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INÉDITO

Tratamento homeopático cura cadela com câncer raro e agressivo

14 de março de 2018
Bruna Araújo | Redação ANDA
23 min. de leitura
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Foto: Arquivo pessoal

Prestes a completar 10 anos de existência, a Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA) já recebeu aproximadamente 1 milhão de e-mails contando histórias tristes, felizes e inspiradoras de animais de todo o Brasil.

Além do contato com nossos leitores, também tivemos o privilégio de publicar aproximadamente 80 mil notícias nos últimos nove anos e contar histórias incríveis e inspiradoras capazes de reacender a fé na humanidade e mostrar que todos podem fazer parte da mudança para a construção de um mundo melhor.

Felizmente, o trabalho do jornalista não é apenas informar, mas também gestar e buscar boas e belas notícias e foi assim que conhecemos a Luna, uma cadelinha sem raça definida moradora do bairro Jardim Grimaldi, na zona Leste de SP.

A primeira vista ela pode parecer uma cadelinha como tantas outras, mas se você nos acompanhar até o fim desta história, vai descobrir que ela é única, incrível e dona de uma mensagem de amor e resiliência.

Luna tem aproximadamente 12 anos e em abril de 2017 foi diagnosticada com mieloma múltiplo, um tumor cancerígeno extremamente raro e maligno que se desenvolve dentro da medula óssea devido ao crescimento descontrolado dos plasmócitos, células responsáveis pela produção de anticorpos.

O mieloma é extremamente agressivo e mortal. Não existe em toda literatura veterinária um caso de cura ou regressão do tumor. Até agora.

Luna, a pacata cadelinha paulistana resgatada das ruas, pode ser o primeiro cachorro do mundo a ser curado de um mieloma múltiplo canino e sem o uso de tratamento quimioterápico. Como? Continue com a gente até o fim desta matéria.

Para nos ajudar a contar essa história pedimos ajuda dos tutores da cadelinha, Adriana (Drika) Martins [1] e Walter Pellizon [2] e da equipe incrível que auxilou para esse resultado inédito: o especialista em Radiologia Veterinária Daniel Baptista [3], o veterinário clínico e anestesiologista Renê Monteiro Passos [4], a veterinária especialista em alimentação natural Sylvia Angélico [5], a veterinária especialista em acupuntura, ozonoterapia e terapia floral Katia Bizaroli [6], o veterinário homeopata Aloisio Cunha [7] e a veterinária especialista em terapias integrativas Ana Catarina Viana [8].

Vamos lá?

A personagem principal

Luna foi resgatada após ser vítima de um atropelamento quando era apenas um bebê. O ano era 2006. Ela foi adotada por Drika e Walter e sempre foi uma cachorrinha muito feliz e bem cuidada.

Ela vive com uma outra cadelinha também adotada pelo casal, a Maya, uma shih tzu resgatada após ser explorada como matriz em uma “fábrica de filhotes”.

Walter lembra que a cadela sempre foi muito amiga do casal. “A Luna sempre foi muito ativa. Antes da gente saber da doença dela, ela era muito companheirinha. Fazia tudo que a gente queria, ficava deitadinha com a gente. Brincava, latia para os vizinhos, corria para cima e para baixo”, disse.

Drika comenta que a cachorra era muito viva e saudável. “Ela sempre foi alegre, feliz e muito ativa. Eu sempre disse que ela tinha hiperatividade. Ela corria, brincava, viajava com a gente, ia para todos os lugares, corria na praia, era muito espoletinha. Os lugares que ela mais gostava eram um parque no Tatuapé e a praia. Como ela adorava, como ela corria nesses lugares. Cheirava tudo. Ela brincava com outros animais. Ela tinha alegria de viver”, recorda.

Inimigo silencioso

Luna foi diagnosticada com um tumor localizado na medula no dia 19 de abril de 2017. Ela foi encaminhada para o veterinário e radiologista Daniel Baptista, que confirmou o temor dos tutores. Em entrevista à ANDA, ele conta a gravidade do resultado. “A Luna foi encaminhada por um colega veterinário para radiografar, dentre outras regiões, o segmento lombar da coluna também. Na radiografia, notou-se sinais característicos de uma neoplasia óssea (crescimento anormal de células), que possui um aspecto considerado agressivo pois deforma as características radiográficas anatômicas da vértebra. Havia indícios de compressão à medula, mas seriam necessários outros exames complementares para confirmar o diagnóstico mais ‘refinado’, como a citologia aspirativa e/ou a biópsia do osso para a conclusão do tipo de tumor que a acometia”, disse.

