O jornalista Michael Pollan tratou de algumas questões dos direitos e do bem-estar animal em The Omnivore Dilemma (O Dilema Onívoro), um best seller de 2006, e agora, em Eating Animals, (Comer Animais) o romancista Jonathan Safran Foer encara tarefa semelhante. Porque seu livro deve muito ao trabalho de Pollan, a Animal Liberation, de Peter Singer, e reportagens de diversos jornalistas famosos, a principal contribuição de Foer ao tema parece ser o uso de seus dotes literários – revelados nos romances Everything is Illuminated (Tudo é Iluminado) e Extremely Loud and Incredibly Close – para oferecer aos leitores descrições muito reais das linhas industriais de criação e abate de animais.
Foer escreve que a bioengenharia de galinhas (para produzir mais carne em menor prazo) e a superlotação dos locais de produção (cerca de 700 centímetros quadrados de espaço por animal) resultam em deformidades, danos aos olhos, cegueira, infecções bacterianas dos ossos, defeitos nas vértebras, paralisia, hemorragia interna, anemia, problemas nos tendões, deformações nas pernas e pescoços, doenças respiratórias e sistemas imunológicos debilitados. Ele afirma que os peixes criados em condições industriais sofrem de “presença abundante de piolhos marinhos, que prosperam devido à sujeira da água”, e que “criam lesões abertas e ocasionalmente devoram os ossos do rosto do peixe”. E alega que o gado nem sempre é abatido de forma eficiente antes de ser processado nos abatedouros, e que como resultado animais são “sangrados, esfolados e desmembrados enquanto ainda conscientes”.
Uma crônica sincera do envolvimento crescente do autor com os animais e o vegetarianismo, o livro mistura reportagem e pesquisa com comentários e reflexões. Ao longo do caminho, Foer nos conta que, aos nove anos, teve uma babá que lhe perguntou: “Você sabe que galinhas são só galinhas, não é?’ Também comenta sobre ter passado os primeiros 26 anos de sua vida “não gostando de animais”, considerando-os “incômodos, sujos, inabordavelmente estranhos, assustadoramente imprevisíveis e simplesmente desnecessários”, até que ele e a mulher adotaram um cachorrinho abandonado, George, e ele se tornou “um fã dos cachorros”.
Depois de dedicar quase três anos a pesquisas sobre a criação industrializada de animais, Foer diz que se tornou “um vegetariano dedicado, enquanto antes hesitava entre diversas normas dietéticas diferentes”.
“A mim parece simplesmente errado comer carne de porcos, ou alimentar uma família com ela”, ele escreve. “Provavelmente, é errado até mesmo sentar sem protestar na companhia de amigos que estejam comendo a carne de porcos, por mais difícil que pareça dizer alguma coisa a respeito. Os porcos claramente têm mentes brilhantes, e estão condenados de maneira igualmente clara a vidas miseráveis nas fazendas industrializadas. A analogia de um cachorro criado dentro de um armário é bastante precisa, se bem que seja ainda generosa demais. Os argumentos ambientais contra o consumo de carne são irrebatíveis e muito fortes.”
“Por motivos semelhantes, eu não comeria carnes de aves ou frutos do mar. Olhar para os olhos desses animais pode não induzir a mesma empatia que olhar para os olhos de um porco, mas é possível ver a mesma coisa se usarmos os olhos de nossas mentes”, ele acrescenta.
Embora seja difícil imaginar alguém que já tenha tido um animal de estimação – ou lido livros infantis sobre eles, ou estudado relatórios sobre as condições nas grandes fazendas de criação de animais e suas consequências ecológicas – decida defender a criação industrializada, o trabalho de Foer vai bem além disso.
Ele emprega o termo “atrocidades” para descrever as crueldades praticadas contra filhotes de perus e galinhas, e escreve que a cadeia de restaurantes KFC “pode ser considerada como a empresa que mais causou sofrimento no mundo, ao longo de toda a nossa História”. Em outra seção ele fala sobre “a vergonha” que sentiu, como turista norte-americano na Europa, quando “proliferaram as fotos sobre Abu Ghraib”, e discorre na sentença seguinte sobre “a vergonha por ser humano: a vergonha de saber que cerca de 20 das 35 espécies classificadas de hipocampo em todo o mundo estão ameaçadas de extinção porque são mortas ‘não intencionalmente’ durante o processo de produção de frutos do mar.”
Antecipando as objeções dos leitores, Foer escreve que as pessoas poderiam dizer que “os movimentos de justiça social nada têm a ver com a situação da criação industrializada de animais”, que “opressão humana e abusos contra animais são diferentes”. Mas ele acrescenta que, se tivermos essa opinião, estamos interpretando os legados do reverendo Martin Luther King e de Cesar Chavez de maneira “muito estreita, caso suponhamos com antecedência que não se deve falar contra a opressão nas fazendas industrializadas.”
Com informações de Terra