Heber Iama (da Redação – Ásia)
No último dia 1° de setembro fizemos um protesto em Taiji, Wakayama-ken. Fomos em 21 pessoas e 2 cães. Sei que o mundo inteiro sabe da matança de golfinhos no Japão, mas infelizmente poucas pessoas partem pra luta vestindo a camisa para ir até lá e protestar.
Saímos de ônibus da província de Gifu, passamos pela cidade de Nagoya para acrescentar mais alguns ativistas em nosso grupo e fomos direto para o sangrento lugar na cidade de Taiji-cho , as pacatas aguas salgadas do The Cove. Durante o trajeto de 320 km as pessoas puderam assistir o documentário ganhador do oscar de 2010, The Cove (A enseada). Todos assistiram a versão japonesa do documentário, sendo que esta versão só foi liberada no Japão mediante a censura de algumas cenas apresentadas no versão original americana.
Chegamos na cidade por volta das 4h30, para a surpresa de todos, as 5h00 um movimento muito ordenado começara acontecer, os motores dos barcos foram pouco a pouco sendo ligados, barcos com cerca de 9 metros de comprimento e equipados com motores a diesel movimentavam as aguas tranquilas do Porto de Taiji. Começava assim a Temporada de Caça de Golfinhos no Japão. Cerca de 12 barcos todos passaram na nossa frente e os seus condutores experientes caçadores japoneses ofereciam a sua oferanda ao mar, a famosa bebida alcólica japonesa Sakê. Eles abriram a temporada de caça do mesmo jeito que fazem a centenas de anos, sempre dizendo que fazem isso por tradição e cultura, mas sabemos que não é mais o verdadeiro motivo para tal.
Após todos os barcos sumirem mar a dentro, saímos do porto em fomos em direção ao alto da motanha para ver melhor o que aqueles 12 barcos tinham o que fazer naquele dia nublado, com ventos e ondas, mas nada impediu que eles sumissem no horizonte do mar de Taiji. A natureza tinha reservado pro dia anterior, um Tufão, mas o mesmo foi perdendo força até que aconteceu mesmo o que mais temíamos, a ida deles pro mar.
Em seguida, tínhamos um compromisso com a polícia local que na verdade era uma orientação da coordenadora do evento Dolphins Day Japan 2013, fomos até o posto policial que está instalado no The Cove e cada um de nós fomos obrigados a preencher um cadastro revelando o nosso nome, endereço, motivo da visitação na cidade, local de trabalho, nacionalidade e entre outras informações, quantos dias iríamos ficar por lá.
Muita coincidência foi que ao acabar com toda essa burocracia, recebi uma notícia via Twitter de que os caçadores já poderiam ser visto do alto da montanha e que agora naquele momento era visível a condução de um grande “pod de golfinhos”, desabava em nós a realidade das atividades pesqueiras de Taiji, veio então em nossas mentes, a matança de golfinhos.
Todos entraram no ônibus como se fosse uma emergência e nos dirigimos até o porto de Taiji, onde existem barreiras de concreto que protegem a entrada do porto de possíveis ondas gigantes em casos de tempestades, foi assim que tivemos a ideia de subir neles e acompanhar a triste caçada e condução dos animais até o The Cove. Antes disso, é claro, fomos testemunhas do sistema coordenado de condução dos golfinhos através da emissão de ruídos na agua , a arma principal que eles utilizam para confundir os sonares dos golfinhos. Todos eles, cerca de 50~60 golfinhos agora eram reféns da pior espécie do planeta que vive em Taiji, os caçadores.
Ficamos ali vendo toda a movimentação dos barcos, grandes e pequenos, na verdade as embarcações pequenas servem somente para dar o toque final e com requinte de crueldade eles participam do cerco aos golfinhos com as redes, elas são jogadas aos mar fazendo uma espécie de cerco e finalmente fecham as possíveis rotas de fugas, os golfinhos já não tem mais como escapar.