Após a radiografia, ela foi submetida a uma cirurgia e mais exames, incluindo um imuno-histoquímico, que observou as características do tumor a nível molecular e confirmou o diagnóstico de mieloma, sendo um divisor de águas na vida de Luna e sua família.

No entanto Drika lembra que muito previamente à confirmação do câncer, Luna deu sinais que algo errado estava acontecendo em seu corpo. “Os primeiros sinais apareceram bem antes. Ela apresentava um quadro de dor constante. A gente fazia o movimento da patinha e ela não voltava, sinais que havia um problema neurológico já. E a Luna mudou o comportamento, passou a ficar apática, muito triste”, contou.

Walter reforça ainda que os cães da família sempre receberam cuidados e atenção. “Adriana (Drika) sempre foi muito ativa nessa parte de cuidados preventivos com os nossos cachorros. Ela sempre levou ao veterinário”, afirmou.

Ele disse ainda que antes do diagnóstico a Luna passou a ter dificuldades para subir escadas e pular na cama, mas a princípio a principal suspeita é que era uma hérnia ou problema na coluna, mas que nunca foi descoberto pelos médicos. Em entrevista à ANDA, os tutores da cadelinha contaram quais foram suas reações após o diagnóstico da Luna:

“Eu fiquei muito chateado, porque câncer a gente já sabe que significa a morte. Então eu já sabia que a Luna estava com os dias contatos”, recordou Walter.

“Eu estava com ela quando recebi o diagnóstico. Na hora foi uma dor, uma dor horrível. Eu senti uma tristeza profunda. Eu senti um desespero. Eu senti medo. Medo pelo que ela pudesse vir a ter que enfrentar. Medo pela vida dela, porque eu percebi que era muito grave”, disse Drika.

Com o disgnóstico em mãos, os tutores da cachorrinha tinham uma decisão a tomar e apesar do prognóstico ruim e da falta de tempo, eles agiram sabiamente.

Infelizmente desde o início a doença deixou sequelas na cachorra. A cirurgia para a realização da biópsia do tumor, que se desenvolveu na vértebra comprometeu a passagem do impulso nervoso, gerou um dano medular que deixou Luna paraplégica.

Luta pela vida

O futuro da cadelinha estava seriamente comprometido e cada segundo era valioso. A primeira opção de tratamento a ser considerada foi a quimioterapia, um tratamento que busca destruir células de rápido crescimento, mas que também afeta células saudáveis, mas após conversar com diversos profissionais, o casal ponderou que um tratamento convencional daria poucas chances à Luna e a faria sofrer até seus últimos dias de vida.

Os tutores também cogitaram a possibilidade de realizar o tratamento experimental à base de fosfoetanolamina sintética, famoso após o estudo da “pílula do câncer” realizado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), mas não encontraram um veterinário disposto a fazer o requerimento formal e judicial para o tratamento.

A busca por uma terapia alternativa não foi fácil e portas foram fechadas para a Luna devido a sua sentença de morte, mas apesar da grandiosidade de São Paulo, a resposta dos tutores estava em Brasília, no Distrito Federal: a médica veterinária e acadêmica Ana Catariana, doutoranda em uma terapia integrativa contra o câncer que mudou a vida da cachorrinha.

Em entrevista à ANDA, Ana criticou o uso do tratamento quimioterápico e afirmou: “Mais mata do que cura”. Ela explicou ainda que a principal preocupação diante da situação da cadelinha era proporcionar qualidade de vida. “Quando você avalia o caso e percebe que é um paciente idoso, debilitado, com mieloma, uma tumor super agressivo, o que você vai fazer com ele? Entrar com a quimioterapia? Não faz sentido. Então que a gente buscasse uma terapêutica que fosse menos agressiva e fornecesse uma qualidade de vida”, lembra.

