Introdução
Há pelo menos dois anos circula na internet, como um viral, uma imagem que lista inúmeros produtos que seriam feitos à base de derivados de origem animal – especificamente derivados bovinos. Seu título é “Produtos à base de gado” e lista 75 tipos de produtos industrializados que possuem, ou possuíam, uma marca com restos de cadáver bovino e/ou leite. E encerra com duas variantes de mensagem ofensiva: “Resumindo: Sua vida é uma ilusão, seu vegetariano chato!/vegan chato do c…!”
A figura se aproveita do pouco senso crítico de muitas pessoas, que não se empenham em confirmar a sua veracidade – até porque poucos aceitariam verificar a origem de tamanha variedade de produtos – e da relativa raridade do costume de se estudar e pesquisar sobre o que a internet mostra – o que dá brecha, inclusive, às tantas lendas virtuais que aparecem todos os anos. E acaba tanto arrebanhando pessoas para o conservadorismo ético, segundo o qual nada adiantaria em ser vegano num mundo dominado pela escravidão animal, como assustando vegetarianos e veganos, que muitas vezes se veem sem argumentos suficientes para rebatê-lo ou mesmo põem em dúvida a própria lógica do seu veg(etari)anismo.
Porém, ele carece tanto de consistência lógica como de honestidade intelectual e respeito à verdade. Porque tanto apela a nada menos que cinco tipos diferentes de falácias como dá a falsa impressão de que todos os produtos da diversidade nele referida carecem de qualquer alternativa vegana.
A origem e as falácias da figura
Convém a todos saber a origem do argumento utilizado pela figura: tudo começou quando, em 2009, um ou mais militantes conservadores pró-consumo de animais extraíram tais informações desta imagem do site do Serviço de Informação da Carne, entidade lobista defensora dos interesses de criadores de gado bovino e de indústrias frigoríficas.
Então criaram essa figura, sabendo que muitas pessoas, diante de tamanha diversidade de produtos, aceitaria, sem qualquer questionamento incisivo ou pesquisa verificadora, que a pecuária bovina dominaria a indústria de tal forma que não haveria para onde correr no que tange ao consumo dos 75 itens citados.
O folheto assustou muita gente e continuará assustando por algum tempo, mas não resiste a uma análise cética. Tanto porque, conforme este artigo mostra mais adiante, há alternativas e/ou substitutos de todos os produtos listados como a própria imagem possui erros lógicos comprometedores.
São cinco as falácias existentes na linha de raciocínio transmitida pela figura:
a) Ad hominem: Consiste em ofender explicitamente o interlocutor ou tentar desqualificar seu argumento por alguma suposta característica da pessoa que em nada tem a ver com a consistência e validade da colocação dela. É a falácia mais visível ali, na ofensa final dirigida aos veg(etari)anos.
b) Falácia do espantalho: Faz uma interpretação errada da ideia opositora, atribuindo-lhe equivocada ou maliciosamente argumentos facilmente criticáveis ou refutáveis que na verdade ela não defende. Essa falácia se aplica ao fato da figura tentar imputar ao veg(etari)anismo um falso ponto fraco, que seria a suposta falta de opções para a miríade de produtos industrializados nele citada.
c) Distorção de fato: Como o nome diz, distorce um fato na tentativa de desqualificar determinada ideia, crença ou comportamento. A figura faz a distorção ao transformar o fato de que há ou havia variantes ou marcas dos 75 produtos listados contendo um ou mais ingredientes de origem bovina na falsa colocação de que todas as marcas ou variantes dos produtos referidos contêm algum ingrediente derivado de bovinos.
d) Generalização apressada: Tenta aplicar ao todo uma regra que só se aplica a uma parte. A imagem passa a falsa (e assustadora) impressão de que todas as marcas ou variantes de cada produto possuem ingredientes bovinos, quando na verdade apenas parte delas o contêm – ou mesmo, em alguns casos, não se fabrica mais com ingredientes de origem animal.
e) Non sequitur: Lança argumentos desconexos cuja conclusão não segue a premissa. A linha lógica seguida pela figura é a seguinte:
Premissa: Estes produtos contêm ou continham variantes ou marcas dotados de ingrediente(s) oriundo(s) de certa parte do corpo bovino.
Conclusão: Logo, todas as variantes ou marcas destes produtos contêm ingredientes oriundos de tais partes do corpo bovino.
Porém, conforme este artigo mostra, a conclusão acaba na realidade não seguindo a premissa.
