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BOICOTE

Voluntárias denunciam maus-tratos no CCZ do DF após serem proibidas de ajudar animais

Um vídeo (confira na reportagem) mostra um cachorro atropelado que, segundo as voluntárias, não recebeu os cuidados emergenciais dos quais necessitava, e um gato sofrendo repetidas convulsões sem ser socorrido

30 de setembro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
7 min. de leitura
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Arlindo, um dos cães que vivem no CCZ do DF (Foto: Reprodução/Instagram/Amigos da Zoonoses)

Voluntárias do Projeto Amigos da Zoonoses foram impedidos de ajudar os animais do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do Distrito Federal após a direção da unidade limitar a entrada das ativistas. O grupo formado por mulheres denuncia que a decisão prejudicou animais que precisavam de socorro imediato e que agora sofrem maus-tratos por não receberem os cuidados devidos. Isso porque as voluntárias eram as responsáveis por atender esses casos.

Um vídeo (confira abaixo) mostra um cachorro atropelado que, segundo as voluntárias, não recebeu os cuidados emergenciais dos quais necessitava, e um gato sofrendo repetidas convulsões sem ser socorrido.

De acordo com as voluntárias, animais em estado grave eram rapidamente socorridos quando elas atuavam no CCZ. Além disso, o grupo também era responsável por ajudar nos cuidados diários com os cães e gatos.

Para retirar um animal do local, segundo as voluntárias, é necessário que ele seja adotado. Elas reclamam que essa burocracia dificulta a celeridade no atendimento veterinário do qual os animais necessitam. Foi o caso de Tigre, um cachorro que estava urinando sangue por sofrer de um quadro grave de anemia e que só pôde ser levado a uma clínica veterinária após os trâmites de adoção serem finalizados.

A nova gerência também teria proibido doações, inclusive de alimentos, e impedido que as voluntárias fizessem passeios e atividades para a socialização dos animais, que também ficaram sem banho de sol. O grupo também era responsável por garantir mais conforto aos cães e gatos, inclusive colocando colchões nas baias para que eles se aquecessem em noites frias.

Com o auxílio do grupo, que iniciou os trabalhos no CCZ há dois anos, mais de 600 animais foram doados em eventos de adoção realizados de julho de 2019 a julho de 2020, conforme informações repassadas pelo projeto ao portal Metrópoles.

Atualmente, apenas uma voluntária do grupo composto por 18 mulheres é autorizada a entrar por dia no CCZ, com limitação de permanência de apenas duas horas. por dia. Aos finais de semana, a entrada é proibida. O grupo argumenta que o tempo não é suficiente para garantir qualidade de vida aos cães e gatos.

As voluntárias afirmam que o boicote teve início em agosto, mês em que o servidor Lauricio Monteiro Cruz tornou-se gerente do CCZ. Cruz já havia ocupado o posto de diretor Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, mas foi exonerado após suposto envolvimento na compra superfaturada de vacinas.

Secretaria de Saúde nega maus-tratos

Em nota enviada ao portal Metrópoles, a Secretaria de Saúde negou que os animais mantidos pelo CCZ estejam em condições de maus-tratos. Confira o comunicado na íntegra:

“O Serviço de Voluntariado é uma política da Secretaria de Saúde de Estado de Saúde. O processo de voluntariado no âmbito das ações da Gerência de Zoonoses precisa se adequar às normativas do fluxo correto que trata sobre o assunto. Por isso está passando pelas devidas adequações para que seja retomado tão logo possível dentro do que preconiza as portarias do voluntariado. Não procede a informação de que há animal em estado grave sem cuidados no canil. Compete à Gerência de Controle de Zoonoses o recolhimento de animais domésticos (cães e gatos) que possam oferecer risco à saúde da população, como disseminação de doenças. Não compete o recolhimento de animais em situação de rua sem vínculos zoonóticos. A Gerência de Zoonoses atua também em medidas preventivas e profiláticas, situações de vínculo epidemiológico e risco da Saúde Pública, tais como vacinação contra a raiva em cães e gatos, diagnósticos laboratorial de leishmaniose visceral ou raiva, além da identificação de espécies de importância em Saúde Pública.”

“Estamos lutando”, dizem voluntárias

Através das redes sociais, as voluntárias do Projeto Amigos da Zoonoses reforçaram que não desistirão de amparar os animais do CCZ e, em homenagem a eles, publicaram uma arte na qual aparecem todos os nomes dos cães e gatos que vivem na sede do órgão municipal. “Nossa luta é por cada um deles. Esses são os nomes dos animais que cuidamos dentro da Zoonoses”, escreveram.

O grupo também divulgou uma nota por meio da qual informou que “o Projeto Amigos da Zoonoses está sofrendo boicote”. Confira abaixo na íntegra.

Tigre foi adotado pelas voluntárias para que pudesse ser retirado do CCZ por estar doente (Foto: Reprodução/Metrópoles)

“Infelizmente estamos sendo impedidas de prestar a assistência de qualidade do Projeto aos animais da Zoonoses. Desde 2019, o Projeto Amigos da Zoonoses existe para cuidar dos animais que estão sob guarda da Zoonoses. Recentemente a gestão do órgão mudou, e com isso, subitamente, nos foram impostas diversas restrições. Estamos proibidas de receber qualquer doação na Zoonoses. Só estão autorizando a entrada durante a semana, de uma voluntária, uma vez ao dia e por poucas horas. Mal estamos conseguimos dar conta dos animais que estão doentes e precisam de medicação e ração especial. Os cuidados básicos de todos os animais como oferecer conforto, passeio e socialização não estão sendo realizados. Há animais chegando em situação precária de saúde e não temos permissão de examinar ou levar para atendimento hospitalar. Não temos mais permissão para levar os animais para clínicas ou lares temporários. Caso os animais fiquem doentes, só poderão ser tratados se nós oficializarmos a saída do animal como adoção, sob nossa inteira responsabilidade.

Foi o que aconteceu com os 7 filhotes do HVEP. Foi o que aconteceu com o Tigre na semana passada. Tigre estava com uma anemia aguda grave, urinando sangue e sem tratamento teria morrido em sofrimento, sozinho na baia, sem nenhuma assistência em 48h.

O cão Tigre urinava sangue e corria risco de morte (Foto: Reprodução/Metrópoles)

Infelizmente não temos abrigo, não temos recursos financeiros e nenhuma parceria com hospedagens para conseguir garantir a retirada de cada animal doente que está lá.

Contamos com a sorte e a fé que a situação irá melhorar um dia. Estamos procurando soluções e ajuda de todas as maneiras, mas lamentamos as amarras que nos impedem de oferecer os cuidados com a saúde e o bem estar dos cães e gatos que cuidamos com tanto amor. Estamos extremamente tristes. Temos muito carinho por cada ser vivo ali e sempre buscamos oferecer um pouquinho de dignidade e alegria a eles. Nosso trabalho é voluntário e feito com muita responsabilidade.

Agradecemos imensamente cada ajuda, cada mensagem e cada adoção! Sem isso, não haveria tantas histórias felizes. Estamos lutando.”

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