Ana Catarina veio a SP conversar com os tutores de Luna e apresentou a eles o Viscum album, uma erva com poderosas propriedades de combate ao câncer. “Eu optei pelo Viscum porque eu já o estudo há alguns anos e tenho excelentes respostas com o uso da planta, na verdade com o medicamento homeopático injetável”, disse a médica.

Ela esclarece ainda que o uso do medicamento homeopático é livre de incômodos para o animal. “Ele não provoca efeitos colaterais, tem efeito citotóxico (detém o crescimento dos tecidos) e imunomodulador (estimula as reações imunológicas)”, contou.

Vamos fazer uma pequena pausa para explicar o que exatamente é o Viscum album, em breve retornamos para continuar esta história incrível.

Segredo milenar

O Viscum album, também conhecido como visgo ou visco, é uma planta angiosperma (cuja semente é protegida por um fruto) da família Viscaceae. Seu uso é milenar e remonta à Europa pré-romana. Era considerada uma erva sagrada por sacerdotes celtas e indígenas.

É semi-parasita: nasce e se alimenta no tronco de outras árvores. Seus pequenos frutos são consumidos por pássaros, que realizam o trabalho de espalhar as sementes.

Os indígenas norte-americanos têm uma lenda sobre a sacralidade do Viscum. Segundo algumas tribos, a planta originalmente nascia no chão, mas era ignorada por pessoas e outros animais, que pisavam em suas folhas. Até que um dia um grande pássaro de fogo desceu do céu e levou o Viscum até o topo das árvores, para que ele fosse respeitado e venerado, sendo até hoje considerado “a cura para todos os males”.

O Viscum não possui produção no Brasil, mas é amplamente consumido na Alemanha, Bélgica e Suíça. É um poderoso medicamento utilizado nas terapias integrativas de tratamento contra o câncer.

Suas principais propriedades são a proteção do DNA, imunomodulação, liberação de ß-endorfinas, efeito citotóxico em células tumorais e inibição da angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos).

Agora que você foi apresentado formalmente ao Viscum, vamos voltar a história da Luna.

Um passo no escuro

Apesar do uso do Viscum não ser totalmente desconhecido no Brasil, a adesão de tratamentos homeopáticos ainda é superestimada e sofre forte pressão de indústrias farmacêuticas bilionárias.

A ignorância sobre a terapia natural não impediu Walter e Drika de apostarem no uso da planta e essa decisão trouxe mais um personagem para o caminho da Luna: o médico veterinário Aloísio Cunha, que em parceria com Ana Catarina, traçou uma estratégia para a ajudar a cadela.

O veterinário homeopata explica que a cachorrinha começou o tratamento no dia 11 de junho de 2017. Naquele período Luna estava fazendo uso de opioides para dor e realizava um tratamento para a bexiga, que estava semi-paralítica.

Em entrevista à ANDA, Drº Aloísio esclarece que o Viscum foi utilizado através de injeções subcutâneas diariamente acompanhado da técnica de auto-hemoterapia, que consiste em injetar no paciente seu próprio sangue para estimular a remoção de elementos indesejados do organismo.

“O Viscum album é o tratamento completar para o câncer mais utilizado atualmente. Teve início com os princípios antroposóficos, que fez uso do modelo de preparo dos seus medicamentos através de diluições decimais. No momento, no Brasil, fazemos uso dos preparados homeopáticos de Viscum da Injectcenter de Ribeirão Preto (SP). O único no mundo que possui homeopáticos injetáveis”, afirma.

Ele conta ainda que felizmente o medicamento possui um histórico positivo da Medicina Veterinária, apesar do tradicionalismo alopático. “Fizemos uma tese de doutorado com estas medicações e a resposta do estudo experimental comprovou o que se conhece na prática. Nós tínhamos grandes esperanças, porque em 2016, após 122 dias de tratamento, a massa tumoral de um gato com linfoma imunofenotipo B, que é extremamente agressivo, deixou de existir”, disse.

