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Pontes verdes ganham espaço no Brasil e garantem travessia dos animais em estradas

7 de fevereiro de 2022
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Ponte verde cruza três pistas de rodovia na Holanda. Foto: Henri Cormont

As estradas são barreiras para animais silvestres, que acabam morrendo atropelados durante as tentativas de travessia. Pensando em proteger as espécies, pontes verdes sobre rodovias têm sido instaladas e ganhando cada vez mais espaço no Brasil. As primeiras duas estruturas foram anunciadas em 2017. Depois, ao menos outras duas pontes de preservação da fauna foram erguidas.

Recentes no país, viadutos vegetados já são bem usados nos EUA, no Canadá e na Europa. São opção para reduzir impactos das obras na natureza.

Especialistas dizem que as estruturas têm alta efetividade, mas a eficiência máxima se dá no longo prazo. Pelo alto custo, em geral na casa dos milhões de reais, devem ser usados após análise ecológica e de custo-benefício. As pontes verdes já criadas no Brasil estão no Pará, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O objetivo é conexão entre áreas divididas pela estrada ou ferrovia. Buscam oferecer passagem segura aos animais do entorno, além de evitar acidentes.

“Cada metro de estrada, cada quilômetro de rodovia/ferrovia implantado gera um monte de impactos em diferentes níveis”, destaca o ecólogo Alex Bager, em entrevista ao Época Negócios.

Ele é coordenador do Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas da Universidade Federal de Lavras (CBEE-UFLA) e sócio da startup Environment. Conforme estudo de Bager e colegas do CBEE, em média, 475 milhões de animais selvagens são atropelados todo ano no País – cerca de 90% bichos de pequeno porte, como pássaros e sapos.

De acordo com o Época Negócios, no estado de São Paulo, de janeiro de 2019 a junho de 2021, foram mais de 75 mil ocorrências. Entre animais silvestres, segundo registros da Companhia Ambiental do Estado (Cetesb), as vítimas mais comuns são capivaras, tatus e gambás. Para os domésticos, cães, gatos e cavalos.

Há ainda o efeito de barreira. “Uma rodovia, ao cortar o hábitat da espécie, impede movimentos para reproduzir, se alimentar e conseguir refúgio”, diz Diego Varela, do Instituto de Biologia Subtropical da Universidade Nacional de Misiones (Argentina), ao Época Negócios. Especialistas ouvidos pelo Estadão dizem que a escolha pela ponte verde deve envolver análise ecológica e de custo-benefício, além de definir as espécies-foco.

“Ela (a ponte verde) pode funcionar para 20, 30, 50 espécies. Agora, vai construir com foco em uma, duas, três, que são as que se quer proteger”, afirma Bager. A estrutura pode ser com placas de alumínio ou concreto, por exemplo. Quando pronta, é preciso criar condições para a vegetação crescer. O ideal é replicar o ecossistema local.

Pelo mundo, há pontes de tipo desértico e até bosques (Mata Atlântica). A eficiência aumenta com o tempo, para que a vegetação se desenvolva e os animais se adaptem. “No Canadá, estudos mostram que os ursos começaram a usar os ecodutos após dez anos”, diz Varela, que monitora um ecoviaduto em Misiones, pioneiro na América Latina em 2008.

Brasil

Segundo a reportagem do Época Negócios, a primeira experiência no Brasil foi no Pará, que inaugurou, em 2017, duas travessias vegetadas sobre o ramal ferroviário S11D, da mineradora Vale. A ferrovia corta a Floresta Nacional de Carajás. A criação de medidas de mitigação foi determinada pelo Ibama. Os viadutos têm espécies arbustivas e de pequeno porte, além de cercas com arame galvanizado de 2,2 m ao longo de 100 metros de extensão, para induzir o uso da fauna local.

Em São Paulo, a ponte verde sobre a Rodovia dos Tamoios recebeu as primeiras mudas de plantas nativas em agosto de 2018. De vegetação rasteira, ficou apta para a passagem de animais em outubro do ano seguinte. De lá para cá, já foi registrada a travessia de lobos-guará, cachorros-do-mato e jaguatiricas, conforme a Concessionária Tamoios.

A empresa diz que a estrutura promove o “fortalecimento da biodiversidade, já que permite a passagem de animais de um fragmento para outro, possibilitando que grupos diferentes se misturem, além da transferência de sementes nas diferentes áreas”. No km 25,8, em Paraibuna, são 10 metros de largura por 50 de comprimento.

Conforme a concessionária, para a obra de duplicação do trecho da Serra, além do viaduto vegetado, foram instaladas outras dez passagens subterrâneas. No km 70,4, há outra passagem aérea de fauna. Essa, porém, não é vegetada, mas sim uma passarela formada por madeira, cordas e cabos de aço, ligada a árvores do entorno para a travessia de espécies arborícolas, principalmente de macacos.

Em 2020, o km 218 da BR-101, em Silva Jardim (RJ) recebeu uma dessas pontes, que liga a Reserva Biológica de Poço das Antas com outra faixa de Mata Atlântica (na fazenda Igarapé), para a travessia segura do mico-leão-dourado, ameaçado de extinção. Ainda é preciso que a vegetação aplicada, diz a concessionária Arteris Fluminense, tenha o crescimento consolidado para a plena utilização pelas espécies da região.

A empresa afirma que, além do viaduto vegetado, nos 72 quilômetros da BR-101 foram criadas “17 passagens subterrâneas, 10 estruturas aéreas (conhecidas como copa a copa), 9 passagens sob as pontes e mais de 30 km de cercas para condução de fauna”. Em 2020, foi prevista ponte verde na duplicação da BR-280 em Santa Catarina, entre Guaramirim e Schroeder, conforme divulgado pelo governo federal à época. Não foi informado ao Estadão o estágio atual do projeto.

 

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