(da Redação)
O ser humano está em uma encruzilhada em sua relação com a vida selvagem. Estamos ajudando a causar o que os cientistas descrevem como um evento de extinção em massa, graças à combinação de perda de habitat, caça, inserção de espécies chamadas invasivas, poluição e mudanças climáticas.
Foi preciso que algumas espécies desaparecessem para que a humanidade começasse a demonstrar um real espanto diante do tema e, após a perda de ícones como o Pombo-passageiro, o Tigre-da-Tasmânia e a Foca-monge-caribenha, a preservação parece ter passado a ser considerada com mais seriedade, pelo menos em parte, no último século. Leis para restrição da caça e proteção de habitat foram criadas para tentar ajudar a evitar a perda de diversos animais, como o crocodilo americano, a águia-de-cabeça-branca, o lobo cinzento, mico-leão-dourado, tigre-de-bengala, rinoceronte-branco e uma variedade de baleias.
Entretanto, há 7 bilhões de humanos no planeta, e somos mais perigosos do que pensamos. O surgimento da classe média na China recentemente disparou a demanda por produtos derivados de animais selvagens como barbatanas de tubarão, chifres de rinocerontes e marfim de presas de elefantes, enquanto o desmatamento e a agricultura estão devorando focos de biodiversidade na Amazônia e na Indonésia. A poluição de plásticos atormenta as baleias e as tartarugas marinhas no mundo todo, e a acelerada mudança climática tem forçado incontáveis criaturas a se adaptarem abruptamente – ou a morrer. Mesmo algumas espécies que já foram salvas estão retrocedendo, como os rinocerontes, os elefantes e outras, caçadas impiedosamente por organizações criminosas internacionais.
Para um indivíduo que pertence a uma espécie animal ameaçada, estes são os melhores e piores tempos. Os humanos podem ser a sua maior ameaça, ou a sua salvação redentora – alguns estarão caçando-o na calada da noite, de helicóptero, enquanto outros arriscarão as suas próprias vidas para defendê-lo. Segundo a reportagem, é um tanto cedo para saber se estamos assistindo à extinção massiva e derradeira, pois a Terra teve cinco períodos semelhantes anteriormente, mas este será o primeiro na história humana, e o primeiro com a nossa participação. Estudos sugerem que o atual ritmo de extinção é milhares de vezes mais agressivo que a taxa média histórica, e se continuar em progressão, mais da metade de todas as espécies conhecidas poderão desaparecer nos próximos séculos.
No entanto, não se deve esperar passivamente para ver o resultado. Nós já nos provamos capazes de prevenir extinções, quando nos comprometemos a isso, e esta habilidade, agora, é mais importante que nunca. Então, como está tendo início um novo ano, segue uma lista de 15 animais cujos futuros poderão ser decididos – para melhor ou pior – em 2015. As informações são da Mother Nature Network.
Rinoceronte-de-java
A caça e a perda de habitat ameaçam todas as cinco espécies sobreviventes de rinocerontes, mas nenhuma mais que o rinoceronte-de-java, criticamente em risco. Uma vez encontrado em uma faixa do Sudeste da Ásia, da Índia à Indonésia, duas de suas três subespécies já estão extintas, incluindo uma variedade vietnamita cujo último membro foi morto por um caçador em 2010. Isso deixou aproximadamente 40 indivíduos no Parque Nacional Ujung Kulon, na ilha de Java. Não há rinocerontes-de-java em cativeiro e o destino dessa espécie depende de sua sobrevivência nesse reduto.
Vaquita
Com aproximadamente 121 cm e pesando 40 quilos, o vaquita é o menor boto da Terra. E com apenas 97 restantes, é também o mais raro. Todos os vaquitas remanescentes vivem em um canto do Mar de Cortez no México, onde são frequentemente enredados de modo fatal em redes de pesca, largamente usadas por pescadores de camarão e por caçadores de totoaba, um peixe raro cuja barbatana que tem suposto valor medicinal na China. O México propôs banir as redes para proteger os vaquitas mas, uma vez que os famosos cartéis de drogas do país estão envolvidos na caça do totoaba, especialistas alertam que isso pode levar ao desaparecimento dos vaquitas até 2018.