Sobre a adoção do tratamento à base de uma planta medicinal que não conhecia, Drika afirmou que não sentiu insegurança, pois priorizava o bem-estar da Luna. “O mieloma é um caso de difícil cura, acho que não existe nenhuma que a gente saiba. E assim como a quimioterapia, ele daria uma sobrevida, só que com qualidade. Ela não passaria mal, ela apresentaria melhora e todo aquele mal-estar que ela sentia e por isso nós optamos por este tratamento e eu acabei abrindo mão da quimioterapia por completo”, confirmou.

Ela disse ainda que sentia extrema convicção com o uso do Viscum. “Apostar nesse tratamento não me deixou insegura. Eu tive uma segurança inicial e total no tratamento, aliás, eu tinha a intuição que esse tratamento poderia curar a Luna. Então nós fizemos esse tratamento intensivo, todos os dias, porque eu acreditei nele”, afirmou.

Walter também confiou no tratamento. “Eu não fiquei inseguro, apesar do tratamento pouco conhecido. Era uma alternativa. A quimioterapia dava 90 dias, o que eu tinha a perder?”, disse.

Luna pós Viscum

Drº Aloísio afirma que os primeiros resultados foram perceptíveis já na primeira semana de aplicação. Felizmente todos os dias subsequentes foram vitórias para a Luna. Apesar do quadro de paraplegia, que trouxe consequências, como as constantes crises de infecção urinária, a cadelinha estava colhendo frutos de sua resiliência.

E no dia 08 de janeiro de 2018, após ser submetida a uma nova radiografia, o inesperado foi comprovado. O mieloma desapareceu. O fato surpreendeu o Drº Daniel Baptista, que há aproximadamente setes meses anteriores àquele dia tinha detectado a neoplasia. “Em um dos últimos controles radiográficos, sabendo a história da Luna, esperava ver uma vértebra com o aspecto mais agressivo ainda, como sendo uma evolução radiográfica comum nestes casos de neoplasia. Fiquei surpreso ao ver que a vértebra havia se remodelado, mas ainda mantinha sinais radiográficos de uma estrutura óssea, como se houvesse feito um ‘calo ósseo’ de uma fratura vertebral, sem indícios de aumento de volume nos tecidos moles adjacentes, nem os mesmos sinais agressivos característicos da neoplasia óssea”, afirmou.

Questionado se considerava a Luna um caso de cura, ele respondeu: “Ao que tudo indica, os sinais que eu tenho acesso ao caso da Luna, sim. Digo isso pois a radiografia dá um aspecto macroscópico da doença”, confirma.

O caso maravilhou até a Drª Ana Catariana, que atualmente é doutoranda em um estudo sobre o uso do Viscum album. “Eu não esperava a regressão total do tumor, mas sim a diminuição da velocidade de crescimento, fornecendo a qualidade de vida para o animal, mas realmente o caso dela foi surpreendente, porque houve reemissão total das células tumorais, aliás, do tumor em si”, disse em entrevista à ANDA.

Drika diz que o resultados após o tratamento são claros e felizes. “Luna antes do tratamento do Viscum era apática. Ela não era a mesma cachorra de antes. Era triste. Não tinha aquele vigor que existia nela antes da doença. Com o Viscum, a Luna voltou a ter vida. Ela voltou a ser alegre, ela tem disposição, ela sabe brincar, ela brinca com a Maya. Ela se diverte. Ela tem limitações por conta da paraplegia. São muitas limitações para um bichinho, mas ela voltou a ter alegria de viver, voltou a ter aquela alegria de antes. Ela late muito, late para todo mundo. Ela voltou a ser a Luna de antes com o Viscum”, comemora.

Walter se sente aliviado pela cura da cadelinha, mas lamenta que o diagnóstico retardatário tenha custado os movimentos das patinhas traseiras da Luna. “Eu fico feliz por ela não estar mais sofrendo por causa dessa doença maldita, que foi um tumor cancerígeno, mas infelizmente triste por ela não poder mais andar, o fato dela não andar é que me deixa muito chateado. Ela ter ficado prostrada. Uma cachorrinha viva, cheia de energia ficar na cama o resto da vida”, diz com pesar.

A regressão do tumor da Luna é um fato incrível, incontestável e reacende a esperança em terapias alternativas mais acessíveis, naturais e eficientes. No entanto, a Drª Ana Catarina assevera que a prevenção e observação são as melhores estratégias. “Para mim, o paciente, o organismo, uma vez com câncer, sempre com câncer. Então é uma vigília. Sempre uma vigília, porque é uma doença metabólica, multissistêmica, então vamos ter que ter o controle para o resto da vidinha dela”, conclui.

