Por Carol Keppler (da Redação)
O governo australiano conseguiu, mais uma vez, transformar um grande massacre em uma prática aceitável, comum e até positiva. A desculpa é que há uma “praga” no país: 1 milhão de camelos que “invadem banheiros das casas em busca de água, quebram tubulações nas lavouras, derrubam cercas, comem a grama nos jardins e os arbustos no campo, acelerando a desertificação”.
Para que os “desagradáveis” animais não incomodem as pessoas – apenas porque precisam sobreviver -, uma campanha oficial foi lançada no fim de julho para eliminar 650.000 inocentes. O governo se propôs a gastar 16 milhões de dólares com as despesas dos caçadores dispostos a tirar o problema do caminho.
Os mamíferos foram importados da Arábia Saudita em 1840. Explorados como transporte, muitos fugiram para o outback, onde, sem predadores e barreiras naturais, acabaram se multiplicando e se convertendo na chamada praga atual.
A matança chega a ser considerada por alguns uma atitude ponderada que ajuda na preservação dos animais silvestres, como se não houvessem outras maneiras de fazê-lo. No entanto, na época do lançamento da campanha, a âncora do canal CNBC de notícias financeiras dos EUA, Erin Burnett, chegou a chamar o primeiro ministro australiano, Kevin Rudd, de serial killer (veja a matéria publicada na ANDA). Outro analista financeiro do canal, Jim Cramer, disse que Rudd é culpado pelo “camelocídio”, o que mostra que muitas pessoas discordam da atitude tirana do governo australiano.
Agora, o abate começou. O americano Mike Mistelske que já assassinou elefantes e cabritos selvagens, viajou para a Austrália especialmente para matar camelos. O caçador passou dois dias no sertão australiano disparando nos bandos junto a um grupo de outros sádicos. Vangloriado no país, Mike é o retrato da frieza e da crueldade.
É provável que, assim como as pessoas que precisam conviver com os animais, os camelos também não estejam muito confortáveis. Fora de seu habitat natural, se são obrigados a “invadir banheiros em busca de água” não devem ter muitos recursos à disposição. Nenhum deles decidiu mudar-se para a Austrália. Deveriam ser tratados com respeito e, se causam problemas, fazerem parte de uma logística específica em busca da solução.
Mas é trabalhoso pensar e adotar novos hábitos ou estudar maneiras éticas de solucionar impasses. A solução mais imediata (e ignorante) é matar. E as autoridades australianas parecem achar fácil resolver problemas desta maneira: o massacre de camelos não é o único autorizado e apoiado no país. 56 espécies de animais, exóticos em sua maioria, são considerados pragas no local e contam com uma época do ano especial para serem perseguidos e assassinados.