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Buffet infantil confina e submete animais a situações de risco e alto nível de estresse

20 de dezembro de 2011
12 min. de leitura
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Por Lilian Regato Garrafa  (da Redação)
Uma festa inesquecível. É com essa expectativa que muitos pais, às vésperas do aniversário da criança, correm atrás de buffets que prometam tornar aquele dia mágico e marcante. Mas, quando a originalidade se esgota, os organizadores se veem na obrigação de apresentar uma festa diferente aos seus clientes e desprezam as noções mais elementares de respeito à vida e à ética.
Pois a reportagem da Anda se surpreendeu com a mais nova modalidade de atração para entreter crianças ávidas por novidades: um buffet, em SP, mantém uma pequena sala no meio da festa, na qual cerca de 10 aves voam em total desnorteamento fugindo dos pequenos que, por nunca terem tido a chance de tocar em aves sem a interposição de grades, correm atrás delas como se estivessem perseguindo uma bolha de sabão. O teto baixo do recinto não dá chance alguma para que os pobres pássaros encontrem algum mínimo refúgio desse ataque contínuo durante 4 longas horas. O vídeo abaixo registra alguns segundos dessa ‘interatividade’:

Como se o sofrimento infligido a esses animais já não fosse mais que suficiente para arrancar gritinhos eufóricos dos convidados (e isso inclui não só as crianças, mas também pais entusiasmados, que incentivam os filhos a manipularem os pássaros), o local ainda abriga pequenas gaiolas com filhotes de furão, coelho, porquinho-da-índia, hamster e até chinchila. Apesar de estarem tristemente expostos, eles não estão livres de crianças que, ao tentar tocá-los por entre os vãos das grades e chacoalharem bruscamente as gaiolas, não percebem a diferença entre um ser vivo e um brinquedo, uma vez que lá os animais são colocados com a única finalidade de entreter.

Um furão sofre com o confinamento e intenso calor do local (Foto: ANDA)

Um sofrimento que beira tortura. O nível de estresse a que esses animais são submetidos a cada festa é altíssimo. Não só pela constante ameaça que as codornas e periquitos sofrem de serem pisados, esmagados, apertados e por isso têm de se debater nas tentativas de fuga em voos frustrados naquele espaço, mas também pelos decibéis ensurdecedores da música incessante misturada ao barulho dos brinquedos e dos berros dos convidados.
Coelho em minúscula gaiola sob excessivo estresse. (Foto: ANDA)

Não foi preciso pedir explicações à administração para perceber a incoerência do que ali é escancarado. Um aviso alerta que os filhotes são bem-tratados e que a preocupação do buffet (pasmem!) é com a proteção dos animais. Um discurso que lembra o dos zoos, que os arrancam de sua natureza, confinando-os atrás de grades como se criminosos fossem, e denominam esse cativeiro perpétuo de “preservação de espécies”.
Discurso incoerente (Foto: ANDA)

Observando a temática do espaço, a discrepância entre discurso e prática causa ainda maior indignação: a decoração do ambiente simula uma floresta, mas as monitoras da festa usam fantasia de caçador. Penduradas nas paredes que circundam os brinquedos há cabeças de animais, como onça e leão, numa imitação de troféus empalhados e ostentados por quem mata animais por esporte, e uma pele (aparentemente falsa) de animal decorando o bar. Por fim, nos fundos, um touro mecânico fechou com “chave de couro” essa desastrosa e imoral festa para seres que estão em formação, apre(e)ndendo os valores da cultura em que crescem.
Decoração com cabeças de animais simulam peças empalhadas. A pele na parede legitima a caça. (Fotos: ANDA)

Não é possível entender a lógica de um órgão ambiental denominado Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, mais conhecido como o Ibama, o qual permite que se violem tão escancaradamente os mínimos direitos dos animais, que por lei já são previamente tolhidos ao se permitir sua criação em cativeiro. E se é permitido, se é moda, se é engraçado, se as crianças ingenuamente riem por não entenderem a violência de que são coautoras, a crueldade passa batido, mantém-se mascarada pela hipnose coletiva que se tornou a exploração de prisioneiros cujo direito vigente é apenas o do sofrimento em silêncio.
Touro mecânico: alusão clara aos rodeios -- espetáculos de tortura e morte de animais (Foto: ANDA)

