29 de maio de 2011 à noite. Estava olhando as atualizações do facebook quando vi a postagem de um vídeo. Era mais um daqueles pedidos de socorro de abrigos com uma quantidade de cães muito acima do normal, sob o comando de uma colecionadora de animais que acha que ninguém no mundo cuida deles melhor que ela. Enfim… de qualquer forma disparei o vídeo.
(Conheça mais sobre o caso na ANDA)
Estava mostrando as condições do lugar e me chamou atenção um cão atropelado, com as duas patas traseiras quebradas. Comecei a ver as imagens do local e não aguentei… começou a descer muita água quente dos olhos. Parecia um cenário de pós-guerra. Um barraco (tipo favela mesmo) com muitos animais dentro, sem luz e pelo que o vídeo mostava, todos com sarna, alguns em estado terminal. Assisti ao video e ato contínuo mandei uma mensagem para o email de contato. Me explicaram que tudo estava sendo organizado pela S.A.V.A. e que iriam no próximo domingo. Já sabia o que faria no domingo seguinte. Não as conhecia pessoalmente, apenas pelo facebook.
No sábado, preparei todas as coisas que imaginava usar no local. Domingo pela manhã peguei estrada em direção ao Riacho Grande. Encontro com o pessoal, em sua maioria mulheres e partimos em direção ao local. Algumas instruções sobre a parte comportamental das pessoas do abrigo. Chegamos por volta de 10 horas e entramos. Com sinceridade, foi o que vi de pior em relação a abrigo de animais – e olha que participei em fevereiro do desenrolar do Abrigo de Tietê – mas ali estava pior. Conheci a Raquel, que em nada bateu com o perfil que, antecipadamente havia criado. Uma pessoa dedicada aos animais… Naquele dia, fizemos mais limpeza que outra coisa… O local já estava com o poço artesiano que a S.A.V.A. providenciou, pois ali não tinha água. A fossa séptica desmoronou e todas as fezes dos animais estavam sendo jogadas ao lado do barraco onde todos dormiam. No local tinha muito entulho e no mesmo dia iniciamos a queima de boa parte dele. Precisávamos de veterinários dispostos a passar o dia e passar todos os animais por consulta. Alguns foram retirados do local na primeira visita. Dois deles não resistiram. Terminamos o dia exaustos mas com o coração leve, já imaginando como seria o domingo seguinte.
Alguns contatos durante a semana e três veterinários da melhor qualidade (Dra Ana Claudia, Dra Andrea e Dr Tiago) já comprometidos com o mutirão. Domingo seguinte, mesma rotina… encontro, conversa e comboio a caminho. Choque inicial dos novatos e mãos à obra… consulta com todos os animais… identificados e medicados. Muito trabalho de limpeza, construção de uma fossa provisória e encanamento de esgoto. Aqui, todo mundo faz de tudo. Os cães, que já estavam sendo alimentados com ração há duas semanas, notamos a diferença no comportamento: eles começaram a brincar entre eles… correr pelo terreno que já estava sendo fechado com alambrado. Além da limpeza, já estava em andamento a obra do primeiro canil com espaço para armazenamento de ração, consulta veterinária e isolamento de cães com problemas. Ao lado desta construção, três canis com 2 x 4m (área coberta e protegida com solarium) piso frio e construído com blocos e alambrados. Tão logo esta parte termine, transferiremos os animais separando por tamanho, sexo e grau de comportamento. Construiremos também um espaço para a Raquel morar (sala, quarto, banheiro e cozinha) dentro de um espaço de 4 x 12m. A segunda etapa será a construção de 8 canis no mesmo estilo dos que já estão em andamento (num espaço de 6 x 12m construiremos 8 baias de 3 x 4m, com parte abrigada e solarium, piso frio e encanamento de esgoto com fossa séptica). Esta construção será em cima da área que no vídeo aparecem os barracos. Ficando pronto o espaço onde os veterinários trabalharão, iniciaremos as castrações. Todos os animais serão castrados.
Nesta etapa, já teremos devolvido boa parte da dignidade das pessoas e dos animais que lá estão. Além dos cães, tem aproximadamente 40 galinhas/galos que não são alimentos. Elas apenas comem os ovos. Tem também uma porca chamada Chicória que pesa aproximadamente 300kg. Estamos tentando algum adotante mas que tenhamos a certeza que não será para consumo. Enquanto não conseguimos, vamos melhorar as acomodações dela para que volte a andar e emagreça evitando problemas respiratórios que pode matá-la. Quanto às galinhas, estamos preparando uma área para isolá-las com espaço para dormir no coberto e área para ciscar.
Enfim, um processo demorado, mas viável. Tudo que estamos fazendo é puro voluntariado. Quando tudo estiver pronto, faremos toda a documentação para que o abrigo seja regularizado junto a Guarda Civil Ambiental de SBC. O local abrigará no máximo 40 animais. Todos terão dignidade e nada faltará. Sabemos que outros animais, principalmente atropelados serão recolhidos e não condenamos isto, mas os que forem possíveis doar, doaremos.
Para que este projeto termine e dentro das previsões, precisamos muito de ajuda, principalmente financeira. Não existe lugar para mover 80 animais e fechar o espaço. Ao contrário, precisamos deste espaço pronto para ajudar cada vez mais animais. Quem puder, colabore. Ajude a viabilizar um projeto onde o beneficiado é o animal.
S.A.V.A. – Bradesco – Agência 272 – Conta 151879-8 – CNPJ 07.419.196/0001-00
A todos os voluntários que, ao final do domingo se encontram na fila da balsa para bater papo, falar do que aconteceu durante aquele dia e já começam a projetar o domingo seguinte, os agradecimentos em nomes de todos os animais e de toda a comissão da S.A.V.A. e saibam que estamos fazendo a diferença para os que vivem ali.