Outras vozes e terapias complementares

Seria injusto afirmar que apenas o Viscum foi responsável pelo sucesso no tratamento da Luna. A colaboração de outros profissionais foi muito importante para que a Luna superasse o mieloma, como médicas veterinárias Sylvia Angélico e Katia Bizaroli.

Sylvia Angélico é especialista em alimentação natural para animais e é uma das fundadoras do site Cachorro Verde. Ela cuida da Luna desde 2007, quando a cachorrinha ainda era criança, e já tratou muitos animais vítimas de câncer.

Em entrevista à ANDA, ela explica qual foi a primeira estratégia adotada ao saber do quadro da Luna após o diagnóstico. “A primeira estratégia em que pensei foi mesmo na dieta natural cetogênica. Essa é uma dieta capaz de modificar profundamente o metabolismo do paciente, que passa a queimar gordura ao invés de açúcar (glicose). Isso, porque a dieta cetogênica possui uma distribuição muito peculiar de macronutrientes. Ela pode conter tipicamente entre 80 e 90% de gordura, 9-17% de proteína e apenas 1% de carboidratos na forma de vegetais fibrosos. Uma dieta nesses moldes acarreta uma mudança de ‘combustível’ que pode ‘matar de fome’ as células do câncer, uma vez que elas não conseguem aproveitar a energia fornecida por gorduras, ao contrário de todas as células saudáveis do corpo”, esclarece.

Ela explica ainda que todos os cuidados necessários para garantir que a cachorrinha estava recebendo todos os cuidados possíveis foram tomados. “A dieta da Luna foi formulada em dois programas de elaboração de planos dietéticos, o Funcional Pet e o DietBox. Com o auxílio deles, pude verificar que nutrientes estavam faltando e elaborei fórmulas de suplementação de magnésio, potássio, zinco, cálcio, iodo, vitaminas E e D e ácido pantotênico, que costumam estar em falta nesse tipo de dieta. Essas fórmulas foram aviadas em farmácias de manipulação e adicionadas e misturadas às refeições da Luna. Também foram feitos exames regularmente, que podem fornecer algumas pistas sobre o estado nutricional do paciente”, disse.

O trabalho da Sylvia foi muito importante e segundo destaca Drika, a alimentação elaborada pela veterinária evitou que a cadelinha realizasse uma transfusão de sangue. “A Sylvia com a dieta cetogênica foi primordial junto com esse tratamento. Foi uma atuação em conjunto. Então todas as alterações, eles atuavam ao mesmo tempo para poder equilibrar o organismo e também alterações na dieta. Ela (a dieta) também foi primordial dentro da UTI, inclusive para controlar a anemia que a Luna desenvolveu após a cirurgia”, lembra a tutora da cachorra.

Sylvia destaca a importância de um trabalho coletivo para a recuperação da Luna e fala sobre o sucesso do tratamento. “Acredito que tenha sido extraordinária a resposta dela. Foi o melhor resultado que já pude testemunhar com esse modelo de dieta, sem dúvida. Houve (e continua havendo) um grande esforço em grupo, sendo a maior dedicada e merecedora de parabéns a própria tutora dessa peluda, a querida Adriana. Mas Luna contou com fisioterapeuta, gastroenterologista, homeopata, fitoterapeuta, etc. Grandes profissionais em suas áreas”, afirma.

Outra profissional de extrema relevância para a Luna tem sido a Drª Katia Bizaroli. A especialista em acupuntura e ozonioterapia explica o quanto o tratamento com agulhas tem auxiliado a cadela desde a cirurgia. “Por causa da compressão que o tumor causou na medula da Luna, ela não consegue urinar sozinha, por isso tem que tomar uma medicação que ajuda a contrair a bexiga. Existe na acupuntura, alguns pontos usados para tratamento da retenção urinária, no caso da Luna, eu comecei usando somente agulhas, só que ela tem alergia em alguns dos pontos, então eu optei por uma técnica chamada farmacopuntura, onde se aplica determinada medicação nos pontos de acupuntura (no caso da Luna, vitamina B12) para estimular mais esses pontos e com essa técnica, conseguimos reduzir significativamente a dose da medicação que ela toma para urinar”, disse.

