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Expointer: não nos encontraremos lá, ok?

3 de setembro de 2009
9 min. de leitura
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Algumas observações sobre a Expointer:

Os ingressos e preços absurdos dos produtos comprados e consumidos lá dentro podem nos dar uma ideia do faturamento da Expointer. Os investimentos pesados do Governo do Estado e Federal, os preços cobrados no grito, dependendo da cara do freguês, nos mostram que participar da Expointer é pagar e bem caro para que alguns ganhem muito dinheiro. O investimento do governo nada mais é do que dinheiro do povo. Há agora a invenção de um novo imposto para a saúde, pois alegam haver falta de dinheiro nos cofres públicos, mas para certos setores da sociedade há sempre investimento.

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Os animais de consumo não fazem parte do respeito humano. O ser humano trata estes animais como coisas e eles não são coisas: sentem dor e estresse por viver de forma miserável. Há um mito de que animais da Expointer são bem tratados. Eles sofrem estresse de transporte e pela visita de milhares de pessoas e alguns estarão lá para servir de carne ou objetos de jogos culturais (rodeios e laços).

Não há sustentabilidade na pecuária. A agricultura pode ser sustentável, mas a criação de animais é uma das maiores contribuintes para o aumento do efeito estufa e aquecimento global causado pelos desmatamentos e usos desenfreados de mananciais de água. Animais consomem plantações imensas de cereais que deveriam ser destinados à espécie humana, contribuindo para a fome e o desgaste do solo. Há uma casa sustentável no evento, que é um bom exemplo de sustentabilidade, mas que ocorre num evento que se baseia na pecuária, que não é sustentável.

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No Rio Grande do Sul e no país há milhares de cavalos esquálidos que passam fome e são explorados como escravos de carga em carroças, pilotadas por menores e pessoas muitas vezes despreparadas para o trânsito das cidades. Estes animais caem no esquecimento da população, não são vistos ou, pior, são vistos com indiferença pelas mesmas pessoas que irão ver os belos cavalos da feira. Por essa razão, não devemos frequentar um evento que é também frequentado pessoas que não estão ali para além de ver uma “coisa” bonita. Para quem realiza este evento e para seus frequentadores, os animais são coisas a serem admiradas. A comida deste evento nem sempre é saudável e, embora seja considerada ‘típica’, é baseada em produtos de origem animal. Não são incentivadas (por motivos óbvios) as alternativas de alimentação vegetariana, que existem em diversas culturas ou que podem ser inventadas como alternativas.

A ideia de “homem do campo” há muito tem sido distorcida pela sociedade em geral, especialmente por quem não é do campo – caso da maioria dos frequentadores do evento. O gaúcho é idolatrado, mas esquece-se de que, na verdade, a maior parte dos homens do campo no passado (e ainda hoje) era explorada como mão de obra barata. E tem muitos que ainda compram briga, defendendo patrão. Estes são os que se fantasiam de pilchados e usam vestidos nada condizentes com nossa cultura atual e mesmo com a do passado. Basta um pouquinho de pesquisa e observação para averiguar essa realidade.

Os produtores de leite, segundo informação de veterinários da área, recebem por litros e não pela qualidade do leite. E, em épocas de entressafra, é onde encontramos os piores leites, falando de qualidade e de preço. O custo é tão alto que a embalagem acaba custando mais que o leite.

Descobrimos que muitos animais exóticos são usados como coisas, por exemplo: as raças de aves criadas para ornamentação. E muitos animais comprados como exóticos são abandonados posteriormente (por pessoas consumistas e irresponsáveis) causando prejuízos ao ambiente local e sofrimento ao animal. Esta prática jamais deveria ser incentivada.

A feira Expointer é o maior exemplo de como a humanidade trata os animais e não deve ser lugar de aprendizado para crianças. Escolas e professores que apoiam esta ideéia estão equivocados quanto aos valores que estão mostrando aos seus alunos. Professores e alunos que muitas vezes só estão lá para passear reforçam a ideia de que os animais não merecem respeito e sim deboche, muitas vezes incentivadas pelo próprio professor. No colégio em que trabalhei durante 6 anos, foi decidido não visitar o evento, por essa razão.

Deveríamos ensinar às crianças que os animais lá expostos estarão estressados de tanto receber visitantes e que depois ainda serão mortos. Que alguns terão sua pele usada em produtos de couro e peles, não respeitando o direito básico à vida. Não podemos reforçar a ideia errada de que os animais existem apenas para servir à gula desnecessária e cruel.

Eventos desse tipo não são de todo negativos, lá podemos encontrar muitas coisas boas e bons projetos ligados à agricultura, mas a exposição de animais na feira é algo lamentável e é uma pena que tão poucas pessoas pensem de forma crítica sobre esta questão.

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