Alternativas dos produtos listados na figura: onde está a ilusão?
a) Cérebro
– Creme contra envelhecimento:
Há opções de cremes (como os da Multivegetal), e mesmo as empresas de cosméticos que ainda utilizam ingredientes de origem animal estão cada vez menos utilizando ingredientes provindos de abate, conforme suas respostas a consumidores em SACs. E é possível inclusive retardar ou controlar o envelhecimento da pele com a própria alimentação, com refeições ricas em antioxidantes e também vegetais (em especial frutas) ricos em vitaminas A e C, licopeno e ômega-3 (linhaça), os quais aumentam a produção corporal de colágeno.
– Remédios:
A imagem não diz qual(is) ingrediente(s) é(são) extraído(s) do cérebro bovino. Mas é evidente que nem todo remédio usa derivados do cérebro bovino. Além do mais, em situações mais sérias, os remédios são exceção no boicote vegano, uma vez que seu não uso pode acarretar em sofrimento e até morte. O modo de vida veg(etari)ano não exclui a possibilidade de doenças, mas, quando bem planejado, diminui a probabilidade de ocorrência de diversas doenças, sendo um fator positivo de prevenção.
b) Sangue
– Massas:
É difícil encontrar uma massa à base de trigo que contenha um derivado do sangue bovino entre seus ingredientes. Geralmente os ingredientes listados do macarrão básico são: farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico; corantes naturais urucum, betacaroteno e cúrcuma; e estearoil-2-lactil-lactato de cálcio (que, apesar da presença do radical lact-, que lembra leite, não é de origem animal). Alguns poucos incluem ovos na composição, e há as marcas que utilizam outros ingredientes, mas é bastante difícil hoje em dia encontrar aqueles que tenham derivados de sangue.
– Misturas para bolo:
Há opções sem ingredientes de origem animal, como as misturas para bolo da Fleischmann, DaBarra e Regina.
– Corantes:
A imagem não fala quais corantes possuem derivados de sangue. Porém, o único corante que realmente consta em listas de ingredientes de origem animal em sites pró-veganos não é de origem sanguínea, mas sim do inseto cochonilha (corante carmim, presente em alguns produtos rosados ou avermelhados). E há muitas alternativas não animais ao carmim sendo usadas hoje em dia na indústria, como o Vermelho 40, o Vermelho Crepúsculo, o corante de beterraba e a páprica.
– Tintas (e tinturas):
A imagem não especifica o que da tinta é de origem sanguínea, nem a origem elementar dos supostos ingredientes sanguíneos – se do plasma, das hemácias, dos leucócitos ou das plaquetas –, nem quais tipos de tinta o contêm. O ingrediente das tintas e tinturas que pode conter derivado sanguíneo é o fixador, mas existem fixadores de origem vegetal, como a resina acrílica, que é usada por marcas como a Suvinil. E no caso das tinturas, em especial no caso daquelas de cabelo, há alternativas como Phytocolor.
– Adesivos:
Conforme as páginas que falam de produtos de origem animal, como o blog da Superinteressante, os adesivos em questão são colas, e não, como passa pela imaginação do leitor da imagem, figurinhas colantes e etiquetas. Há colas sintéticas que atendem a indústrias que usam esse tipo de substância adesiva e também ao consumidor final. Assim, embora seja necessário recorrer aos SACs sobre se cada pasta adesiva é ou não sintética, não são todas as empresas que usam derivados de origem animal.
– Minerais:
Informação vaga demais. Não diz o que são esses minerais nem onde são usados. Por isso não dá para pôr em mente que “minerais usam ingredientes de origem animal”.
– Remédios:
A imagem dá a entender que todos os remédios usam excipientes ou princípios ativos originados do sangue bovino. Mas, como é de se imaginar, é absurdo pensar que todo remédio, ou a maioria deles, usa tais ingredientes, dada a diversidade de medicamentos existente no mercado. E o caso dos remédios é excepcional para os veganos, visto que em casos de doenças fortes não podem ser boicotados, sob pena de sofrimento e até morte.
– Material de pesquisas laboratoriais:
Não diz quais materiais (Produtos químicos? Recipientes de vidro? Materiais metálicos?) seriam esses. Não dá para inferir dessa imagem que “todo material de pesquisas laboratoriais tem ingredientes vindos do sangue bovino”, a informação é vaga demais.
c) Cascos e chifres
– Adesivos:
Vide b) Sangue.
