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SITUAÇÃO DEPLORÁVEL

Voluntária no Rio Grande do Sul relata sofrimento de animais resgatados: 'Estavam comendo plástico'

Em entrevista à Globo Rural, Luisa Sigaran diz que perdeu as contas de quantos cachorros, gatos, cavalos, porcos, bois e galinhas ajudou a tirar da água

25 de maio de 2024
Daniela Walzburiech
6 min. de leitura
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Foto: Arquivo Pessoal | Luisa Sigaran

Assim como os moradores de 464 municípios do Rio Grande do Sul, animais também sofreram com a enchente que atingiu o Estado. Enquanto uns foram abandonados nas ruas e residências, outros ficaram ilhados junto aos tutores esperando ajuda.

Na tentativa de aliviar o sentimento de dor e dar esperança em meio à tragédia climática, a ativista da causa animal Luisa Sigaran se uniu a outros voluntários nos resgates. Em 22 dias de trabalho, ela perdeu as contas de quantos cachorros, gatos, cavalos, porcos, bois e galinhas ajudou a tirar da água.

“No início, a demanda estava voltada quase exclusivamente aos humanos. E foram várias as situações onde as pessoas não levaram os pets, seja por abandono mesmo, por serem impedidas de colocá-los nos barcos ou por não conseguirem retornar depois às casas e buscar”, conta à Globo Rural.

Os salvamentos foram realizados em uma escala de prioridade, segundo ela. Após cachorros e gatos, os primeiros da lista, a atenção voltou-se aos animais de grande porte. E devido à demora, a gaúcha encontrou bichos já debilitados pela falta de alimento e com frio.

O resgate mais complicado envolveu um cavalo que ficou amarrado durante 10 dias em cima de um caminhão em Eldorado do Sul. Ao encontrar o equino, ele estava tremendo e comendo plástico.

“Não sabemos como ele chegou nessa situação. Provavelmente, o tutor colocou ali em uma tentativa de dar alguma chance, mas ele ficou ilhado. Aquele local se transformou em uma região de correnteza, e tivemos que organizar uma estratégia para resgatá-lo, o que aconteceu só no dia seguinte”, diz.

Com o auxílio de mais voluntários, a equipe teve sucesso no resgate realizado no dia 10 de maio e encaminhou o cavalo para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas ele morreu horas depois. “Estava muito debilitado e sofreu demais”, relata.

Porcos e aves

Ao contrário do cavalo, que não resistiu, Luisa e os demais voluntários da causa animal salvaram também porcos e galinhas da enchente.

Em uma das situações, ela recebeu um pedido de resgate de 50 porcos no bairro Mathias Velho, em Canoas, mas não conseguiu levar todos para um local seguro, pois o tutor não permitiu, apenas uma porca desnutrida e dois filhotes acompanharam a equipe.

Inicialmente, os três bichos foram levados à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), mas, já recuperados, serão encaminhados ao santuário Voz Animal.

“Tivemos muitas situações de falecimento. A cada dia que passava, nos deparamos com cenas assim. Um dia, resgatei um cachorro ilhado em cima de um cavalo morto, uma cena impactante e chocante de sofrimento animal. Acho que a causa animal ficou bem abandonada. Se tivesse um preparo público, o cenário teria sido outro”, afirma.

Em um dos resgates envolvendo galinhas, elas foram localizadas no telhado de uma residência. Ao mesmo tempo, em que salvou diversas aves, Luisa encontrou outras já mortas no local. “A gente coloca o barco perto e sobe para fazer o salvamento”, finaliza.

Segundo o Governo do Rio Grande do Sul, mais de 12 mil animais foram resgatados durante as enchentes. Para atender a todos, o Estado anunciou no dia 18 de maio uma parceria com o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD).

O acordo prevê “planejamento, gestão, monitoramento e execução das atividades desenvolvidas em resgates de animais e no acolhimento em abrigos e a identificação e a catalogação para localizar tutores ou dar suporte aos procedimentos de adoção”.

Mais prejuízos

Com a morte de muitos animais de grande porte, como cavalos, bois e porcos, a atividade que envolve cada um desses setores sofreu perdas no Rio Grande do Sul.

No caso dos porcos, por exemplo, o levantamento preliminar indica que os danos estruturais podem chegar a R$ 30 milhões.

“Em torno de 12,6 mil porcos foram mortos pelas enchentes e deslizamentos. As instalações que tiveram destruição total ou parcial, foram cerca de 26 mil metros quadrados de área construída”, destaca Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs).

Foto: Globo Rural

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