Em entrevista à ANDA, a veterinária contou que a apesar de Luna ser sua paciente recente, é notável que há algo de extraordinário em seu histórico. “Quando a Luna começou o tratamento comigo ela já tinha sido operada, então eu não a conheci antes, quando ela sentia dor, mas durante todo o tratamento ela se manteve estável, comendo muito bem, ativa, como se não tivesse nada. Mas a grande mudança foi nas imagens, tanto do raio-x quanto da ressonância magnética, que no último exame de ambos, não se localiza nenhuma formação sugestiva de tumor. O tumor que a Luna tinha, é raro e agressivo, esperava-se uma progressão em poucos meses e no caso dela o que observamos, foi uma regressão total. Não tenho outro caso de mieloma para comparar, mas com outros tumores, também agressivos, o animal definha, muitas vezes ocorre a metástase e o animal vai a óbito em alguns meses dependendo do tumor”, disse.

A união fez a força

A vitória da Luna não veio fácil e só foi possível graças a um grande time comprometido e esperançoso que ela sobreviveria. A cadelinha está atualmente não apenas livre do tumor, mas também com uma sobrevida de aproximadamente nove meses. A tutora da cachorrinha disse que tudo isso se deve a uma grande “equipe de amor, esperança e missão”.

Emocionada, Drika revela o quão se sente abençoada por ter encontrado pessoas que se recusaram a desistir da cadelinha, após presenciar a indiferença de outros profissionais no início da doença. “O sentimento que eu tenho hoje ao ver a Luna é gratidão. Primeiro por Deus, gratidão por ter encontrado essas pessoas, que eu sei que foi ele que colocou no meu caminho, gratidão por ver a Luna novamente com vida. Gratidão é meu sentimento hoje”, disse.

Ela afirma ainda que ainda tem um obstáculo a vencer: ver a Luna andar novamente. “Meu maior desejo para o futuro da Luna é que ela ande, mas se ela não puder andar, que ela seja feliz. Todo amor que nós pudermos dar para ela, ela terá”, conclui.

Mieloma e quimioterapia

Raro e agressivo, o mieloma múltiplo canino ainda é pouco conhecido e segundo o Drº Renê Monteiro Passos não há predileções ou grupos de risco. “A etimologia (origem) é ainda desconhecida, não tem uma causa principal para este tipo de tumor e também não tem uma raça definida de pré-disposição. Pode acometer qualquer tipo de raça e qualquer tipo de idade”, informa.

Drº Renê é clinico geral e cuida da Luna desde que ela tinha aproximadamente 5 anos. Ele explica que a adoção de uma terapia quimioterápica em casos de mieloma não é eficaz. “Os prognósticos são negativos, são ruins para este tipo de tumor e o tempo médio de sobrevida dos animais que fazem a quimioterapia é em média 540 dias, essa é uma média de alguns trabalhos que mostram que infelizmente esse tratamento de quimioterapia visa tentar minimizar e tentar dar uma qualidade de visa para o animal, mas infelizmente não consegue inibir completamente o tumor, lamenta.

Em entrevista à ANDA, ele esclareceu ainda que a morte é uma constante em casos de mieloma. “Os animais acabam morrendo pelas consequências do tumor. Esse tumor lesa a medula e leva a alguns tipos de infecções importantes. Leva a anemia e até a um quadro de insuficiência renal”, afirma.

O veterinário salienta ainda que apesar do tratamento quimioterápico reduzir a quantidade de células e impedir a progressão do tumor, este tipo de terapia pode ter efeitos incômodos nos pacientes como “queda de imunidade do animal, queda de pelo, algumas lesões na pele e vômito”.

Ele afirma também que há vários tipos de modalidade de quimioterapia, mas as mais comuns possuem os efeitos colaterais mais desagradáveis no animal.

Estudos sobre o mieloma

Há estudos de casos de mieloma múltiplo canino realizados por várias universidades brasileiras e de Portugal. Todos os casos pesquisados até o momento terminaram com a morte ou sacrifício do animal.

