(da Redação)
São Francisco é uma cidade americana famosa por concentrar defensores de animais. Foi uma das primeiras cidades do país, seguida por Boulder, Berkeley, e Amherst, a alterar legalmente a nomenclatura dos chamados “proprietários de animais” para “tutores”. Na região, os cães de companhia já ultrapassam em número as crianças, e foi o local onde surgiu o movimento de abrigos não letais – que não induzem a morte de animais resgatados.
Não é de se surpreender que a culinária vegetariana faça parte da cultura da cidade de maneira significativa. Mesmo as redes de fast food que atendem a área estão começando a se mover na direção da alimentação livre de crueldade. Um exemplo é o que aconteceu há duas semanas, quando a rede Chipotle anunciou a introdução de uma opção vegana. A Chipotle é a terceira maior companhia de restaurantes, e alcançou um crescimento explosivo nos últimos anos, superando até mesmo gigantes do setor como o Mc Donald’s, seu antigo proprietário. De acordo com a reportagem, o prato vegano é anunciado como o primeiro passo de um caminho em direção à alimentação ética, sem ingredientes animais.
No entanto, a rede é alvo de protestos de ativistas de direitos animais. A ONG Direct Action Everywhere está conduzindo a campanha internacional “It’s not Food, It’s Violence” (Não é comida, é violência) contra a Chipotle. As informações são da Beyond Chron.
A empresa é um dos maiores exemplos do que os ativistas descrevem como “humane washing”, que consiste em tentativas de disfarçar a realidade brutal da agropecuária como “humana”, “responsável”, ou mesmo “compassiva”. O site da empresa, por exemplo, é cheio de belas fotos de animais felizes em pastos verdes (muitas vezes filhotes, para maximizar a adesão popular). A companhia distingue seus produtos animais dos concorrentes com o apelido “responsavelmente criado” – e cobra um prêmio elevado para a distinção, que são os altos preços. O diretor Steve Ells fez uma promessa pública de “gerir o negócio de uma forma que não explore os animais”.
Mas mesmo publicações da indústria de carne têm notado que, nas fazendas que servem à empresa, os animais enlouquecem devido ao confinamento em gaiolas escuras e aterrorizantes. A Chipotle utiliza uma linguagem de marketing – como “natural” – que não tem nenhum significado regulamentar e não corresponde à realidade. E, como o criador de porcos Bob Comis aponta, as práticas que são tidas como padrão mesmo nas “fazendas humanitárias” envolvem maus-tratos brutais aos animais. Devido a essas discrepâncias, advogados que atuam na área de defesa ao consumidor, sem conexão com o movimento pelos direitos animais, entraram com uma ação questionando as práticas enganosas da Chipotle.
De acordo com a reportagem, a fraude da Chipotle é problemática pois reforça a “mentira violenta” que as indústrias e a cultura dominante tentam empurrar para o mercado consumidor há muito tempo: que os animais são apenas objetos que devem ser usados, mortos e transformados em alimento, mas “com responsabilidade”. A questão da “humane washing” levantada por esse caso só traz a necessidade de revisão desta cultura já instaurada, apesar de, contraditoriamente, já se fazer perceber uma crescente compreensão no senso comum de que os animais são seres que merecem o mesmo respeito e dignidade que as pessoas.
Outro ponto a se observar com este exemplo da Chipotle é que a tendência das redes de restaurantes que estão criando, sobretudo nos Estados Unidos, opções vegetarianas e veganas, pode representar uma forma de encobrir ao público o fato de que essas empresas ainda vendem carne na maioria de suas opções, e gerar uma falsa ideia de que estão se tornando mais éticas ou preocupadas com os animais.