– Plásticos:
A informação é duvidosa, visto que provavelmente se baseia no fato de que os primeiros materiais plásticos sintéticos eram produzidos de fato a partir de cascos, chifres e marfim de animais – mas tais ingredientes foram superados com o tempo, conforme a página 46 do livro “Plásticos: características, usos, produção e impactos ambientais”, publicado por Tania Piatti e Reinaldo Rodrigues por meio da UFAL.
– Alimentos para animais de estimação:
Este é um dos poucos produtos de que há real dificuldade de se encontrar alternativas veganas. Porém a imagem se engana, uma vez que muitas marcas de ração usam farinha de ossos, e não de cascos e chifres, mas ele não inclui rações para pets entre os produtos contendo derivados de ossos. Para os cães, a única alternativa de ração atualmente no mercado é a FriDog Vegetariana. Quanto aos gatos, há uma movimentação de veganos querendo trazer opções de ração com complementos sintéticos, para o Brasil. A Amí, pelo menos até alguns anos atrás, era cogitada como a maior candidata a ser a primeira empresa de rações veganas a instalar filial ou importadora no Brasil. Mas é possível importar rações veganas para gatos, para quem tem poder aquisitivo suficiente, entrando em contato com a Amí.
– Alimento para plantas/fertilizantes:
Nem todo fertilizante é produzido com resíduos de matadouros ou esterco. Há alternativas vegetais para jardinagem e agricultura, incluindo folhas, frutas e flores – que irão se decompor e se converter em material orgânico ao dispor das plantas vivas – e serapilheira. Além de adubos exclusivamente minerais.
– Filme fotográfico:
Está cada vez mais caindo em desuso, com a adesão crescente dos cinemas ao uso de projetores digitais e à própria consolidação das câmeras digitais e celulares com câmera. Hoje quase não se usa mais câmeras analógicas, e as digitais já possuem um bom preço. E mesmo celulares básicos hoje em dia tiram fotos.
– Shampoos e condicionadores:
Há alternativas veganas muito conhecidas. Uma das mais notórias, até também por dispor em suas embalagens que não são testados em animais nem possuem ingredientes de origem animal, é a Phytoervas. Para alguns tipos de cabelo, há inclusive a opção de simplesmente passar sabonete vegetal (como Phebo, Granado e Phytoervas) no cabelo para ensaboá-lo. Isso sem contar em várias receitas caseiras divulgadas pela internet, alternativas mais ecológicas.
– Placas de esmeril (lixas de unha):
O ingrediente que levava a substância à base de cascos e chifres era o aglutinante, a cola que fixa a superfície áspera e torna coesos os seus grãos. Porém, esse aglutinante de origem animal vem sendo substituído por cola PVA (acetato de polivinila), obtida a partir da polimerização do acetato de vinila, que por sua vez se origina pela reação química entre dois ingredientes de origem não animal, o etileno e o ácido acético ou etanoico. O que significa que hoje nem toda lixa de unha à base de esmeril usa cola de origem animal, o que, no entanto, ainda faz os veganos terem que consultar SACs para saber se usam PVA ou cola animal.
– Laminações:
Como usam adesivos (colas) para unir duas ou mais folhas de papel e/ou cartão, repete-se aqui a informação já dada antes. Conforme as páginas que falam de produtos de origem animal, como o blog da Superinteressante, os adesivos em questão são colas, e não, como passa pela imaginação do leitor da imagem, figurinhas colantes e etiquetas. Há colas sintéticas que atendem a indústrias que usam esse tipo de substância adesiva e também ao consumidor final. Assim, embora seja necessário recorrer aos SACs sobre se cada pasta adesiva é ou não sintética, não são todas as empresas que usam derivados de origem animal.
– Papéis de parede:
A mesma coisa das laminações: usa colas para aderência, portanto vale a informação já dada sobre adesivos.
– Compensados (chapas de madeira):
Idem, visto que compensados também podem vir com chapas coladas umas às outras.
d) Órgãos
– Cordas de instrumentos:
Há alternativas feitas à base de nylon, aço, carbono ou sintéticas com revestimento em metais – como alumínio, ouro e prata. Uma empresa que vende cordas do tipo é a Andamentto.
– Cordas de raquetes:
Há alternativas sintéticas, como cordas de poliéster e híbrido de copolímero, poliéster e teflon.
– Hormônios, enzimas, vitaminas e outros materiais médicos:
Há alternativas sintéticas no mercado, que podem ser obtidas à livre escolha do vegano. Porém, o problema para os veganos aparece quando tais produtos são fornecidos no hospital, onde a possibilidade de escolha é reduzida.
e) Leite
– Adesivos:
Vide b) Sangue.
