O Instituto Royal encerrou as atividades em São Roque (SP). A informação foi divulgada em comunicado enviado nesta quarta-feira (6) pela assessoria de imprensa do laboratório. “Em assembleia geral extraordinária realizada entre seus associados, o Instituto Royal, por meio de seu Conselho Diretor, vem a público informar a decisão de interromper definitivamente as atividades de pesquisa em animais, realizadas em seu laboratório de São Roque”, diz a nota.
O laboratório foi invadido por um grupo de ativistas na madrugada do dia 18 de outubro, do qual foram resgatados todos os cachorros da raça Beagle e alguns coelhos que eram usados em testes. Os ativistas acusavam a empresa de maus-tratos aos animais, devido às experimentações que ocorriam dentro dos laboratórios da empresa.
A ação dos ativistas suscitou debates sobre o uso de animais em todo o país
No comunicado à imprensa, o laboratório atribui o encerramento das atividades às “elevadas e irreparáveis perdas” que sofreu com a ação dos ativistas, que significou “a perda de quase todo o plantel de animais e de aproximadamente uma década de pesquisas”. A empresa também atribui a decisão à crise na segurança, que coloca “em risco permanente a integridade física e moral de seus colaboradores”.
O comunicado informa que a decisão de encerrar as atividades não afeta a unidade Genotox, que tem sede em Porto Alegre.
Segundo o laboratório, os funcionários já foram comunicados sobre o desligamento. O laboratório empregava 85 pessoas, entre médicos veterinários, farmacêuticos, biólogos, e biomédicos.
Criado em 2005, o Instituto Royal é uma organização de sociedade civil de interesse público (Oscip) e está credenciado junto ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), responsável por regulamentar o uso de animais em pesquisas no país, entretanto, em matéria publicada pela ANDA, o próprio Concea admitiu que pode descredenciar 52% dos institutos de pesquisa no Brasil.
Segue abaixo a nota do Instituto Royal na íntegra:
“Em assembleia geral extraordinária realizada entre seus associados, o Instituto Royal, por meio de seu Conselho Diretor, vem a público informar a decisão de interromper definitivamente as atividades de pesquisa em animais, realizadas em seu laboratório de São Roque.
Tendo em vista as elevadas e irreparáveis perdas e os danos sofridos em decorrência da invasão realizada no último dia 18 – com a perda de quase todo o plantel de animais e de aproximadamente uma década de pesquisas -, bem como a persistente instabilidade e a crise de segurança que colocam em risco permanente a integridade física e moral de seus colaboradores, os associados concluíram que está irremediavelmente comprometida a atuação do Instituto Royal para dar continuidade à realização pesquisa científica e testes mediante utilização de animais.
Por este motivo, o Instituto decidiu encerrar suas atividades na unidade de São Roque.
A interrupção acarretará o desligamento de funcionários, todos já comunicados da decisão. Mantém-se, por ora, o Comitê de Ética formado por colaboradores do laboratório, que conta com veterinários, biólogos e membros da Sociedade Protetora dos Animais, conforme a legislação vigente. A decisão, por ora, não afetará a unidade Genotox, de Porto Alegre, onde não se faz experimentação animal.
Com o intuito de preservar a integridade dos animais remanescentes que ainda estão sob seus cuidados, o Instituto Royal tomará as providências necessárias junto aos órgãos regulatórios competentes, para assegurar que continuem sendo dados a eles tratamento e destinação adequados.
Desde 2005, o Instituto Royal realiza testes pré-clínicos com vistas ao desenvolvimento de medicamentos para o tratamento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão, epilepsia entre outros. Com essa decisão, interrompe-se o trabalho do único Instituto laboratorial do Brasil capacitado e regulamentado para exercer este tipo de pesquisa. A partir de agora, qualquer empresa interessada na realização de testes para registro de medicamento será obrigada a realizar suas pesquisas fora do País, até que outro laboratório seja credenciado pelo CONCEA (Conselho Nacional de Controle e Experimentação Animal) para essa atividade.
Todos os testes desenvolvidos no Instituto Royal atendiam aos princípios de boas práticas de laboratório (BLP) e também às normas para cuidados dos animais do CONCEA, estando também regulamentadas por protocolos internacionais, tais como o da European Medicines Agency e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
O Instituto Royal acredita que as ações violentas ocorridas no dia 18 de outubro são resultado de dois fatores complementares: as inverdades disseminadas de forma irresponsável – e por vezes oportunista – associadas à falta de informação pré-existente. As consequências dos atos advindos dessa equação resultaram não somente em prejuízo para a instituição, que fecha suas portas, mas também e mais gravemente para a sociedade brasileira, que assiste à inutilização de importantes pesquisas em benefício da vida humana.
É inquestionável o direito de todo cidadão ou instituição expressar suas opiniões e propor à sociedade brasileira o debate sobre temas de interesse público. Não se pode anuir, contudo, com as atitudes de violência que cercaram os episódios envolvendo o Instituto Royal. Uma sociedade organizada e civilizada não pode aceitar que a pesquisa científica seja constrangida por grupos de opinião que preferem o uso da força e da violência em detrimento das vias institucionais e democráticas para travar debates.
O ambiente de insegurança gerou – e continuará gerando – prejuízos para a ciência brasileira, na medida em que não assegura aos cientistas um ambiente institucional adequado para o desenvolvimento de pesquisas cujo objetivo, em última análise, é o de salvar vidas. A consequência deste cenário de hostilidade é o desestímulo à fixação e permanência das melhores mentes científicas em nosso País.
O prejuízo causado ao Instituto Royal não é mensurável. Mas é certo que o Brasil inteiro perde muito com este episódio, lamentavelmente.”
Com informações do G1
Nota da Redação: Esta é sem dúvida uma vitória importantíssima na luta pelos direitos animais. O encerramento das atividades desta unidade do Instituto Royal representa a força da luta de ativistas durante semanas pelo Brasil todo, não somente nas ruas, com manifestações, mas também nas câmaras municipais e no Senado, por meio das reivindicações para que fosse colocado em primeiro plano as questões sobre a causa animal. Ao contrário do que foi comunicado pela nota da empresa, aqueles animais não podem ser tratados como “plantel”, como um agregado de objetos utilizados para pesquisa. As “irreparáveis perdas” foram, na verdade, a conquista da liberdade por parte dos animais que lá estavam presos e que lá eram explorados.
Na nota, o Instituto ressalta as perdas científicas que o fechamento de suas atividades poderá causar e a importância de suas pesquisas para o tratamento do câncer, entretanto, a vivissecção como método eficiente é questionável e os artigos abaixo poderão informar um pouco sobre a discussão em torno desta prática já ultrapassada:
- Experimentação animal: necessidade ou especismo?
- Vivissecção: um negócio indispensável aos “interesses” da ciência?
- A ciência não precisa de experimentação animal
- Biólogo afirma que testes alternativos são mais eficazes
- Para além da vivissecção: rumo a uma ética ecológica e antiespecista
Junto com esta vitória, é importante lembrarmos daqueles que também lutaram e deram suas vidas pela causa animal. Ontem fez 12 anos de morte do ativista pelos direitos animais Barry Horne. Condenado a 18 anos de prisão por suas ações em prol da libertação animal, ele morreu na cadeia durante a sua terceira greve de fome (durou 68 dias) pedindo que o governo britânico acabasse com os testes realizados em animais.