Gilvan Roberto de Souza Dias, de 58 anos, morava sozinho em uma casa localizada na rua Comendador Nohme Salomão, no bairro Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte. Apesar dos problemas psiquiátricos e de não ter condições financeiras, a vontade de ajudar os animais levou o homem a recolher todos os cães abandonados que encontrava, alimentando-os com doações de uma casa de ração. Com quase 30 animais, após brigas com vizinhos por conta do barulho e mal cheiro da residência, Dias acabou esfaqueado duas vezes na última sexta-feira (13).
A irmã dele, Rosilene Dias, de 52, diz que o irmão quase morreu e agora está prestes a receber alta do Hospital Odilon Behrens. “Ele não pode saber que os animais estão passando fome, se não adoece e vai querer voltar para a casa. O médico já disse que é melhor ele ficar morando com a família, ou vai acabar morrendo”, disse a mulher.
Ela afirma ter comprado um saco de 15 kg com o pouco dinheiro que tinha, mas o alimento não foi suficiente por conta da quantidade de animais. “Liguei para a Prefeitura, para a Zoonoses, e eles falam que só catam animais na rua. Estamos desesperados, sem saber o que fazer. Alguns já estão até praticando canibalismo, comento os outros”, garantiu a mulher.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) foi procurada por O TEMPO e informou, por meio de uma nota, que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) tem como atribuição fundamental prevenir e controlar doenças, de acordo com as normas técnicas recomendadas pelo Ministério da Saúde. O órgão recolhe animais em situação de rua por meio de ações de rotina e também por meio de demanda espontânea da população, pelos telefones 3277-7411 e 3277-7413 e pelo e-mail [email protected]. Também se pode ir à sede do centro, na rua Edna Quintel, 173 – São Bernardo.
Entretanto, conforme lei municipal (Portaria 020/2008), “o CCZ não tem autorização para recolher animais que estão em propriedade particular; exceto cães que, comprovadamente, representam risco à saúde da população, como nos casos de cães com leishmaniose visceral. Para isso, existe um Programa Municipal estruturado, que define as áreas de risco nas quais existe uma rotina de coleta de sangue dos cães, para diagnósticos. O trabalho também ocorre em visitas demandadas por agendamento da população por meio do SAC”, diz a nota. Ainda segundo a SMSA, caso seja solicitado o CCZ pode realizar exames de leishmaniose e de castração nos animais.
Protetores
Após os familiares do dono da casa procurarem ajuda com alguns protetores de animais, o caso foi compartilhado nas redes sociais e um grupo de pessoas se disponibilizou a auxiliá-los. Luíza Lobato, de 54 anos, que trabalha com transporte de animais, acabou tomando a responsabilidade para si, pegando inclusive a chave da residência.
“Ontem (quarta-feira) pela manhã passei na casa para verificar a denúncia e foi devastador. Parte dos animais estavam dentro da casa e alguns do lado de fora. Joguei ração pelo portão e foi uma cena horrível. Os animais brigando por causa de comida, desesperados, tentando puxar os grãos que caíram do lado de fora com a pata”, lembrou a protetora.
Após constatar a péssima situação dos animais, ela “recrutou” um grupo de protetores, que fizeram um mutirão de limpeza na casa nesta quinta-feira (19). Ao abrir o portão, alguns animais fugiram desesperados, após dias de fome e sede, sendo que cerca de 20 animais, além dos filhotes, ainda continuam lá.
“Limpamos as fezes e urinas, que estavam em todas as partes. Levamos ração, demos vermífugo para todos e levamos os filhotes que estavam lá para um local mais apropriado. Agora vamos fazer exames em todos eles, castrar com um preço mais acessível e vacinar. Várias fêmeas estão grávidas, pois ficavam todos misturados”, contou Lobato.
O objetivo é tratar de todos os animais e castrá-los para, somente então, disponibilizá-los para adoção com famílias responsáveis. “São animais muito dóceis, que ficam à procura de carinho, lambendo quando chegamos. Estavam famintos. Tinha um pequenininho que estava trancado em um quarto e desde quando chegamos até a hora que saímos ele não tinha parado de comer”, detalhou.
Com mais de 50 animais em sua casa, a protetora também não tem condições de arcar com tudo que será feitos pelos animais. “Conseguimos a castração à baixo custo, vacina também, mas as doações em dinheiro para arcar com isso e rações serão muito bem vindas”, afirmou. Ainda segundo ela, uma campanha por doações também será feita para auxiliar uma idosa, moradora de Santa Luzia, que ajuda mais de 80 cães.
Fonte: O Tempo