– Plásticos:
Apenas alguns plásticos são produzidos a partir da caseína, como botões, cabos de segurar guarda-chuvas e punhos de talheres. Porém, mesmo para esses casos, há alternativas, como o polipropileno. Um exemplo de empresa que fabrica botões plásticos à base de polipropileno e sem caseína é a Jomar (consultada via SAC), sediada em São Paulo. Também há alternativas de polipropileno para cabos de guarda-chuva e cabos de talheres, assim como para outros produtos.
– Cosméticos:
Há alternativas cada vez mais numerosas, que não usam leite nem suas proteínas na composição. Como são muitas, dependendo do tipo de cosmético, e é fácil encontrá-las na internet e mesmo nas lojas, não é necessário listá-las aqui.
– Remédios:
Novamente retorna-se à grande diversidade de medicamentos existentes no mercado. É possível deduzir que apenas alguns possuem ingredientes derivados do leite em sua composição excipiente ou ativa.
f) Esterco
– Fertilizantes, nitrogênio e fósforo:
Recapitule-se a descrição dos alimentos para plantas mencionados no item c) Cascos e chifres. Nem todo fertilizante é produzido com restos de matadouro ou esterco. Há alternativas vegetais para jardinagem e agricultura, incluindo folhas, frutas e flores – que irão se decompor e se converter em material orgânico ao dispor das plantas vivas – e serapilheira. Além de adubos exclusivamente minerais – de onde se extrai também o nitrogênio e o fósforo para uso agrícola, ornamental ou em jardins.
g) Gordura
– Chicletes:
O ingrediente derivado de gordura é a glicerina, que compõe a goma-base. Porém, existem no Brasil marcas que não usam glicerina animal, como as balas Trident e o chicle Buzzy (a Riclan, fabricante da Buzzy, nega usar ingredientes de origem animal na maioria das marcas).
– Velas:
É cada vez mais difícil encontrar gordura animal entre os ingredientes de vela. Hoje em dia são facilmente encontradas no mercado velas que usam apenas cera de parafina, derivada de petróleo. Já há inclusive velas de emulsão vegetal – à base de soja, arroz, palma ou girassol.
– Detergentes:
Há alternativa vegana no mercado: a Ypê. Também existem alternativas caseiras divulgadas pela internet.
– Amaciantes:
A Ypê (consultada via SAC) também é uma alternativa para amaciantes veganos. E é possível fazer amaciante artesanal, comprando-se glicerina vegetal para incluir na composição.
– Desodorantes:
Há muitas alternativas sem glicerina, como a Nivea (desde que não contenha lanolina ou quitosan), o Herbíssimo e, no Nordeste, o Leite Floral. Muitas pessoas também usam o líquido Leite de Rosas tradicional como desodorante. Como opção de desodorante roll-on sem glicerina, há diversas marcas da Avon, mas essa empresa deixou de ser recomendada desde que se soube que ela realiza testes em animais em países como a China.
– Cremes de barbear:
Também são compostos de glicerina – e alguns contêm lanolina. Nada impede que as empresas utilizem glicerina vegetal. Uma ótima alternativa é ensaboar a pele a ser barbeada com sabonete de glicerina vegetal, como Phebo ou Granado. É possível usar também aparelhos de barbear elétricos, eles não requerem a aplicação prévia de creme.
– Perfumes:
Há muitas alternativas industriais sem derivados de origem animal, como os da L’acqua de Fiori e da Contém 1g. Isso sem contar nos milhares de perfumes artesanais extraídos de flores.
– Alimentos para animais de estimação:
Vide c) Cascos e chifres.
– Cremes e loções:
Algumas marcas de cremes e loções contêm glicerina animal. Mas uma variedade cada vez maior de empresas vem utilizando glicerina vegetal ou mesmo não usando mais a substância. Dependendo da função do creme ou loção, é relativamente fácil encontrar opções veganas no mercado.
– Giz de cera:
Está cada vez mais difícil de encontrar gizes de cera com gordura animal. Hoje utiliza-se muito mais o óleo da cera de parafina no lugar.
– Tintas:
Algumas empresas, como a Acrilex e a Gato Preto, ambas de tintas artísticas, não usam ingredientes de origem animal. Há também alternativas para tintas de outras categorias (de pintar paredes, metais, madeiras, tecidos etc.), destacando-se as tintas minerais naturais da Ecocasa.
