Entre 2018 e 2021, a população de caranguejos das neves ao longo da costa do Alasca diminuiu drasticamente, perdendo cerca de 10 bilhões de indivíduos. A ausência foi sentida pela população local de pescadores, que depende desses animais para obter renda. A mortandade sem precedentes levou o Alasca a cancelar a coleta de caranguejos das neves no leste do mar de Bering nos últimos dois anos.
Cientistas têm estudado o fenômeno desde que ele foi notado, e agora apontam que os caranguejos provavelmente morreram de fome como consequência de intensas ondas de calor marinhas em 2018 e 2019, conforme relatam em estudo publicado na revista Science. Outros fatores também contribuíram para que os animais passassem fome, incluindo uma população excepcionalmente grande que acirrou a disputa por comida em 2018.
“É um desastre pesqueiro no verdadeiro sentido da palavra”, diz o coautor do estudo Cody Szuwalski, biólogo da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), ao portal ScienceNews.
Os caranguejos da neve são acostumados com as águas frias do Mar de Bering, cuja temperatura normalmente fica em menos de 3ºC abaixo da superfície. Embora eles possam sobreviver em condições mais quentes, eles devem aumentar a quantidade de calorias que consomem à medida que a temperatura da água aumenta.
Por causa disso, durante as ondas de calor do Mar de Bering de 2018 e 2019, os caranguejos precisaram encontrar mais comida para sobreviver. Ao mesmo tempo, também enfrentavam o aumento da concorrência por alimentos devido a uma explosão populacional vivida em 2018. Não havia comida suficiente para satisfazer as exigências desta população maior e mais faminta, e muitos deles morreram de fome, dizem os cientistas.
Esta teoria é ainda apoiada pelo fato de os caranguejos capturados após o início da onda de calor terem corpos menores do que os capturados nos anos anteriores. “De 2017 a 2018, as calorias necessárias quadruplicaram”, disse Szuwalski, ressaltando que as populações de salmão, aves marinhas e focas também diminuíram nesse período.
“Estamos testemunhando um número cada vez maior de grandes incidentes associados a temperaturas extremas”, disse Christopher Harley, zoólogo da Universidade da Colúmbia Britânica, que não esteve envolvido na nova investigação. “A lista de espécies e ecossistemas fortemente impactados não para de crescer.”
Enquanto isso, algumas criaturas tiveram aumento populacional devido às temperaturas mais altas da água, incluindo o peixe-carvão, sugerindo que algumas espécies podem adaptar-se mais rapidamente a grandes mudanças ambientais do que outras.
No entanto, se as temperaturas dos oceanos continuarem a subir devido às mudanças climáticas causadas pelo homem, a composição geral das espécies que vivem no Mar de Bering provavelmente será muito diferente da que é hoje, provavelmente levando a desequilíbrios biológicos, apontam os pesquisadores.
Fonte: Um Só Planeta