Risco para a saúde física e mental das crianças
Além da grave violação dos direitos dos animais mantidos em condições de maus-tratos, é preciso salientar a inadequação do ambiente a que crianças são expostas.
Os pássaros, estando soltos, comem e defecam no mesmo lugar onde as crianças circulam. Uma sala muito pequena, com uma luz talvez propositadamente fraca que não permite enxergar a sujeira do local. A mesma mão da criança que toca nos animais e nas gaiolas e pode ter contato com dejetos dos pássaros é a que vai pegar os docinhos da festa.
O risco de se pisotear um pássaro naquele ínfimo espaço é enorme. As crianças ficam livres para correr, pegar, apalpar. Uma pseudodiversão que pode se transformar em uma tragédia ao se acidentalmente ferir ou mesmo matar os frágeis pássaros. Muitos já assistiram ao vídeo que circulou há algum tempo nas redes sociais, em que um pequeno garoto se desespera por ter matado uma formiga. É preciso repensar nossa responsabilidade ao expor as crianças a um mundo em que animais são desrespeitados de modo lúdico-sádico, como se fossem brinquedos vivos, que se usam e se descartam como qualquer objeto inútil e sem valor.
Porquinho-da-índia em constante agitação dentro da gaiola em meio ao calor e barulho. (Foto: ANDA)

Chinchila atrás das grades observa crianças perseguindo pássaros. (Foto: ANDA)

Para se manifestar contra esse tipo de abuso, entre em contato com o gabinete do vereador Roberto Trípoli, para que o mesmo consiga um mandado de busca e apreensão desses animais, uma vez que, conforme a Lei nº 14.483, resultado de projeto de Lei de sua autoria – “(…)os animais expostos não podem ter contato com os frequentadores do estabelecimento. Para resguardar o bem-estar e sanidade(…)”, qualquer outra atitude que não seja a retirada desses animais desse local, somente poderá corroborar para que esses continuem sendo utilizados como brinquedos vivos.´
 
