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SAUDADE

Tutora fala sobre luto após morte traumática de cachorro: 'Meu vínculo com ele era inexplicável'

Bentley foi assassinado dias depois de um vizinho ameaçá-lo de morte ao se queixar de latidos que acredita ser do cachorro

28 de outubro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
9 min. de leitura
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Bentley e sua tutora em um dia de muita diversão (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

Bentley não era apenas um rottweiler dócil que provava que o esteriótipo negativo que pesa sobre a raça é injustificado. Ele era também um dos maiores companheiros que a bacharel em direito Luiza Abduch já teve em sua vida. Não à toa, a dor pela morte prematura e traumática do cachorro ainda se faz presente na vida da tutora sete meses após o assassinato.

No dia 24 de março deste ano, menos de um mês após o cachorro ser ameaçado de morte por um vizinho que reclamava de latidos que acreditava ser de Bentley, o animal foi encontrado sem vida em Guarujá, no litoral de São Paulo. O corpo foi submetido a exames que detectaram chumbinho no organismo do cão — com venda proibida, a substância foi utilizada para envenenar o rottweiler.

E se por um lado não restam dúvidas sobre o cachorro ter sido vítima de um crime, por outro sobra impunidade. Isso porque recentemente a Justiça optou por arquivar o processo que investiga a morte de Bentley sob o argumento de que faltam provas para levar o caso adiante. Luiza Abduch discorda das alegações do Poder Judiciário e se indigna com a injustiça sofrida por ela e pelo cachorro.

O envenenamento não só condenou Bentley à morte, como marcou a vida de Luiza para sempre. Com o processo de luto, vieram as crises de ansiedade e pânico e a necessidade de tomar medicação para voltar, aos poucos, a ter uma vida normal. A normalidade, porém, é bastante diferente do passado. Isso porque a perda de Bentley, que tinha apenas um ano de idade, transformou completamente a realidade de Luiza, que vive na expectativa de um dia rever seu grande amigo.

Em entrevista à ANDA, Luiza Abduch falou sobre a luta por justiça, que chegou ao fim com o arquivamento do processo, e detalhou o sofrimento que tem vivido desde que Bentley foi tirado de seus braços. Confira abaixo.

ANDA: O Bentley era um cachorro dócil que foi assassinado e sua morte ficou impune. Você argumenta que possui provas que poderiam levar ao indiciamento de dois homens pelo envenenamento do seu cachorro. Quais são essas provas?

Luiza Abduch: O que mais tínhamos eram provas, temos 11 testemunhas do dia da ameaça e diversas imagens de câmeras de segurança que mostram a rota dos dois irmãos com uma sacola na mão no dia em que Bentley foi envenenado. Duas dessas imagens mostram que eles mudam o caminho e atravessam a rua apenas para passar em frente ao portão, e chegando, um deles coloca a mão na sacola pegando um conteúdo, provavelmente o alimento envenenado que jogou. Eram tantas provas que todas as pessoas que viam tinham certeza, até na delegacia.

Bentley em um dia de passeio com a família (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

ANDA: Seu cachorro foi morto em março dias após um vizinho reclamar de latidos que supostamente seriam do seu cachorro. De que maneira você enxerga não só essa atitude criminosa de matar um animal, mas também esse incômodo por parte de algumas pessoas com os latidos de animais que não falam e, portanto, precisam latir para se comunicar? Você acredita que existe intolerância por parte da sociedade?

Luiza Abduch: Acredito sim que exista intolerância. As pessoas precisam entender que cachorros não latem para incomodar, eles não têm esse discernimento do que incomoda ou não, eles latem para se comunicar, é uma questão de sabermos ir afundo onde está o real problema do barulho: se é fome, solidão, ansiedade, ou ameaça de algum estranho no portão.

Tudo tem solução, como eu disse, o latido é uma forma de comunicação, e de maneira alguma as pessoas devem pensar que matar é a solução, não é solução, é crueldade. No nosso caso, Bentley não latia nunca, quando ele reclamou dos latidos eu até estranhei, mas nunca se sabe o que passa na cabeça de pessoas assim.

Bentley foi morto por envenenamento (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

ANDA: Recentemente, o caso do Betley foi arquivado por “falta de provas”. O que você sentiu quando soube dessa notícia?

Luiza Abduch: Foi a primeira vez que tive a sensação de impunidade, é um misto de tristeza, revolta e desamparo. Com tantas provas, filmagens e testemunhas, me senti sendo desamparada por um órgão feito para fazer justiça. Me senti sozinha. Como se ninguém pudesse mais nos ajudar, tendo que fechar um ciclo que não foi concluído, onde não houve justiça. Me entristece muito saber que vou ter que para sempre vê-los vivendo uma vida normal, isso me despedaça.

ANDA: Você afirmou que a justiça é falha. Como foi esse processo de lutar para que os responsáveis por tirar a vida do Bentley fossem punidos?

