Por Julia Troncoso (da Redação)
Em uma jogada que surpreendeu a muitos, a Agência de Alimentos e Drogas da China (AADC) anunciou que tem planos para dar fim, no próximo verão, ao requerimento compulsório de testes realizados em animais para cosméticos fabricados dentro do país.
Segundo grupos de defesa animal, estima-se que só no território chinês 300 mil coelhos, ratos, entre outros animais, sejam usados para testar cosméticos no período de um ano. Com o novo projeto, companhias chinesas produtoras de cosméticos não definidos como “de uso especial” (como xampus ou perfumes) serão autorizados a pararem de testar seus produtos em animais e usar os dados já arquivados (para matérias primas catalogadas) e testes que não utilizem animais validados pela União Europeia (para novas substâncias), o que ativistas de direitos animais acreditam que salvará milhares de vidas.
Segundo Troy Seidle, diretor da divisão Be Cruelty Free (Esteja Livre de Crueldade) da Humane Society Internacional, essas notícias da China são um grande marco na campanha contra crueldade e podem constituir um divisor de águas significante no esforço global para dar fim aos testes que a indústria de cosméticos realiza em animais ao redor do mundo.
A AADC também declarou que talvez o novo sistema seja ampliado para incluir também produtos importados, o que a HSI afirma que removeria barreiras comerciais e permitiria que companhias livres de crueldade vendam seus produtos na China.
Na China, a obrigatoriedade dos testes em animais não tem sido apenas um destino terrível para os animais em laboratórios, como é também um problema para companhias que querem expandir o seu mercado, mas não estão dispostas a comprometer seus valores acerca dos testes em animais. Tem sido um problema também para empresas que afirmam ser livres de crueldade, mas enganam consumidores por permitir testes em animais para obter permissão de venda no mercado chinês.
Para consumidores que escolhem seus produtos porque eles são livres de crueldade, é um grande problema quando algumas empresas, como a Urban Decay, tiveram que aprender no erro depois de enfurecer milhares de consumidores com o anúncio de expansão para o mercado chinês. Outras empresas, incluindo Avon, Estee Lauder e Mary Kay, criaram dificuldades para si mesmas quando alegaram falsamente ser livre de crueldade, o que resultou em um processo judicial.
A UE, Israel e Índia proibiram o uso de animais em testes para a indústria de cosméticos, o que também provou ser problemático para algumas empresas. O requerimento para testar em animais em alguns mercados e a proibição do teste em outros deixam empresas com um dilema sobre aonde vender. Testar em animais é também desnecessariamente forçado e leva a testes duplicados com cobaias, mesmo quando seus produtos já são vendidos com segurança em outros mercados. Felizmente, parece que a tendência é se afastar dos testes em animais nos testes de segurança.
“Esse avanço significa que a última agência reguladora que requeria testes em animais está pronta para aceitar alternativas para a maioria dos cosméticos. Enquanto nós esperamos detalhes e mais confirmações do projeto, há potencial para transformar a situação para empresas de cosméticos éticas que até agora se recusavam a vender na China em prol de manterem seus nomes na lista da Leaping Bunny, que barra cosméticos cujos ingredientes foram testados em animais. Nós também agradecemos o papel da Comissão Europeia que nos informou que ofereceu suporte técnico e conselhos para a China nessa área”, disse Michelle Thew, chefe executiva da Cruelty Free International.
O programa da Leaping Bunny requer que empresas cujos produtos levam sua logo se prometam a não testar em animais em nenhum estágio da produção e permanecer abertos para auditorias independentes em prol de permanecerem certificados. O programa é gerenciado pela Coalition for Consumer Information on Cosmetics (Aliança para a Informação dos Consumidores de Cosméticos) nos Estados Unidos e no Canadá, enquanto que a União Britânica para a Abolição da Vivisseção o gerencia no Reino Unido e a Aliança Europeia para o Fim dos Experimentos em Animais na Europa. Mesmo produtos que são classificados como “não testados em animais” ou “livres de crueldade” podem ter tido seus ingredientes ou estágios de sua produção testados em animais por meio de empresas terceirizadas.
O plano da AADC ainda está sendo revisado e tem algumas ressalvas, mas ainda assim é um grande passo no caminho para o fim dos testes em cosméticos em escala global. Enquanto isso, grupos de apoio aos direitos dos animais juraram continuar seus trabalhos juntos ao governo chinês em prol de uma proibição absoluta.