Carismáticos moradores do litoral amazônico, baleias, golfinhos, botos e peixes-boi são o foco do trabalho do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia (Gemam) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), que, associado a parceiros como a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está acumulando informações valiosas sobre a existência e os fatores que ameaçam a conservação dessas espécies.
Coordenado pelo zoólogo José de Sousa e Silva Júnior (CZO/MPEG), o Gemam iniciou em 2011 dois novos projetos de pesquisa que incluem a realização de estudos, ampliação da coleção de mamíferos aquáticos e geração de instrumentos para conservação e educação ambiental. As pesquisas estão concentradas no arquipélago do Marajó e nos municípios de Algodoal e Curuçá, todos situados no litoral do Pará, mas a atuação do grupo engloba todo o litoral da Amazônia e parte do interior desta região.
O coordenador do Gemam também é parceiro do projeto “Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos”, também recentemente aprovado pelo Programa Petrobras Ambiental (PPA), e coordenado pela pesquisadora Míriam Marmontel do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), cujo objetivo geral é “propor e consolidar estratégias de conservação para os grandes vertebrados aquáticos amazônicos”.
Bicho D’água
As investigações na Área de Proteção Ambiental (APA) de Algodoal/Maiandeua e a costa leste da Ilha do Marajó terão continuidade no âmbito do projeto “Bicho D’água: Conservação Socioambiental”,gerenciado pela Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (FIDESA), e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental (PPA). Este foi um dos poucos projetos contemplados para a Amazônia na seleção de 2010 do PPA.
O projeto pretende aprimorar o conhecimento técnico-científico sobre os mamíferos aquáticos na região, com ênfase no boto-cinza (Sotalia guianensis), boto-vermelho (Inia geoffrensis), o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e o peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis). A meta dos pesquisadores é subsidiar a elaboração de medidas de conservação das espécies, com responsabilidade social e educação ambiental.
Segundo a doutoranda Renata Emin-Lima, pesquisadora do Gemam, “esse projeto também vai ser a linha de base para a coleta de material biológico e o aumento do conhecimento sobre os mamíferos aquáticos no estado do Pará”.
A construção de um eco-museu na APA de Algodoal é outra meta do projeto. A educação ambiental das comunidades será o ponto de partida para sensibilizar os moradores locais a respeito da necessidade de conservação da biodiversidade e riqueza ecológica que existe na região. Renata explica que “o grupo sempre pensou nos mamíferos aquáticos como bandeira da educação e conservação ambiental”.
Pequenos Cetáceos – Os impactos da pesca acidental sobre a população do boto-cinza na costa do Pará serão analisados pelo projeto “Pesquisa e Conservação de Pequenos Cetáceos no Litoral Amazônico”, que conta com o patrocínio da Vale e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa). Os estudos serão desenvolvidos pela Universidade Federal do Pará, o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e o Museu Goeldi.
Os pesquisadores farão monitoramentos de praias, caracterização das atividades de pesca, o cálculo de esforço de pesca mensal e sazonal, análises laboratoriais para determinação de idade e estágios de maturidade sexual, estudos sobre hábito alimentar dos botos-cinza, além de ações de educação ambiental. O Grupo organizará palestras, oficinas e ações em conjunto com as escolas e lideranças comunitárias, como também produzirá uma cartilha educativa para ser distribuída ao final do projeto nas comunidades estudadas.
Após compreender e avaliar os impactos da pesca, o projeto irá propor ações em resposta ao impacto da atividade pesqueira. Serão analisadas duas áreas do litoral paraense: costa leste da Ilha de Marajó, principalmente o município de Soure, e o estuário do rio Curuçá.
O que é o Gemam
Para investigar a megafauna na costa norte do Brasil surgiu, em 2006, o Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia. Os principais objetivos do grupo são: monitorar as praias e os portos pesqueiros da costa amazônica, analisar o impacto da pesca costeira sobre populações de boto-cinza no litoral do estado do Pará, e avaliar a presença de espécies ameaçadas nessas áreas, especialmente o peixe-boi-marinho e o peixe-boi-da-Amazônia.
Oficializado como um grupo de pesquisa do CNPq, o Gemam tem a participação de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URGS) e Universidade Federal do Pará (UFPA), além de parceiros eventuais, como o IDSM e o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). O grupo é composto por mais de 10 pesquisadores, entre consultores acadêmicos e equipe técnica, onde há cinco alunos de pós-graduação, três doutorandas e dois mestrandos.
Atualmente a equipe realiza estudos etnoecológicos e de conservação dos peixes-bois, pesquisa a eto-ecologia do boto-vermelho e as interações entre atividades de pesca e pequenos cetáceos. O grupo também desenvolve estudos anatômicos, genéticos e biogeográficos dos mamíferos aquáticos.
O Gemam participa de resgates de baleias, golfinhos e peixes-boi no litoral paraense, recolhe carcaças de animais mortos (atividade que propiciou em pouco tempo a formação de uma coleção científica em crescente expansão no acervo de mastozoologia do Goeldi); também estuda o comportamento dos botos-vermelhos e peixes-boi em seu ambiente natural, para obter mais informações sobre locais de maior ocorrência. Além disso, desenvolve atividades voltadas à educação ambiental.
Segundo o coordenador do grupo, José de Sousa e Silva Júnior, “a participação de um grande número de alunos de pós-graduação, alguns do próprio programa de zoologia do Museu e de outras instituições, demonstra a importância do projeto”. José, mais conhecido como Cazuza, acredita que “daqui a algum tempo a região terá uma série de doutores formados pelo grupo, além da produção bibliográfica que cresce a cada ano”.
Fonte: Agência Amazônia