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Austrália exporta cerca de 600 galgos para serem explorados em corridas em Macau

14 de abril de 2018
5 min. de leitura
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O governo federal australiano permitiu a exportação de 590 galgos para Macau, na China, dois anos após o país ter sido posto na lista negra pela indústria de corridas, devido às elevadas taxas de mortalidade e aos baixos padrões de bem-estar. Documentos vazados, divulgados pelo deputado Mehreen Faruqi, do MP Greens, deram mais luz aos detalhes das exportações de galgos vivos autorizados pelas autoridades federais.

Uma lista de licenças de exportação de galgos mostra que entre o início de 2013 e o final de 2015, cerca de 941 galgos foram ilegalmente exportados para Macau, China e Hong Kong. Esse lugares são notórios por conta da exploração desumana de galgos. Os documentos confirmam o envolvimento significativo de empresas de transporte de animais domésticos no comércio de exportação. A empresa prestadora de transporte animal JetPets, ajudou a enviar 150 cães a Macau, 27 cães à China e 104 cães a Hong Kong durante esse período.

Galgos australianos são exportados ilegalmente para Macau.
Os animais foram exportados ilegalmente para Macau. (Foto: Ponto Final Macau)

O documento foi divulgado quando os ativistas em defesa dos direitos animais se reuniram no Parlamento de Nova Gales do Sul para marcar o aniversário de um ano do retorno do ex-primeiro-ministro Mike Baird à proibição do setor. A manifestação incluiu discursos de organizações protetoras dos animais como Faruqi, Humane Society International, Libertação Animal e grupos de resgate de galgos, que falaram sobre as mortes contínuas, escândalos de drogas e exportação ilegal.

As exportações para Macau estavam em desacordo com a abordagem adotada pelo departamento nacional de corridas de galgos, Greyhounds Australasia (GA), que utiliza um sistema de passaportes para controlar o envio de galgos para outros países.

Em 2013, a GA colocou Macau na lista negra e recusou-se a emitir passaportes para exportação, depois de as inspeções terem revelado preocupações significativas em termos de bem-estar animal. Macau abriga o notório canídromo, uma pista de corridas de galgos com uma alta taxa de mortalidade e um histórico de crueldade animal. Ativistas dos direitos animais afirmam que enviar um galgo para o canídromo efetivamente assina sua sentença de morte.

As práticas ilegais de exportação que operam na Austrália, no entanto, geraram lucros na compra de cães de corrida indesejados na Austrália e na venda deles para Macau para continuarem competindo.

Mas a questão está fora do âmbito do departamento de agricultura do país, que é responsável pela emissão de licenças para as exportações desses animais. O departamento informa que só é capaz de avaliar se os animais atendem aos requisitos do país importador, conforme o Pedido de Controle de Exportação (Animais) emitido em 2004. O que acontece depois da exportação não pode ser considerado pelo departamento.

“Uma vez que os cães exportados cheguem ao seu destino, eles estão sob a jurisdição do país importador”, disse uma porta-voz do departamento.

Os animais são forçados a competirem para diversão humana.
Os animais são explorados para entretenimento humano. (Foto: Ponto Final Macau)

A brecha no regulamento é uma das maiores frustrações para a Greyhounds Australasia. Ela passou anos fazendo acordos junto ao governo federal para exigir que os galgos tenham passaporte antes de poderem ser enviados para o exterior.

Inicialmente, concentrou seus esforços de negociação em Barnaby Joyce, que concordou com a ideia em princípio, mas não conseguiu que os ministros de estado concordassem. O chefe da Greyhounds Australasia, Scott Parker, disse que os esforços de acordo se tornaram uma “bagunça burocrática”. Parker informa que houve um enorme esforço para garantir que os passaportes fossem emitidos apenas para países com bons padrões de bem-estar animal.

“Fizemos esse trabalho, e todos os reguladores da Austrália foram e continuam muito à vontade que quando a GA emite um passaporte para qualquer outro país, é porque temos bons conselhos de que o destino é adequado do ponto de vista do bem-estar. E o governo deveria respeitar esse trabalho e esse conselho, impedindo qualquer exportação que não mostrasse evidências do apoio da indústria, porque eles não tinham um passaporte emitido para eles”, declarou Parker.

“Dado que a legislação e os regulamentos não permitem que isso aconteça, a indústria continua exposta. A partir dessa perspectiva, tem sido um esforço de negociação a longo prazo e frustrante que não tenhamos chegado onde queríamos estar e onde o público, tenho certeza, quer que essa questão esteja”, acrescentou.

A porta-voz do departamento informou que as exportações agora foram reduzidas. As exportações zero para a China ocorrerão entre 2017 e 2018. As exportações para Macau são agora também uma fração do que eram antes, em grande parte pois o canídromo está prestes a fechar.

As corridas envolvem apostas nos animais cruelmente explorados como objetos.
Os animais correm para que seus apostadores lucrem com a exploração. (Foto: Looker)

O departamento também revelou que foi necessária uma proposta aos estados e territórios para que legislassem para reconhecer o esquema fraudulento de passaporte dos galgos, o que teria, então, tornado esses documentos um requisito sob a lei federal. Mas os estados e territórios não conseguiram apoiar a proposta.

Faruqi escreveu para empresas de transporte de animais no final do ano passado, incluindo a JetPets, pedindo que parem de exportar galgos. Ela afirma que não recebeu resposta. Entende-se que a JetPets, desde então, parou de exportar galgos para Macau e outras nações com históricos agravantes de crueldade animal.

“Acho que muitas pessoas ficariam chocadas e enojadas ao saber que essas empresas que alegam se preocupar com os animais ganharam dinheiro com o envio de cães para perto da morte certa na China e em Macau. Exportar cães para Macau, onde literalmente morrem, é dinheiro de sangue absoluto e comércio de miséria. Eu realmente me pergunto se essas empresas se importam com os animais”, finalizou.

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