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Uma história de coragem e determinação em defesa dos animais

4 de abril de 2009
4 min. de leitura
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Quando tinha 9 anos de idade, um garoto canadense da vilinha de pescadores de New Brunswick brincava de dar nome às duas lagostas de estimação – Bug Eye (Olho de Inseto) e Flouderface (Cara de Farinha) – e ao seu melhor amigo, Bucky, um castor da floresta com quem ele adorava nadar durante o verão. Um dia, ao chegar à mata, ele encontrou Bucky morto por caçadores, a pata presa em uma armadilha. Encasquetou que poderia destruir as armadilhas que encontrasse pela frente e que resgataria todos os bichos que visse presos. O menino cresceu, estudou comunicações e foi trabalhar na Guarda Costeira Canadense. Aos 18 anos, se engajou no comitê Não Faça Onda, que lutava contra os testes nucleares nos oceanos. Em 1972, com apenas 21 anos, transformou o comitê no mais conhecido grupo ambientalista do mundo: o Greenpeace.
Hoje, aos 57, Paul Watson continua desarmando armadilhas e ajudando os amigos do mar. Expulso da ONG que ajudou a criar, fundou em 1977 a própria organização, a Sea Shepherd. É considerado uma lenda do ambientalismo, o nome supremo na proteção dos oceanos, “o último dos homens”, conforme declarou o ator Sean Penn. A atriz e amiga das focas Brigitte Bardot é sua fã. Entre os mais de 40 mil colaboradores e militantes voluntários da organização estão Richard Dean Anderson, o MacGyver, e os Red Hot Chilli Peppers.
Justiceiro
Mas há também uma legião de desafetos. Pessoas que não concordam com a postura enérgica e agressiva do capitão. Gente que prefere lutar em terra firme, fazer passeatas, colher doações e mudar a legislação – em vez de se enfiar em um navio e se mandar para a Antártida, onde milhares de baleias são assassinadas por ano, disposta a afundar o navio inimigo, como os apaixonados militantes da Sea Shepherd. O Greenpeace é o mais célebre deles. Dentro da ONG, seu nome é tabu. “Não falamos sobre ele. Paul Watson foi ‘saído’ porque adotou atitudes não pacifistas, das quais discordamos”, afirma Glades Eboli, diretora de comunicação da ONG. “Há boatos sobre um baleeiro que pegou fogo! Extra-oficialmente, comentam que foi coisa da Sea Shepherd. E tivemos que ir lá ajudar a salvar vidas. Resolvemos não polemizar mais sobre isso.”
Watson dedicou sua vida à causa ma-rinha. Em 1977, foi atacado por um barco de caça a focas no Canadá; não pensou duas vezes antes de se pendurar nas cordas do navio inimigo. Caiu na água congelante, teve hipotermia e quase virou comida de tubarão. “Não tenho a menor dúvida de que ele daria a própria vida para salvar uma foca ou uma baleia”, exalta Thiago Malachias, diretor da Sea Shepherd Brasil. “Ainda me emociono quando falo da trajetória dele. Tenho certeza de que nunca ninguém fez tanto pelo nosso planeta.” Thiago conta que o chefe é das pessoas mais quietas e reservadas que já conheceu. Um homem que guarda as energias para os momentos de decisão e liderança. No livro Piratas no fim do mundo, o jornalista Denis Russo, que conviveu com o guru verde durante uma campanha à Antártida, retrata: “Pensava que o Watson fosse um sujeito imponente, pose de líder, capitão, herói. Nada mais longe da realidade. Definitivamente passou do peso, seu cabelo branco cortado em forma de capacete estava sempre desgrenhado. Mas é também um ativista profissional, que vive de livros e palestras e por isso precisa da mídia. Tem defeitos, exageros, inseguranças, limitações. Grandioso e caipira, admirável e deselegante, Paul Watson é um herói, mas não 24 horas por dia. Parte do tempo, é só uma criançona meio mesquinha que gosta de filmes açucarados e videogames, repete piadas e conta mentiras”.
Enquanto não está derrubando um baleeiro – já afundou dez; cada um recebeu uma bandeira pintada no casco do navio da ONG como troféu –, Watson gosta de escutar folk, rock clássico e blues. Adora biografias e livros sobre história natural e ciência. Namora Mihirangi, uma música neozelandesa de origem maori, e tem uma filha de 27 anos, Lilliolani. Vegetariano, só fica em casa duas semanas por ano: o endereço é sigiloso, devido às inúmeras ameaças de morte que recebe todos os dias.
Os japoneses são os maiores inimigos. Para manter a tradição milenar em comer carne de baleia eles conseguiram uma brecha na lei que impede a caça ao animal: alegam que todos os navios que seguem à Antártida trabalham em pesquisa científica. São navios imensos, verdadeiras fábricas de enlatar baleias. E Paul trabalha sob a alegação de que faz valer a lei com as próprias mãos.
Sobre seus novos projetos, Paul Watson diz que prefere se concentrar na religião.
Está escrevendo um livro em que entrelaça ecologia e mitologia: nele, pretende esclarecer sua tese de que o cristianismo é uma religião pagã, demonstrando como “nos afastamos da natureza creditando somente aos humanos o que consideramos divino”. Já neste plano, no fim deste mês embarca de novo para o Antártida, em mais uma aventura contra os baleeiros japoneses.
Fonte: Revista Trip

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