– Óleos e lubrificantes:
Há opções de óleos lubrificantes, inclusive em forma de graxa, que contêm compostos de gordura vegetal – conforme descrito aqui –, mas nesse caso é exigida dos veganos a consulta aos SACs e rótulos.
– Biodiesel:
O biodiesel também pode e é feito sem usar animais, porém as monoculturas para produção da alta demanda por combustível acabam com a diversidade da fauna. Um dos poucos produtos que realmente dão dor de cabeça aos veganos, visto que é usado em ônibus no transporte coletivo. E, aliás, mesmo seu eventual uso em carros é desencorajado por razões socioambientais.
– Plásticos:
Nesse caso, plásticos como as sacolas comuns – o que não inclui muitas sacolas biodegradáveis – usam gordura animal para diminuir o efeito estático do material. Mas, como nem todo supermercado, mercearia e mercado usam sacos plásticos biodegradáveis, há três alternativas para se lidar com esses locais: ecobags, carrinhos de feira – que não demandam embrulhar os produtos comprados no supermercado – e sacolas biodegradáveis compradas em quantidade pelo próprio consumidor. Para produtos plásticos além das sacolas comuns, estão se multiplicando os plásticos biodegradáveis, que não contêm gordura animal.
– Impermeabilizantes:
Há opções que não utilizam ingredientes de origem animal, como alguns da Impergeo – e, fácil de deduzir, de outras empresas. O vegano pode consultar cada uma delas – inclusive via SAC – para perguntar sobre impermeabilizantes livres de restos de animais.
– Cimento:
Muitas marcas de cimento não contam com gordura animal, conforme lemos aqui.
– Giz:
O giz é basicamente feito de gipsita, água, corante (no caso do giz colorido) e, em muitas marcas, plastificante. Provavelmente algumas marcas utilizam gordura animal como ingrediente do plastificante. Há marcas sem plastificante, bom para uso não escolar – mas é necessário verificar rótulos ao comprar. Além disso, o giz como ferramenta de trabalho constante está sendo cada vez menos usado – nas escolas, já são raras aquelas que não usam lápis-pilotos e quadros-brancos.
– Explosivos:
Esta categoria de produtos virtualmente não é utilizada por consumidores comuns. Geralmente apenas empresas e o governo são interessados em utilizar explosivos. E mesmo assim é um único explosivo específico que utiliza derivado de glicerina animal: a nitroglicerina, ingrediente principal da dinamite. Pólvora, TNT e C4 não contam com ingredientes de origem animal.
– Fogos de artifício:
Contêm ácido esteárico, que pode ser de origem animal ou vegetal, mas veganos tendem hoje a não usá-los mais, visto que vem se expandindo a conscientização em torno das consequências do seu uso para pássaros e animais domésticos – cães têm muito medo de fogos, e podem se desesperar a ponto de fugir de casa ou mesmo sofrer ataque cardíaco, e pássaros podem ser mortos na explosão aérea dos fogos.
– Palitos de fósforo:
O misterioso aglutinante que consta entre os ingredientes do palito de fósforo é um derivado de gordura animal. Mas há alternativas, pelo menos na produção de alimentos: o acendedor elétrico dos fogões modernos, bastões produtores de faísca e isqueiros. Há churrasqueiras elétricas para o caso de “sojascos” (churrascos com ingredientes vegetais, como bolinhos de soja, arroz ou glúten; tofu e vegetais in natura).
– Fertilizantes:
Vide c) Cascos e chifres.
– Anticongelantes:
Há anticongelantes que não contêm gordura animal: dependendo do produto, utiliza-se metanol, etilenoglicol ou propilenoglicol.
– Isoladores:
O óleo mineral é o isolador elétrico que usa gordura, podendo ela ser de origem animal. Mas há alternativas de isolantes líquidos que não usam gordura: askarel, óleos de silicone, parafina (pastoso), pasta de silicone e resina Kopal.
– Linóleo:
Provavelmente foi incluído na lista porque continha gordura animal antigamente. Mas hoje o linóleo conta com óleo de linhaça, não mais com gordura animal, como o ingrediente gorduroso.
– Borracha:
Provavelmente foi incluída na lista pelos pneus, que são borracha vulcanizada e contêm ácido esteárico, que pode ou não ter origem na gordura animal. Mas há opção vegana no mercado: a Michelin usa ácido esteárico de origem vegetal.
