Por Fátima ChuEcco (Da Redação)
O Halloween ou Dia das Bruxas é comemorado em 31 de outubro e tem como principais ícones gatos pretos e morcegos. O Halloween tem origem em celebrações dos antigos povos celtas e é um evento ainda bastante forte e, inclusive, muito popular nos EUA, Irlanda, Reino Unido e Canadá. Embora hoje se “comemore” a data com festa, todos sabem que bruxas (ou mulheres assim consideradas) já sofreram perseguições implacáveis, especialmente na Europa em meados da Idade Média. Mas por que gatos e morcegos passaram a ser associados as bruxas?
Para contar como o gato, especialmente o de cor negra, acabou sendo tratado como animal maldito é preciso lembrar que ele começou a ser brutalmente assassinado muito antes do período conhecido como “Caça as Bruxas”, quando muitas mulheres foram queimadas vivas diante de uma plateia insana que vibrava com cada execução em praça pública. Os gatos foram decretados inimigos da humanidade pela Igreja Católica e não se sabe bem o motivo uma vez que na Bíblia não há nenhuma menção favorável ou negativa referente aos gatos. Eles simplesmente não são citados em nenhuma passagem bíblica.
O Papa Gregório IX, em 1232, fundou a Santa Inquisição que durante seis séculos perseguiria mulheres, homossexuais, judeus, ateus, gatos e seus admiradores. Ele afirmava que “o diabólico gato preto, cor do mal e da vergonha, havia caído das nuvens para a infelicidade dos homens”. A estratégia da Igreja Católica da época para atacar os celtas foi pregar que eles eram bruxos. Como os celtas costumavam viver isolados e rodeados de gatos, os animais foram associados as trevas, especialmente por terem hábitos noturnos. Para se ter uma ideia da barbárie cometida contra os gatos basta citar que foram emparedadaos vivos para garantir a solidez de casas, igrejas e castelos. Foram lançados do alto de muralhas e, como todos sabem, queimados vivos junto com as bruxas.
Heróis sem recompensa
Mas o extermínio dos gatos teve graves consequências. Entre 1347 e 1350 a Europa sofreu com a Peste Negra ou Bubônica. A bactéria Yersinia pestis residia na pulga do rato preto indiano que chegou à Europa por meio de embarcações. Como última alternativa de controle da doença os gatos foram readmitidos nas cidades e somente assim a epidemia teve fim. Uma missão tão fundamental poderia ter absolvido os felinos de novas perseguições, porém, mais uma vez a Igreja culpou os gatos pela peste e deu continuidade a uma dura perseguição.
Exatamente um século depois, em 1450, o assassinato, principalmente de mulheres, se intensificou a ponto de sinais como verrugas e sardas serem, para os católicos, indício de que as pessoas tinham pacto com o demônio. Mas não era só isso. Muitas dessas mulheres foram ganhando inimigos porque eram curandeiras. Elas conheciam muito bem ervas, atuavam como enfermeiras e parteiras. Obviamente, a classe médica que era majoritariamente masculina, não gostou da atuação delas. A partir disso criou-se uma histeria na comunidade e as bruxas passaram a ser odiadas por todos e, de quebra, também os gatos que, normalmente, conviviam com elas e já traziam um longo histórico de perseguição por parte da Igreja Católica.
Em 1484, outro Papa, Inocêncio VIII, novamente declarou ódio aos gatos e milhares de pessoas foram torturadas para confessar que atuavam junto a Satanás. Quando não confessavam eram queimadas vivas e se confessassem tinham a “misericórdia” de serem estranguladas antes de serem jogadas na fogueira. Para ser considerado um feiticeiro bastava ter um gato. O Dia de Todos os Santos passou a ser comemorado com o arremesso de sacos cheios de gatos vivos para dentro de fogueiras. Rituais com tortura de gatos foram também acrescentados as comemorações de São Vito e Páscoa. A Caça as Bruxas só teve fim por volta de 1750, ou seja, 300 anos depois.
Finalmente a Igreja liberta o gato
No século XVIII a Igreja Católica aboliu leis contra a feitiçaria e não mais pregou contra os gatos. O cardeal Richelieu, inclusive, teve muitos gatos, mas um deles, preto, era chamado de Lúcifer. E um dado interessante: Isaac Newton, que na época já gozava de prestígio, motivou a simpatia pelos felinos criando a portinhola, muito comum na na Europa para que os gatos pudessem entrar e sair das casas.
No século XIX são aprovadas na Inglaterra as primeiras leis para combater crueldade contra animais e criadas organizações em defesa dos bichos. De lá para cá admiradores dos felinos, muitos bem famosos, foram surgindo. Lord Byron escreveu “O gato possui a beleza sem a vaidade, a força sem a insolência, a coragem sem a ferocidade, todas as virtudes do homem sem os vícios”. Victor Hugo, Charles Baudelaire, Mark Twain, Pablo Neruda, Chopin, Liszt, Monet, Renoir, entre outros também se declararam amantes dos gatos. Leia mais.
Morcegos – mascotes das bruxas
Outro ícone do Halloween é o morcego negro. Assim como o gato, ele normalmente aparece em desenhos, histórias infantis, filmes e festas como mascote das bruxas. Fala-se ainda que nas porções mágicas das bruxas sempre havia “asa de morcego”. Mas é folclore. Quando as bruxas ganharam dimensão internacional, debruçadas sobre seus caldeirões para criarem poções com múltiplos poderes, adicionou-se a figura delas o transporte via vassoura, sapos, gatos pretos e morcegos ou corvos.
A razão do morcego ser inserido nesse universo de feitiçaria foi porque trata-se de um mamífero de hábitos noturnos, que vive em grutas e cavernas, locais associados, na Idade Média, a passagens para o inferno. Esses locais serviam também de refúgio para leprosos e doentes de pele que eram expulsos das cidades europeias. Acreditava-se que os morcegos eram demônios alados com dentes afiados. Assim eles foram aos poucos também sendo associados as bruxas.