O cubano naturalizado brasileiro Pedro Ynterian, 71, presidente internacional do “Great Ape Project”, que luta pelo bem-estar dos grandes primatas, defende que os zoológicos devem fechar. Ele diz que os animais passam por tortura psicológica com visitação pública.
Empresário, microbiologista e dono de um santuário ecológico em Sorocaba (SP) — com 200 animais, entre 50 chimpanzés, nove leões, dois tigres e dois ursos –, diz que uma criança aprenderia mais assistindo a documentários.
Ele luta pela libertação do chimpanzé Jimmy, do zoológico de Niterói (RJ), cujo habeas corpus será julgado em novembro. Ynterian defende que gorilas, chimpanzés e orangotangos tenham garantias como a de não serem mortos ou enjaulados.
Folha – Os zoológicos brasileiros deveriam ser fechados?
Pedro Ynterian – Sim. Nenhum zoológico brasileiro é de primeira linha. Se você visitar cada um deles e reparar onde os animais comem e dormem, irá encontrar coisas terríveis. Muitos só são alimentados de noite e passam o dia em espaços exíguos.
A quantidade de mortes é absurda. Só metade está na regularidade, o resto funciona sem autorização do Ibama.
Para onde iriam os animais?
Os zoológicos poderiam virar centros de resgate e cuidado, mas sem visitação. Existe essa necessidade. Eu recebo mensalmente pedidos do Ibama para abrigar animais apreendidos.
A visitação é um problema?
Exibir publicamente uma galinha não é o mesmo que um primata ou um elefante, animais com inteligência superior. Um chimpanzé tem 99,4% do nosso DNA, se relaciona com as pessoas, odeia algumas e ama outras.É tortura colocá-lo num recinto fechado. Em pouco tempo fica louco.
É comum recebermos chimpanzés que se mutilam, arrancam pedaços da perna e dos braços com os dentes.
Os zoológicos são considerados espaços de lazer e educação para as crianças.
Os animais que estão ali não são representantes legítimos da sua espécie. São estressados. A criança pode ver o leão no zoológico, mas o comportamento dele é falso. Acho mais válido assistir a um documentário.
O habeas corpus para o macaco Jimmy é uma tentativa de mudar esse quadro?
A iniciativa é de um grupo de advogados e promotores. Há três anos conseguimos decisão favorável para libertar uma chimpanzé em Salvador. Quando fomos buscá-la, tinha morrido.
Com o Jimmy queremos desafiar a Justiça a se pronunciar sobre a criação de uma figura jurídica intermediária para os grandes primatas. Por lei, os animais são considerados objetos e os humanos sujeitos de direito.
Queremos que os grandes primatas tenham direitos básicos como o de não serem enjaulados, mortos e que ninguém possa ter propriedade sobre eles.
Isso já existe em algum lugar do mundo?
Não. Mas o Brasil tem condições de dar o exemplo. Não pode esperar isso dos países desenvolvidos.
Fonte: Folha de SP