– Tecidos:
Desonestamente a imagem não afirma quais tecidos. Os tecidos mais comuns – que inclui virtualmente todos aqueles usados pelos veganos – não contam com gordura entre seus ingredientes, visto que são compostos apenas por fibras naturais (algodão, sisal etc.) ou sintéticas (poliéster, poliamida etc.).
– Remédios:
Poucos contam com gordura animal no excipiente. E, como já dito antes no item A, em casos extremos veganos não podem boicotar remédios.
h) Pele
– Gelatinas:
Veganos consomem apenas gelatinas 100% vegetais ou algais, como o ágar-ágar. O sagu também é uma alternativa similar, feito de fécula de mandioca.
– Aromatizantes:
Há na internet inúmeras listas com ingredientes de origem animal mostrando quais aromatizantes a serem evitados. Não é problema nenhum para veganos.
– Papéis-de-parede:
Provavelmente se refere a papéis-de-parede feitos com couro. Mas há inúmeras alternativas ao couro, muitas delas de papel, em se tratando desse tipo de produto.
– Adesivos:
Vide b) Sangue.
– Remédios:
Apenas os remédios de cápsula contam com colágeno, oriundo de gelatina animal – alternativas com cápsulas vegetais podem ser encomendadas em farmácias de manipulação. E, como já dito antes, em casos extremos veganos não podem boicotar remédios.
– Doces e confeitos:
Não faltam doces veganos no Brasil e no mundo. E os confeitos provavelmente foram incluídos pela presença de colágeno em algumas marcas. Mas não são todos os confeitos que possuem colágeno na composição.
i) Pelo
– Filtros de ar:
Já há um tempo, não são mais utilizados pelos de animais nos filtros de ar modernos. Também os condicionadores de ar de hoje usam filtros com chapas e telas de alumínio e de nylon.
– Pincéis:
Apenas alguns poucos pincéis possuem pelos bovinos, geralmente extraídos das orelhas dos bois e vacas. Existe uma boa diversidade de alternativas de cerdas sintéticas no mercado, como na Tigre Pincéis.
– Feltro:
É evitado pelos veganos, que usam outros tecidos para todos os fins a que o feltro serve.
– Isoladores:
Provavelmente foram incluídos pela existência de isoladores elétricos feitos com feltro. Há inúmeras opções de isoladores sem nada de origem animal, como já foi citado em relação aos isoladores líquidos.
– Gesso:
Apenas antigamente eram usados pelos de animais para deixar a massa do gesso mais consistente.
– Tecidos:
A mesma coisa do feltro. Veganos usam tecidos vegetais ou sintéticos.
h) Ossos
– Açúcar refinado:
Já é bastante evitado entre os veganos por causa de seus propalados maus efeitos à saúde, e hoje em dia no processo de fabricação é utilizada cal no lugar do carvão de ossos pela maioria das empresas.
– Carvão:
Entrou na lista provavelmente por causa da existência do carvão de ossos. Como alternativas há o carvão mineral e o vegetal.
– Fertilizantes:
Vide c) Cascos e chifres.
– Vidro:
Antigamente obtinha-se o óxido de cálcio que compõe os vidros a partir de ossos de animais. Hoje esse mineral é obtido do calcário.
Considerações finais
Com tudo o que foi mostrado – tanto as falácias como as alternativas ou substitutos dos produtos listados – podemos ver que a vida dos vegetarianos e veganos não é uma ilusão, ao contrário da crença comum dos conservadores de que haveria enormes dificuldades na obtenção de produtos industrializados sem ingredientes de origem animal e isso faria o veganismo não ter sentido.
Mesmo que em algum desses produtos realmente não houvesse saída para os veganos, não lhes haveria problema. Porque, como estão crescendo cada vez mais em números e, em sua grande parte, fazem militância pela preferência das indústrias pela produção de alternativas livres de restos ou secreções de animais, já se caracterizam como uma força a demandar uma postura de não compactuação com a escravidão animal intrínseca à pecuária, organizando boicotes, formando demanda de mercado e, dependendo do caso, criando alternativas extraindustriais.
E há também outra questão: é ingenuidade acreditar que, por não existirem pessoas 100% veganas, as pessoas não poderiam ser nem mesmo 1% veganas.
Afinal de contas, onde está a ilusão?
A imagem publicada no início do texto mostra os pesados custos da pecuária, que são camuflados por pessoas como os autores da figura “Produtos à base de gado”, os quais, por sua vez, insistem em não aceitar essa realidade e se refugiar na ilusão de que não haveria nada de ruim em consumir animais.
Fonte: Consciencia.blog.br