Lêmure esportivo do Norte
O Lêmure esportivo do Norte perdeu 80 por cento de sua população total nos últimos 21 anos, de acordo com a International Union for Conservation of Nature (IUCN), deixando somente um número estimado de 50 indivíduos para continuar a espécie. Sua maior ameaça é a perda florestal para as queimadas, para a produção de carvão e plantação de eucalipto, assim como a caça por humanos para consumo de sua carne. Seu habitat agora restringe-se a cerca de 8 quilômetros quadrados no norte de Madagascar, local que não faz parte de nenhuma área protegida oficialmente.
Tartaruga-de-pente
A população global de tartarugas-de-pente diminuiu em 80 por cento no século passado, esgotada por décadas de caça, urbanização de praias e capturas acidentais. Apesar de seus números gerais ainda estarem em declínio, algumas populações estão se recuperando graças aos esforços de preservação locais, mais notadamente no Caribe. A contagem de ninhos da espécies na costa leste da Nicarágua detectou um aumento de 200 por cento de 2000 a 2014, por exemplo, enquanto a caça decresceu em 80 por cento. “Tais dados dão esperança para o futuro”, observa a IUCN, “mas infelizmente ainda são exceção à regra. Mais resultados similares são necessários em toda parte”.
Leopardo-de-amur
O leopardo-de-amur é uma subespécie extremamente rara, com apenas cerca de 20 adultos e seis filhotes na natureza nos dias de hoje. Embora esses animais já tenham rondado pelo leste da China e da Coreia, agora estão limitados à Primorye, na Rússia, onde enfrentam uma série de ameaças, incluindo a caça por suas peles, perda de habitat, tráfego rodoviário e mudanças climáticas. Sua minúscula população ainda está em declínio, de acordo com a IUCN, e tem a mais baixa diversidade genética de todas as subespécies de leopardos. O tigre-de-amur recuperou-se a partir de uma população de menos de 40 indivíduos em uma geração passada, o que dá aos conservacionistas a esperança de que o leopardo-de-amur consiga uma proeza semelhante.
Arara-de-garganta-azul
A arara-de-garganta-azul da Bolívia está criticamente ameaçada devido ao comércio internacional de animais para companhia, o que levou a sua população selvagem ao declínio nos anos 70 e 80. A Bolívia proibiu a exportação de papagaios em 1984, mas o desmatamento continuou a pressionar as aproximadamente 120 sobreviventes. Esses pássaros finalmente tiveram um alívio no início de 2014, quando a Barba Azul Nature Reserve – único habitat protegido da espécie e lar da sua maior população – dobrou de tamanho, de 50 mil km² para 110 mil km².
Gorila-das-montanhas
A população de gorilas-das-montanhas adultos está em torno de 300, dividida em duas populações: Montanhas Virunga de Uganda, em Ruanda e República Democrática do Congo, e Floresta Bwindi, em Uganda. Imensamente ameaçados pela perda de habitat e pela caça, eles também foram vitimados nas décadas recentes por conflitos armados entre humanos. Um quarto de todos os gorilas-das-montanhas selvagens agora vive no Parque Nacional de Virunga, onde o seu complicado relacionamento com as pessoas, incluindo o espectro da prospecção de petróleo, foi abordado no documentário “Virunga”, de 2014.
Elefante-asiático
O elefante-asiático (ou elefante-de-sumatra) perdeu aproximadamente 70 por cento de seu habitat potencial desde 1985, de acordo com a IUCN, o que levou a um progressivo aumento dos conflitos com comunidades humanas locais e resultou na realocação dos elefantes ou em sua morte. Combinado com o flagelo internacional da caça pelo marfim, isso ajudou a encolher ainda mais a população total desses elefantes para cerca de 2.600 indivíduos, com uma atualização na lista vermelha da IUCN, de “ameaçados” para “criticamente ameaçados”.
Ganso do Havaí
O Ganso do Havaí (ou ganso-nenê) é típico do estado havaiano, descendente do ganso do Canadá que voou para a ilha há milhares de anos atrás. Um número aproximado de 25.000 viveram lá quando os europeus chegaram em 1778, mas uma mistura de caça, perda de habitat, colisões em rodovias e espécies invasivas reduziu a espécie para apenas 30 pássaros por volta de 1950. Ele foi declarado uma espécie ameaçada em 1967, e um programa de reprodução em cativeiro foi lançado nos anos 70. A espécie cresceu para aproximadamente 2.000 desde então – incluindo um casal que gerou três filhotes em Oahu in 2014, o primeiro nascimento da espécie na ilha em três séculos.