Durante todo esse tempo as nossas vozes foram ouvidas pelos caçadores, pois usávamos megafone, apitos, gargantas, gritos e muita indignação, afinal vendo tudo aquilo debaixo dos nossos narizes, não poderia ser diferente, a não ser gritarmos!
Logo em seguida, nosso compromisso seria a manifestação no The Cove contra a matança de golfinhos, então nos organizamos em direção ao local combinado com outros manifestantes estrangeiros e japoneses que também vieram para dar vozes aos golfinhos na cidade que é palco da mais cruel matança, não só de golfinhos e também de baleias piloto.
Fomos recebidos pela polícia e também por nacionalistas japoneses, ou seja, a polícia então passou a fazer a nossa segurança para que não existisse qualquer possibilidade de confronto, uma vez que os nacionalistas são a favor da “cultura baleeira japonesa”.
Eles gritavam palavras e frases racistas contra nós, ainda que o objetivo deles eram tentar nos provocar, todos eles também estavam preparando na beira da praia um churrasco de carne de baleia.
Ficamos por lá em torno de 2 a 3 horas, fizemos os nossos protestos, as nossas atividades programadas e suportamos todas as provocações do grupo nacionalista Zaitokukai de maneira respeitosa aos golfinhos, pois aqueles animais que ali estavam presos, estariam na verdade vivendo seus últimos dias de liberdade ou de vida, pois Taiji é cruel, se o golfinhos não morrem para virar pedaços de carne, ele com certeza será posto em cativeiro e viverá assim até acabar a sua vida, um verdadeiro golfinho escravo.
O ex-baterista do Guns and Roses, Matt Sorum, cantou algumas músicas e também participou efetivamente dos protestos na beira da praia. Outro personagem principal da manifestação foi Ric Obbary, ex treinador do golfinho Flipper, que hoje combate o cativeiro de golfinhos no mundo todo.
Foi um dia inesquecível, pois tivemos a participação de várias pessoas de várias nacionalidades, inclusive japoneses, sentimos que o movimento a cada ano cresce, temos a certeza de que um dia essa barbaridade humana irá acabar, tomara que não seja por terem extinto os golfinhos naquela região. Todos os anos o governo autoriza a caça de 2100 golfinhos dividos cada um deles em quotas de acordo com a sua espécie.
Ao término do evento pacífico a organização geral da manifestação agradeceu a presença dos ativistas brasileiros residentes no Japão e desde já disse que conta com a nossa presença nos próximos anos, respodemos que além de já firmarmos esse compromisso, queremos estar lá com o dobro de pessoas para que realmente a cidade veja que não somos a favor do que eles fazem e principalemente queremos que eles parem com a matança.
Em tempo
Sobre os golfinhos do dia 1 de setembro:
Após alguns dias ficamos sabendo que eram aproximadamente 60 golfinhos, destes 18 animais foram selecionados pelos treinadores de golfinhos da cidade (Dolphin Base) e hoje estão em cativeiros aguardando treinamentos e posteriores comercializações para aquários e parques marinhos temáticos. O restante do grupo foram libertados ao mar.
Golfinhos são seres que vivem em grupo, organizam suas famílias e possuem complexas estruturas de convivência entre eles. São semelhantes aos seres humanos. Certamente, quando alguns golfinhos dos grupos são retirados a força pra viverem em tanques de concreto, a maioria chegam a morrer nos primeiros dias de cativeiro, outros morrem após semanas por recusarem alimentos mortos, também já foi testemunhado em Taiji golfinhos mortos na areia e que na verdade eram filhotes, bebês golfinhos que perderam as suas mães para o cativeiro. Os selecionadores são tão cruéis que separam as crias e jogam de volta ao mar, assim reduzindo a zero as chances de sobrevivência do bebê, que ainda não aprendeu a caçar peixes e que até naquele momento só mamavam.
Fotos e vídeos do Dolphins Day Japan 2013 – Taiji-cjo, Wakayma-ken , Japão.
Vídeos
Golfinhos sendo encuralados
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Cerco aos golfinhos e manifestantes gritando
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Um novo projeto em Taiji , mais crueldade
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