Por Loren Claire Canales (da Redação)
Em entrevista exclusiva ao TV Notas, María Del Carmen García, do The Wild Animal Sanctuary (O Santuário para Animais Selvagens) e Antonio Frayunti, diretor da ONG AnimaNaturalis (Organização Iberoamericana pela Defesa de Todos os Animais), deram voz aos seus sentimentos sobre os maus-tratos aos animais em circos e zoológicos no México, onde destacaram casos como o da ursa polar Yupi, em cativeiro no Zoológico de Morelia, do elefante Big Boy, em posse do Circo dos Irmãos Fuentes Gasca (Circo Hermanos Fuentes Gasca) e finalmente o caso do Circo Daniel Atayde, onde vários animais foram encontrados em péssimas condições.
Animais do Circo Daniel Atayde
No último mês de março foi divulgado através dos meios de comunicação e das redes sociais as condições em que viviam os animais do Circo Daniel Atayde, no estado de Jalisco, que foram realojados e salvos da morte graças a ajuda das ONGs protetoras dos animais.
“Empregados do circo Daniel Atayde relataram que havia muitos animais maltratados, postaram fotos nas redes sociais e muitas pessoas, entre elas os ativistas da AnimaNaturalis, levantaram denúncias. Essas denúncias foram apresentadas e a PROFEPA (Procuradoria Federal de Proteção ao Ambiente) apreendeu a leoa ‘Morelia’, uma tigresa, uma jiboia e um macaco. Todos estão no Bioparque de Pachuca, onde estão tratando de reabilitá-los, especialmente os leões, pois serão enviados a um santuário no Colorado, Estados Unidos, chamado The Wild Animal Sanctuary”, disse Antonio Frayunti, diretor da ONG AnimaNaturalis, informação que foi complementada pela María del Carmen García, do The Wild Animal Sanctuary, que compartilhou as declarações dos empregados do circo.
“A leoa ‘Morelia’ é um animal de 20 anos, cujo tratador e o dono do circo declararam que a queriam para ver se ela dava mais uma ninhada, então não sabemos quantas ninhadas teve até hoje”, disse a especialista, que garantiu que todo circo deve ter um controle dos animais e avisar as autoridades sobre nascimentos e mortes, no entanto, isto não é sempre assim.
Veja no vídeo abaixo as condições em que foram resgatados os animais do Circo Daniel Atayde:
“Os circos teriam que fornecer um relatório anual sobre o manejo dos animais, sobre o seu programa de enriquecimento ambiental que se supõe servir para que os animais não fiquem tão estressados em cativeiro, têm que informar se há mortes e nascimentos, têm que ter um médico veterinário que informe o estado de saúde desses animais, tem que haver um plano de manejo, enfim, uma série de coisas que só estão no papel, pois não são cumpridas.
A SEMANART (Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais) continua emitindo licenças para circos e outros particulares que têm animais em más condições e se envolvem em problemas legais para que depois a PROFEPA tenha que intervir, mas de imediato a PROFEPA já não tem aonde colocar tantos animais nascidos em cativeiro que são apreendidos, então a mesma autoridade que gera o problema é que deveria resolvê-lo”, declarou María del Carmen.
Maus-tratos em circos de Guadalajara e Querétaro geram polêmica: ‘Big Boy, o elefante de 1 milhão de dólares’
Vários circos no México, entre eles o Circo dos Irmãos Fuentes Gasca, apresentam como uma de suas principais atrações o ‘Big Boy’, um elefante que encerra todas as apresentações com sua atuação e que deixa o público surpreendido por não acreditar que o animal possa fazer o que faz, no entanto, tudo tem uma explicação.
“Gravei o elefante Big Boy e o domador não gostou. Quando vi o vídeo entrei em contato com uma ONG em Los Angeles que se chama In Defense Of Animals (Em Defesa dos Animais) e me explicaram o que está acontecendo a este animal quando está girando sobre uma pata. Senti muito por ver como tremia e em dado momento bufou e projetou muita saliva pela tromba”.
“Imagine a pressão que está exercendo em seu coração e em seus pulmões, porque no momento em que se coloca nesta posição está fazendo muita pressão no tórax e seu fluxo sanguíneo está super acelerado. A pressão na cabeça e no cérebro poderiam inclusive lhe provocar dores de cabeça. Para conseguir que esse elefante fique parado nesta posição, te garanto que o espancaram muito, não há outra maneira”, declarou María del Carmen, que assegurou que é impossível educar um animal sem fazer o uso de maltrato físico e psicológico.
Veja no vídeo abaixo a “apresentação” do elefante Big Boy:
“Qualquer circo que tem animais os maltrata, não há outra maneira de um animal que tem uma natureza selvagem ou um temperamento silvestre ter seu comportamento alterado através do bom trato. Eu fico pensando e convido todas as pessoas a pensar no medo que um animal tem do seu domador, pois prefere enfrentar os seus maiores temores, que são inatos e naturais como o fogo. Um animal selvagem, por instinto de sobrevivência, se afasta do fogo, então imagine como será o terror que lhe mete o domador para que ele prefira ir ao fogo a desobedece-lo? Pensemos no que pode acontecer se estes animais não obedecem”.
Crueldade contra os animais no Circo Ringling: ‘Yupi’, a ursa polar do Zoológico de Morelia
Apesar de muitas vezes se acreditar que os maus-tratos contra os animais só acontecem nos circos, os especialistas garantem que os zoológicos não são os lugares ideais para a preservação das espécies, já que se trata de um espaço pensado no ser humano e não nos animais.
