As 15 girafas retiradas do seu habitat na África e trazidas de avião para o Brasil em caixas de madeira, continuam sem ter acesso à luz do sol. Defensores dos animais afirmam que os animais, que desembarcaram no país em 11 de novembro, foram confinadas pelo Bioparque em galpões de concreto com baias de 40m².
“Estamos lutando para que as girafas saíam do confinamento intensivo ao qual foram submetidas há três meses. O confinamento é diferente de isolamento. Elas não estão em quarentena, estão confinadas em um galpão inapropriado para elas. Estamos tentando fazer com que as girafas sejam levadas para um lugar minimamente decente, conforme as normativas do Ibama”, relatou a advogada Letícia Filpi, representante da ANDA.
Ela conta que a juíza Neuza Alvarenga, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro, concedeu o pedido para a transferência dos animais para um local adequado em 48 horas, mas a decisão judicial não foi cumprida.
“A Justiça deu ainda 30 dias para que o parque comece a construir um recinto de 660m² no mínimo, para que as girafas possam caminhar no sol e ter contato com a natureza. Elas estão em galpões de concreto fechados. São animais com cerca de 5m de altura que vieram da África no escuro, caixas de madeira com pequenos furos para respiração, para chegar no Brasil e permanecer isoladas”, lamenta a advogada.
Letícia Filpi lembra que três das 18 girafas que foram importadas pelo Bioparque já morreram em situação suspeita. “Elas estão sendo alimentadas com um alimento que elas não conhecem e só bebem água se alguém levar para elas. Não podem buscar. Já conseguimos a liminar para que essa situação mude e aguardamos que seja cumprida”, reforçou.
A advogada afirma que continuará lutando para que a decisão judicial seja cumprida e espera apoio popular na luta pelo bem-estar das girafas. “A juíza tomou uma decisão muito importante e corajosa e o Bioparque, zoológico responsável pelos animais, está desobedecendo a decisão judicial. O fato de manter essas girafas confinadas demonstra total desprezo dos responsáveis pelos sentimentos e pela integridade psicológica desses animais”, disse Letícia Filpi.
Ela ressalta ainda que p sofrimento ao qual essas girafas estão sendo submetidas, trará um dano emocional irreversível para os animais. “E parece que o Bioparque não está nem um pouco preocupado. A gente precisa pedir o cumprimento da decisão judicial”, concluiu.
Fundadora e presidente da ANDA, Silvana Andrade se diz espantada com o não cumprimento da decisão judicial. “Não nos espanta a falta de consideração com relação aos animais, cujo objetivo é a exploração e o ganho financeiro das empresas. Mas muito me espanta o não cumprimento de uma ordem judicial. Infelizmente foi arbitrada uma multa baixa e para eles vale mais a pena pagar essa multa do que considerar as condições de bem-estar físico e emocional das girafas”, opinou.
Entenda o caso
A Justiça do Rio determinou no final de janeiro que o BioParque construa um novo abrigo para as girafas vítimas de maus-tratos no PortoBello Safári, em Mangaratiba, na região da Costa Verde do estado. Em seu despacho, a juíza Neusa Alvarenga deu 48 horas para que o BioParque realize obras que forneçam um ambiente adequado aos animais, além do prazo de 30 dias que os eles sejam alocados em recintos de acordo com as normas do Ibama.
A decisão atende a um pedido da ANDA junto com o Fórum Nacional de Proteção e Defesa e outras ONGs que entraram com uma ação civil pública contra o BioParque. A pena de multa diária em caso de descumprimento é de R$ 5 mil.
As mortes
Desembarcadas por aqui em 11 de novembro, as dezoito girafas ficaram cerca de um mês em um galpão para quarentena e período de adaptação, segundo os responsáveis. Em 14 de dezembro, portanto pouco mais de um mês depois, elas tomavam sol em uma área ao ar livre, quando seis atravessaram a cerca e fugiram. Recapturadas, três morreram horas depois.
A Polícia Federal fez uma operação no resort e relatou ter encontrado sinais de maus-tratos nos animais que seguem no local. À ocasião, um laudo assinado por veterinários contratados pelo Bioparque apontou a miopatia como causa da morte das três girafas, ou seja, uma condição que pode ser gerada por estresse. Desde a morte das três girafas, as outras 15 são mantidas em confinamento.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam as mortes.
Uma portaria do Ibama proíbe importar animais de vida livre para fins comerciais. Mas os responsáveis afirmam que as girafas fazem parte de um projeto de conservação.
Os projetos de conservação de espécies selvagens, que não fazem parte da fauna brasileira, costumam ter a participação de zoológicos do Brasil e de outros países.