Resposta do Buffet: No dia 20 de Dezembro de 2011 esta agência publicou matéria em que acusa nosso estabelecimento comercial de irregularidades ambientais, sanitárias e legais. As acusações foram feitas sem fundamentos, e estão baseadas em informações falsas e incitadas pela própria autora da matéria. Na sexta-feira dia 16 de Dezembro Lilian Garrafa, autora da matéria publicada esteve em nosso estabelecimento como convidada da festa de sua irmã e mãe (as quais nos enviaram um e-mail agradecendo e parabenizando o nosso trabalho, e nenhuma das duas foram informadas sobre a atitude da Sra. Lilian com sua sobrinha, exibida no vídeo). Oportunamente, a Sra. Lilian entrou em nosso aviário na ausência da monitora responsável e incitou sua própria sobrinha a perseguir os animais, conforme pode-se ouvir e ver no próprio vídeo (ela diz “Pega” e gesticula em direção aos animais). Este ato, junto com as informações falsas da matéria vão contra os princípios de ética e integridade que a ANDA prega.
A matéria nos acusa de mau trato aos animais, falta de higiene para com as crianças e descumprimento da lei nº 14.483. Os nossos filhotes são todos de origem legal, e muito bem cuidados. O espaço é higienizado duas vezes por dia (a matéria não apresentou uma única prova da falta de higiene no local), onde os animais são alimentados com ração de primeira além de frutas e legumes. O espaço que abriga os animais fica em uma área isolada do salão principal (ao contrário do que diz a matéria) a visita a este espaço só é permitida com o acompanhamento de uma monitora instruída a lidar com os animais e as crianças e pais que os visitam (regra que a autora burlou). Neste espaço colocamos cartazes explicativos sobre a origem dos animais com o intuito de instruir as crianças sobre os mesmos (fato não revelado na matéria).
Estamos em total acordo com leis ambientais e da fauna brasileira, inclusive já recebemos a visita da policia ambiental em duas ocasiões (em 12/09/2011 e 30/09/2011), e em ambas as situações não foi encontrado nenhuma irregularidade. Prova maior do bem estar dos animais é que alguns destes estão se reproduzindo no espaço, e já pudemos presenciar o nascimento e crescimento de filhotes de periquitos australianos, um porquinho da Índia e hamsters da Síria. Além disso, estamos planejando uma parceria com a policia ambiental para palestrar sobre os cuidados com o meio ambiente e a fauna em nossas festas beneficentes (assunto que já foi conversado com a Policia Ambiental).
Além de prejudicar o nosso estabelecimento e nossa família, nos sentimos pessoalmente atacados com as acusações. Fazemos trabalhos filantrópicos constantemente; neste ano já realizamos festas beneficiantes para AMA (a associação de amigos dos autistas unidade Cambuci e Parelheiros), Casa ninho (que apoia crianças com câncer de todo o Brasil). Também já realizamos festas beneficentes para o Projeto Felicidade que também apoia crianças com câncer.
Em relação ao descumprimento da lei nº 14.483, novamente a autora se equivoca ao retirar um pequeno trecho da mesma, fora de seu contexto principal. A Lei regula a criação e venda de cães e gatos, não se aplicando em hipótese alguma ao nosso estabelecimento. Além do que, ao ler todo o texto da lei não encontramos nenhum ponto em que a infringimos.
Nossa família e nosso estabelecimento foram extremamente prejudicados por esta situação, e nunca nos foi dado a oportunidade de comentar ou responder às acusações, quebrando princípios básicos do jornalismo de investigação e de direito de defesa. Procuraremos nosso direitos junto aos nossos advogados, frente a esta situação.
Certos de contarmos com a sua compreensão, aguardamos um breve contato,
Paulo Landim
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Esclarecimentos  da redatora:  
1- Compareci à festa como convidada e sem saber qual seria o tema da festa e a decoração usada pelo buffet.
2- Fui munida de câmera fotográfica pois pretendia registrar bons momentos da festa.
3- Entrei no recinto onde se encontram os pássaros para conhecer por duas vezes. Na primeira havia uma monitora na porta que consentiu com a minha entrada. Na segunda, realmente, não havia na entrada ninguém zelando pelo local e pela segurança dos animais, o que não significa que “burlei” nenhuma regra. Se houve algum deslize aí, não foi meu.
4- Ao entrar já havia no local uma criança, a que aparece no vídeo, com quem não tenho nenhum parentesco, com uma acompanhante — fato facilmente comprovado pois se vê no vídeo o braço de uma outra pessoa segurando uma câmera e registrando a cena. É a voz desta acompanhante que diz “pega”. Eu, Lilian, me restringi apenas a registrar sem qualquer participação. Há outros vídeos que comprovam que diversas crianças entraram no recinto e praticaram o mesmo tipo de interação com os animais.
5- A matéria não fez nenhuma crítica a pessoas nominalmente e sim a atitudes deletérias, facilmente constatadas no vídeo.
6- Os animais não tinham aparência de maus-tratos físicos nem pareciam debilitados. Porém a tortura psicológica, o estresse, o ambiente inadequado, teto baixo, com música alta, gritos, e o tempo em que os animais foram expostos às mãos infantis, sujeitos a qualquer tipo de ação, são inegáveis. As frutas e legumes de ótima qualidade que comem não devem compensar as 4 horas de tortura por que passam em cada festa.
7- A incoerência do tema da festa em relação ao cenário também causou estranheza, pois pessoas vestidas de “caçadoras” não podem se dizer defensoras dos animais. As paredes tendo como enfeite alegorias de cabeça de animais abatidos em caça denotam uma exaltação a este tipo de esporte e ao não respeito à fauna.
8- Estranheza também em relação ao Ibama. Deveriam visitar o buffet durante a realização das festas.
9 – O trabalho filantrópico da empresa é louvável, porém não deve ser alegação para que haja tanta exploração em relação aos animais confinados.
10- Sempre pautei meu trabalho voluntário na ANDA na verdade e, sobretudo, na defesa daqueles que não têm voz para pedir socorro. Esta é a motivação maior da minha militância. Nosso trabalho é sensibilizar e alertar as pessoas para o fato de a natureza animal ser a mesma que a nossa e de que qualquer sofrimento desnecessário imposto a eles é ato de covardia. Nas imagens vê-se como, de maneira tão natural, a vida é desrespeitada, ainda que seus autores não se deem conta disso. Como escrevi na matéria, uma ave e uma bolha de sabão acabam se equiparando. Com o agravante de que a ave não pode estourar como a bolha e escapar do sofrimento.
11- Estarei sempre na luta incansável a favor deles, ainda que depare com a incompreensão, o descaso e a ira.
 Atenciosamente,
 Lilian Garrafa
 

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