É importante destacar que o mieloma não é um tumor fácil de ser revelado precocemente, pois o diagnóstico só é concluído através de uma série de exames complementares, pois os resultados laboratoriais são sutis e inofensivos caso sejam submetidos a uma análise descuidada.

Felizmente, há esperança. Drº Aloísio Cunha divulgou que já existem diversos estudos sobre o Viscum na Pubmed (ferramenta de acesso à citações e resumos de artigos de investigação em biomedicina) e que no Brasil há atualmente duas teses de doutorado e uma de mestrado sobre terapia integrativa com o uso da planta.

Ele explica que os canais estão se abrindo para a popularização do uso do Viscum album. “No último Congresso de Viscum na Alemanha havia um trabalho da Drª. Ana Catarina e nosso com o uso desta medicação, como também no Congresso Mundial de Práticas Integrativas houve una apresentação de 20 minutos com o uso do Viscum injetável homeopático feito no Brasil no tratamento do linfoma”, confirma.

O que começou na zona Leste de SP quebrará barreiras em breve, isto porque o caso da Luna será apresentado na Áustria e já conquistou o interesse da Índia. Desconhecedora de limites, a história da Luna pode inspirar todo o mundo e reinventar a Medicina Veterinária. Abrir horizonte e trazer impactos positivos para muitos animais. Quem viver verá.

Colaboradores

[1] Adriana (Drika) Martins tem 53 anos, é professora e técnica em Nutrição. Ela tutora da Luna e da Maya e atua em políticas públicas voltadas para animais.

[2] Walter Pellizon Jr. tem 50 anos e tecnólogo em Mecânica. É tutor da Luna e da Maya.

[3] Daniel Baptista é bacharel em Medicina Veterinária pela Universidade Camilo Castelo Branco e atua como veterinário radiologista há 14 anos. É professor de cursos de aprimoramento, especialização e Aperfeiçoamento profissional na área de diagnóstico por imagens. É membro diplomado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária desde 2012 e foi Presidente da Associação Brasileira de Radiologia Veterinária entre 2013-2016. Atualmente Drº Daniel tem um centro de diagnósticos veterinários na Vila Olímpia, em SP.

[4] Renê Monteiro Passos é bacharel em Medicina Veterinária pela Universidade Metodista de SP há 12 anos. Ele possui especialização em Anestesiologia Veterinária e atua como diretor clínica do Hospital Veterinário Dº Hato, em SP.

[5] Sylvia Angélico é formada em Jornalismo e em Medicina Veterinária e, desde 2008, mantém com a fotógrafa, web designer e culinarista , Vanessa Fermino, o site Cachorro Verde. O projeto sempre teve por objetivo aproximar o público-geral de uma dieta para cães e gatos preparada em casa, com alimentos frescos e variados. De 2008 pra cá, elas já realizaram mais de 77 cursos sobre Alimentação Natural em 14 capitais brasileiras e Drª Sylvia já atendeu mais de 3.500 pacientes na atuação de nutrição. Para conhecer mais sobre o trabalho do Cachorro Verde acesse o site e página no Instagram.

[6] Katia Bizaroli é bacharel em Medicina Veterinária pela UniFeob São João da Boa Vista. É também anestesiologista, acupunturista, ozonioterapeuta e terapeuta floral.

[7] Aloisio Cunha é bacharel em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia. Possui especialização em Homeopatia, mestrado em Medicina Veterinária e doutorado em patologia ambiental e experimental. Atualmente Drº Aloísio é responsável pelo Ambulatório de Medicina Natural do Hospital Veterinário da UNIP e presidente da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Integrativa.

[8] Ana Catarina Viana Valle é bacharel em Medicina Veterinária pela União Pioneira de Integração Social – UPIS, tem especialização de Homeopatia, mestrado em Ciência Animal e é doutoranda em Ciências Genômicas e Biotecnologia pela UCB .

Nota da Redação: é importante destacar que todo e qualquer tratamento deve ser realizado com a supervisão de um médico veterinário competente e de confiança. Agradecemos imensamente a comprometimento e disponibilidade de todos os que colaboraram com esta matéria. O mundo é melhor porque vocês existem.

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