Como uma amostra do que acontece nesses locais está o ocorrido com ‘Yupi’, uma ursa polar que se encontra em péssimas condições no Zoológico de Morelia, já que está exposta aos raios do sol e a outros fatores que estão afetando severamente seu organismo e apesar disso, os tratadores se negam a realocá-la.
“A diretora disse que a ursa está em boas condições de saúde, mas não apresentaram provas, não mostraram nenhum estudo. A ursa apresenta principalmente demência, que é quando os animais ficam loucos e se movimentam em um único lugar, andam em círculos, ficam cambaleantes e tudo isso está acontecendo com a ‘Yupi’, ela não pode se relacionar com outros animais, nem com os humanos porque pode ser perigoso”, disse Antonio, que garantiu que há um par de santuários interessados em resgatá-la, mas não existe disposição por parte do zoológico.
Veja no vídeo abaixo a polêmica sobre a ursa Yupi:
Compra e venda de animais nos zoológicos
Há alguns meses, o Zoológico Africam Safari, localizado no estado de Puebla, apresentou uma campanha em que anunciava o resgate de 9 elefantes africanos, que estavam condenados a morte, no entanto, as ONGs protetoras dos animais qualificaram a campanha como sendo uma farsa, ao assegurar que os elefantes foram comprados.
“Há pouco tempo a Africam Safari lançou uma campanha onde diz que o zoológico supostamente havia salvado 9 elefantes da morte na África, mas não é verdade, conversando com outros santuários na África nos informaram que eram animais para venda e que o Africam Safari os havia comprado”, nos confessou o diretor da AnimaNaturalis, que ao mesmo tempo destacou que a compra e venda de animais é frequente nos zoológicos do México.
Bioparque de Pachuca reabilita animais resgatados do circo Daniel Atayde
“O zoológico de León vende os animais aos circos porque está certificado para fazê-lo e portanto, tem essa capacidade para reproduzi-los e vendê-los, é todo um mercado”, declarou o especialista, opinião reforçada por Maricarmen.
“É um zoológico que tem tido vários escândalos por venda de animais, por animais que se perdem ou porque vendem animais para a produção de bebidas afrodisíacas”, confessou Maricarmen, que lembrou que chegou a conhecer circos pequenos que receberam animais provenientes do Zoológico de León.
“Senti muito ao resgatar há 4 anos 3 leões de um circo muito pequeno, que se chamava Cartoon e que estava localizado em Zamora, Michoacán. Era um circo que cobrava 5 pesos pela entrada e os leões viviam em uma jaula de 3 metros. A mãe deles esmagou sem querer um de seus filhotes porque ela não tinha espaço nem para se mover. O circo concordou em doá-los ao santuário e nós os mandamos para o Colorado”.
Um dos trabalhadores deste mesmo circo nos disse que eles, como são circos menores, vão conseguindo animais que os circos maiores alugam ou vendem, as vezes, de alguns zoológicos. Ele me disse ainda que, mesmo não tendo documentos para comprovar, um dos seus leões foi dado pelo Zoológico de León”.
O que fazer quando presenciarmos um animal sendo maltratado?
“A primeira atitude é comunicar o fato diretamente as autoridades, porque são os responsáveis por fazer valer a lei e estão mais capacitados para isso. Uma denúncia deve ser feita perante a PROFEPA. Qualquer cidadão tem o direito de fazê-la, além disso devemos tornar a denúncia pública. Todos nós temos um celular e podemos tirar fotos e fazer vídeos e logo publicar nas redes sociais e denunciar, então formamos uma corrente de pessoas que se preocupa e que pressiona”, disse Maricarmen.
“Se algum particular tem um animal em sua casa ou em sua propriedade e decide ou percebe que não é adequado ter um animal assim, poderá entrar em contato comigo ou com a The Wild Animal Sanctuary, no Colorado. Nós podemos nos responsabilizar por esse animal. Nos responsabilizamos pelo transporte, pela documentação necessária para que o animal possa sair do país e também nos encarregamos de lhe dar uma vida digna. É um lugar onde os animais realmente experimentam a liberdade, onde chegam a viver o resto de suas vidas com dignidade sem serem explorados e basicamente o que dizemos é que é um santuário para os animais, não um zoológico para os humanos”, relatou a especialista, que apelou aos pais de família para evitar os circos a todo custo.
“Um circo não educa, um circo não mostra algo real, não mostra um animal como realmente é, pelo contrário, mostra um animal assustado, um animal que pode ser violento porque está desesperado e que pode matar alguém como acaba de acontecer, então não acredito que essa seja a maneira adequada de educar uma criança, não acredito que ensinar uma criança que submeter um semelhante e maltratá-lo seja adequado. Acredito que é melhor explicar as nossas crianças que nos circos os animais sofrem e que temos que deixá-los em paz e que há outras formas de divertir-se sem ser as custas dos outros”, concluiu Maricarmen.
A morte à qual Maricarmen se refere, diz respeito à um domador de 35 anos, dos EUA, que foi atacado por um tigre em fevereiro deste ano durante uma apresentação do Circo Suárez no povoado indígena de Etchojoa, estado de Sonora. O domador faleceu enquanto recebia atendimento médico, em função dos ferimentos causados no pescoço. Após o incidente, o circo foi investigado para saber em quais condições viviam os animais manejados e utilizados por eles (11 tigres de bengala, um elefante, 3 camelos, 11 lhamas e duas serpentes pitón).