Luiza Abduch: foi um processo muito intenso, onde tirei forças que eu nem sabia que tinha, fiquei dias sem dormir reunindo provas, fazendo roteiros, reunindo testemunhas, assistindo por horas as câmeras, pedindo ajuda, foi muito desgastante, mas não me arrependo de nenhuma noite em claro, a minha parte eu fiz, que foi lutar por justiça.

Bentley com um mês de vida (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

ANDA: Como foi o processo de luto pela morte do Bentley?

Luiza Abduch: Não foi fácil, foi um luto traumático, por conta da situação. Tenho crises de ansiedade e pânico desde março, atualmente tomo remédios. Foi psicologicamente desgastante, mais desgastante ainda quando fui desamparada pela justiça. Psicólogos dizem que a dor da perda de um cão, para um tutor que o amava muito, é igual a de uma pessoa querida, ou dependendo do nível de vínculo entre o tutor e o animal, até maior! Meu vínculo com ele era inexplicável.

ANDA: Desde que você iniciou uma mobilização nas redes sociais em busca de justiça, tendo inclusive criado um perfil no Instagram dedicado ao Bentley, muitas pessoas souberam da história e foram solidárias a você. Como tem sido receber esse apoio e o que ele significa diante da dor de perder seu cachorro de forma tão brutal?

Luiza Abduch: Eu costumo dizer que a única coisa bonita dessa tragédia toda na minha vida foi essa chuva de solidariedade e carinho que eu recebi. Quase todos os dias lindas mensagens de pessoas que sentiram a minha dor e se preocupam em me desejar um bom dia, se preocupam em mandar mensagens de carinho. Isso mostra que a cada duas pessoas ruins, existem milhares que fazem o mundo valer a pena, é confortante.

Chamado carinhosamente de Ben pela tutora, o rottweiler assassinado era considerado membro da família (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

ANDA: Antes do Bentley morrer, você adotou o Bruce, outro rottweiler, e recemente adotou o Bob, um cão sem raça definida que estava abandonado na rua. De que maneira os dois têm colaborado no seu processo de cura durante o luto?

Luiza Abduch: O Bruce foi a minha força nos primeiros dias, eu sentia vontade de deitar na cama e dormir até a dor passar, sabe? Mas eu sabia que eu era muito importante para ele, assim como ele é para mim, e que se eu me afogasse em tristeza, eu não ajudaria o Bruce a passar pelo processo de luto dele. Ele também sentiu, afinal, ele e Bentley eram inseparáveis! Bruce e eu fomos pilares um para o outro. Ele e o Bob me fazem esquecer de tudo, quando estamos nós três juntos! São, e vão continuar sendo muito importantes, dia após dia.

ANDA: Qual é a sua relação com o Bob, recém-chegado na família? Você relatou ter visto semelhanças comportamentais entre ele e o Bentley. O que isso significa pra você e quais são essas semelhanças?

Luiza Abduch: Bob se tornou muito especial para nós, ele apareceu no portão três meses após o Bentley partir, o engraçado foi que ele ficou mais de meia hora latindo no portão como se pedisse para entrar, colocamos ele para dentro por estar chovendo e nunca mais foi embora. No segundo dia, ele mordeu as patas traseiras do Bruce igual o Bentley fazia, eu até chorei.

Bentley, ainda filhote, passeando na praia ao lado de Bruce e da tutora (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

Ele tem muitas manias iguais, sinto como se ele fosse um presente, que foi treinado por três meses e guiado até o portão, sabe? Difícil acreditar, mas até o Bruce, que raramente aceita outros cães, aceitou ele de primeira, foi surreal a ligação entre os dois, no mesmo dia já dormiram colados.

ANDA: Se o Bentley, já em sua versão anjo, pudesse dizer algo a você, o que você acredita que ele diria?

Luiza Abduch: “pare de se culpar, eu fui feliz, e estou bem, um dia estaremos juntos.”

ANDA: E se você fosse dizer algo para o Bentley, qual seria seu recado para ele?

Luiza Abduch: Me perdoe não conseguir te proteger da maldade das pessoas ruins. Obrigada por cada momento, por ter sido tão perfeito, você foi a minha maior alegria. Sinto muito a sua falta, vou te amar para sempre e quando estiver pronto para voltar, quero ter a honra de ser escolhida novamente por você.

Confira mais fotos:

Luiza Abduch ao lado de Bentley e Bruce (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)
Bentley e Bruce eram inseparáveis (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)
Bruce foi adotado pouco tempo depois de Bentley chegar na família (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)
Bruce e Bob dão força para Luiza suportar a saudade que sente de Bentley (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)
Luiza carregando Bentley no colo (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)
Bentley era um cão dócil e carinhoso (Foto: Reprodução/Instagram/Luiza Abduch)

 

 

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