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Apenas 100 rinocerontes-de-samatra vivem livres na natureza

21 de agosto de 2015
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Um rinoceronte-de-Samatra Rasmus Gren Havmøller
Um rinoceronte-de-Samatra Rasmus Gren Havmøller

O mapa da distribuição histórica do rinoceronte-de-samatra (Dicerorhinus sumatrensis) no Sudeste da Ásia transporta-nos para outro mundo. O habitat deste herbívoro começava no Butão, atravessava a ponta Nordeste da Índia e vinha por aí abaixo: Birmânia, Tailândia, algumas bolsas no Laos, no Camboja e no Vietname, Malásia continental e nas ilhas de Samatra (da Indonésia) e do Bornéu (dividido entre a Malásia, a Indonésia e Brunei).
Hoje, resta cerca de uma centena destes animais em Samatra, ainda por cima divididos em três populações; há pouquíssimos no Bornéu, na parte da Indonésia; e nove em jardins zoológicos no mundo. Na natureza, as populações de rinoceronte-de-samatra na Malásia são agora consideradas extintas, avança o estudo de uma equipa internacional de cientistas, liderado por Rasmus Gren Havmøller, do Museu de História Natural da Dinamarca, em Copenhaga, publicado na revista Oryx.
Para salvar a espécie da extinção, a equipa defende uma série de medidas, a mais importante passa por considerar as pequenas populações como uma única população e, nesse sentido, tentar fazer cruzamentos entre animais desta única população.
“O principal problema atual é que os rinocerontes-de-samatra estão demasiado longe entre si e raramente se encontram para se reproduzirem”, explica ao PÚBLICO Rasmus Gren Havmøller, estudante de doutoramento, que está também a investigar a ecologia e a abundância de leopardos em montanhas na Tanzânia. Desde 2010 que este ecologista trabalha com os rinocerontes-de-samatra. “O que é agora essencial é que o Governo da Indonésia adopte a estratégia de aproximar os rinocerontes que restam, para maximizar as oportunidades de reprodução na natureza.”
Há várias espécies e subespécies de rinocerontes que já se extinguiram no Sudeste asiático e em África. A caça, por causa dos cornos usados na medicina tradicional asiática, e a destruição de habitat estão na origem do desaparecimento destes animais emblemáticos. Neste momento, a espécie do Sudeste asiático é tão rara que mais de metade das fêmeas capturadas têm doenças no seu sistema reprodutivo, porque, ao longo da vida, não tiveram oportunidade de ficarem grávidas. Estas doenças tornam-nas inférteis, dificultando ainda mais a salvação da espécie.
No artigo, a equipa de cientistas recolheu a informação mais completa e recente sobre o estado das diferentes populações de rinoceronte-de-samatra. Foi assim que concluíram que este animal desapareceu das florestas da Malásia, tal como já tinha acontecido nos outros países.
Ainda não foi avaliado o impacto desta perda nos ecossistemas das florestas. “Não há dúvida de que o rinoceronte-de-samatra espalha um grande número de sementes de frutas e plantas que come, mas o efeito do seu desaparecimento ainda não foi estudado”, diz Rasmus Gren Havmøller. “Penso que se o protegermos e se protegermos o habitat onde vive, vamos salvar muitas outras espécies, como elefantes, orangotangos, tigres, tapires, calaus, entre outros.”
Para isso, segundo o artigo, será necessário estudar em pormenor a centena de rinocerontes que ainda restam na natureza, colocá-los em zonas naturais protegidas, fazer uma gestão unificada dessas zonas, transportando os animais de um lado para outro para otimizar a sua reprodução, e continuar a apostar na reprodução in vitro para os animais que estão em cativeiro.
Rasmus Gren Havmøller acredita que é possível salvar esta espécie, tal como já aconteceu com o rinoceronte-indiano, que chegou a ter menos de 200 animais e hoje existem mais de 3300. Mas não será uma tarefa fácil: “Há a possibilidade de salvar os rinocerontes, mas não levará apenas cinco a dez anos, vai demorar muito mais do que isso.”
*Esta notícia foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores.
Fonte: Público PT

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