra.
O especialista ficou curioso sobre a variação de tamanho, embora realisticamente seja difícil julgar a diferença a olho nu. Ainda assim, ciente de que a mudança climática está fazendo com que muitas plantas e animais mudem para se adaptar ao aumento das temperaturas, ele pensou que isso possivelmente estava causando a diminuição das aves. Griffith, um cientista do departamento de ciências biológicas da Universidade Macquarie, em Sydney, decidiu descobrir. Ele lançou vários estudos, e seus resultados até agora sugerem que seus pensamentos estavam corretos.
Depois de estudar pássaros que não migram no inverno, o que significa que eles vivem com temperaturas quentes e frias durante o ano, sua pesquisa descobriu que a exposição ao calor aparentemente afeta o tamanho do corpo, muito mais que o clima frio. Mas isso ocorre apenas quando os pássaros são filhotes e ainda estão crescendo. Desenvolver-se durante um verão quente, antes de deixar o ninho, transforma-os em pequenos adultos e eles permanecem assim. Junto com outros especialistas, Griffith estudou apenas pardais domésticos e pássaros tentilhões zebra, mas eles suspeitam que o fenômeno é generalizado.
“Muitas espécies podem ficar menores. Esta pode ser uma resposta adaptativa e pode tornar os animais mais capazes de lidar com as mudanças nas condições. O principal é entender por que isso está acontecendo e quais são as conseqüências da aptidão para os animais isto é, eles estão em melhor situação ou pior, evoluindo para tamanhos menores em um mundo em aquecimento?”, declarou.
O especialista Samuel Andrew, que colaborou com Griffith, concorda. “Se essas mudanças de tamanho são uma parte importante da adaptação a climas mais quentes, então as aves que não mudam de tamanho em resposta à mudança de temperatura podem ficar mais vulneráveis.”
A pesquisa contribui para um crescente corpo de evidências indicando que inúmeras espécies de plantas e animais estão passando por mudanças físicas e comportamentais em resposta ao aquecimento global. O fenômeno está afetando seus padrões de reprodução e migração. Que estão mudando, por exemplo, entre borboletas-monarca, aves canoras e morcegos. E muitas espécies estão se movendo para altitudes mais elevadas, onde é mais frio, para escapar do calor.
Isso quase certamente está relacionado ao fato de os invernos se tornarem mais curtos e mais quentes, provocando primaveras mais cedo do que o normal, ou “falsas”, e dias esporádicos e quentes no verão durante os meses de inverno, bem como ondas de calor intensas.
Essas variações climáticas podem desequilibrar os ecossistemas, dificultando o ajuste da natureza. Os ecossistemas são complexos e conectados; quando um componente muda, ele tem um efeito cascata no resto do sistema.
O tamanho do corpo parece estar entre os fatores afetados, e não apenas nas aves. No verão passado, pesquisadores no Canadá relataram que muitas espécies de peixes estavam encolhendo, algumas em até 30%, pois o aquecimento da água oceânica dificulta a absorção de oxigênio que é necessário para o crescimento através de suas guelras.
“Um dos grandes desafios para a biodiversidade em geral é que a velocidade com que o clima está mudando é mais rápida do que nunca. Isso significa que a capacidade de resposta das diferentes espécies será fundamental para determinar a extensão em que elas podem lidar”, ressalta Griffith.
A noção de que as temperaturas influenciam o tamanho do corpo não é novidade. O biólogo Carl Bergmann propôs pela primeira vez em 1847 que os climas frios dão origem a corpos maiores e que os animais que vivem em lugares quentes normalmente são menores. Isso faz sentido porque os corpos maiores preservam o calor de forma mais eficiente do que os menores. Mas o aquecimento global transformou a “regra de Bergmann” em algo não tão simples como era então.
“O padrão geral entre temperatura e tamanho do corpo foi visto em muitos organismos. O que estamos sugerindo é que mais pessoas precisam considerar que isso pode ser causado por problemas provocados pelo desenvolvimento em climas muito quentes. Sabemos que as ondas de calor estão aumentando em gravidade e intensidade e, portanto, isso pode estar impulsionando o encolhimento de animais”, alerta Griffith.
Para o estudo dos pardais, Andrew e sua equipe capturaram e mediram cerca de 40 pardais domésticos adultos em cada uma das 30 localidades da Austrália e Nova Zelândia. Eles descobriram que as temperaturas máximas durante o verão, quando as aves se reproduzem, eram um melhor preditor do tamanho do corpo adulto em cada local do que as temperaturas mínimas do inverno.
“Como os pardais domésticos são aves sedentárias que vivem entre os seres humanos, “isso significa que você pode comparar o tamanho das aves de diferentes locais em uma grande distribuição”, finalizou.