Girafa
As girafas não são frequentemente citadas como exemplos em risco da fauna africana como os elefantes, rinocerontes ou gorilas, mas elas provavelmente deveriam ser. Cerca de 140.000 girafas selvagens existiam em 1999, e agora restam menos de 80.000 – uma queda de 43 por cento em 15 anos. Não só os trechos de seu habitat estão sendo roubados pelo homem para a agricultura, como também a mudança climática promove longos períodos de seca que compõem outras pressões, como o influxo de caçadores de elefantes que buscam alimento fácil e renda extra a partir da carne de girafa.
Morcegos de Indiana
Eles existem em todo o leste dos Estados Unidos, mas abarrota a maior parte de sua população em relativamente poucas colônias. Isso torna-os vulneráveis, e diversos episódios de pessoas perturbando os morcegos durante a hibernação levou-os à lista de espécies ameaçadas em 1967. Esses animais comem insetos e portanto também sofrem com os pesticidas, mas a sua grande ameaça pode ser a síndrome do nariz branco ( white-nose syndrome – WNS), uma doença fúngica que varreu a América do Norte desde 2006. Apesar do perigo contínuo da WNS, que pode levar a uma taxa de mortalidade de até 100 por cento, cientistas descobriram recentemente pistas de que alguns morcegos são capazes de desenvolver resistência.
Lince-ibérico
O lince-ibérico é uma espécie criticamente ameaçada com apenas duas populações reprodutoras conhecidas, ambas na Espanha, e que somam cerca de 200 indivíduos. Os seres humanos passaram décadas caçando-o e convertendo o seu habitat em fazendas, pastagens, estradas, barragens e casas de veraneio, mas a dependência de 75% da dieta do lince em coelhos pode ser a sua ruína, uma vez que as populações locais de coelhos têm sido escassas desde surtos de vírus myxoma nos anos 50 e da doença hemorrágica em coelhos nos anos 80.
Sapo do pulverizador de Kihansi
O habitat natural do sapo do pulverizador de Kihansi é a zona de cachoeiras de Kihansi Gorge, na Tanzânia. Eles já somaram cerca de 17.000, mas diminuíram após a construção de uma barragem em 2000, que cortou 90 por cento do volume de água do desfiladeiro. Embora um sistema de aspersão tenha tentado ajudar, as espécie sitiada logo sucumbiu ao fungo quitrídio, um grande ofensor de anfíbios em todo o mundo. Os sapos foram declaradas extintos na natureza em 2009, mas os cientistas iniciaram um programa de reprodução em cativeiro. Essa população cresceu de 500 para 6.000, o que permitiu o início da reintrodução em 2012.
Papagaio kakapo
O kakapo, um papagaio que não voa, pode ser o pássaro mais longevo da Terra – a sua expectativa média de vida é de 90 anos – mas também está entre os mais raros. Uma vez comum em toda a Nova Zelândia, a espécie foi destruída nos últimos séculos por caçadores humanos, e por outros animais predadores. Os esforços de resgate começaram na década de 90, com a realocação das aves pelos cientistas para duas ilhas remotas onde os predadores não nativos haviam sido removidos. A população de hoje conta com cerca de 125 kakapos e ainda é considerada criticamente em perigo, mas a IUCN informou em 2013 que os números das espécies estão a aumentar, oferecendo esperanças de que possa sobreviver com a ajuda humana.
Foca-monge-do-havaí
A foca-monge-do-havaí foi caçado a ponto de quase chegar ao esquecimento nos século 19 e início do século 20, um risco ressaltado pela extinção de focas-monge do Caribe nos anos 50. Os EUA declararam-nas em perigo em 1976, e estabeleceu um grande habitat crítico em 1988. Isso protegeu a espécie de caça, mas os 1.200 indivíduos restantes ainda enfrentam ameaças como o lixo marinho, os barcos, a erosão da praia e escassez de alimentos. No entanto, os esforços de preservação parecem estar fazendo a diferença: elas tiveram 121 novos filhotes em 2014, um crescimento que representa 10% do número de indivíduos sobreviventes de toda a espécie.