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Temporada de desova apresenta recorde de ninhos de tartarugas no ES

2 de fevereiro de 2012
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Foto: Projeto Tamar

A temporada de desova das tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea), que vai até março, já apresenta um recorde de ninhos nas bases do Projeto Tamar, no Espírito Santo. São 17 fêmeas diferentes marcadas, além de pelo menos mais cinco que estão desovando na porção Norte da área de monitoramento, em Guriri e Itaúnas. A expectativa é que sejam contabilizadas cerca de 120 desovas até o final da temporada, considerado um número excelente pelos pesquisadores (sobretudo se comparado à anterior, com 29 registros).

Não é só isso. O tamanho das fêmeas também tem chamado a atenção, diz Antônio de Pádua Almeida, gestor da ReBio Comboios/ES. A maioria apresenta o comprimento da carapaça entre 1,29 e 1,42m. Como a espécie pode atingir 1,80m de carapaça, isto sugere que são animais novos, provavelmente filhotes protegidos no início das atividades do Tamar, que estão sendo incorporados neste momento à população reprodutiva. “Como as tartarugas marinhas não desovam todos os anos (uma mesma fêmea volta a cada dois ou três anos para desovar), vamos ter que aguardar mais 3 ou 4 anos para ter certeza de que esta é uma tendência”, diz.

Enquanto isto, o trabalho de proteção dos ninhos nos 240 quilômetros de praias continua. Ações específicas para evitar a captura acidental em redes de pesca (somente neste ano, 5 tartarugas morreram afogadas após captura em redes de emalhe na região da foz do Rio Doce) vão ser intensificadas. Entre estas estão as ações de sensibilização junto aos pescadores, o monitoramento diário de redes e a busca de alternativas à pesca de emalhe na região.

Registros raros

No Brasil, as tartarugas-de-couro (ou gigantes) desovam com regularidade somente no litoral Norte do Espírito Santo. Mas a espécie foi encontrada, durante o mês de novembro, nos Estados do Ceará, Sergipe e Bahia, em episódios raros e diferentes situações.

Um macho foi capturado em um curral de pesca, tradicional armadilha utilizada em Almofala, base do projeto no Ceará. Havia um anzol no esôfago e restos de linha de pescaria enroscados na nadadeira, impedindo-o de nadar normalmente. Pesava 230 quilo e media 1.49 metro de comprimento de casco. Depois de tratado e reabilitado, foi liberado de volta ao mar, quatro dias após sua captura. Foi a segunda captura de uma tartaruga-de-couro registrada nesta região em 18 anos.

Outra ocorrência foi de uma fêmea, que subiu para desovar na praia da Caueira, no Abais, em Sergipe. Até então, isso nunca tinha acontecido no litoral do Estado. Nesta região predominam as tartarugas-oliva (Lepidochelys olivacea). A gigante, como o nome bem diz, mediu 1,53 metro de comprimento por 1,13 metro de largura de casco. O animal foi marcado com um código de identificação, durante procedimentos de praxe, e liberado ao mar.

Por fim, na Barra de Itariri, município de Conde (BA), um rastro e um ninho de tartaruga-gigante também foi encontrado. Essa espécie é a maior das cinco espécies que ocorrem no Brasil, com menor quantidade de ovos por ninho. Passa a maior parte da vida na zona oceânica. Embora a região reprodutiva seja o litoral do Espírito Santo, na foz do Rio Doce, há relatos de desovas ocasionais no Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Criticamente sob ameaça

A tartaruga-de-couro é considerada como criticamente em perigo de extinção e está exposta a vários riscos: pescarias costeiras e oceânicas matam centenas de adultos todos os anos, em diversas regiões do Atlântico Sul, por onde circulam; e as praias de desova estão sob forte pressão para implantação de empreendimentos industriais.

No litoral Norte do Espírito Santo, próximo à foz do Rio Doce, a espécie apresenta uma concentração regular de desovas no Brasil. Apenas 5 a 15 fêmeas desovam anualmente nesta região. Para o oceanógrafo e coordenador regional do Tamar no Estado, Joca Thomé, a situação é preocupante.

Recentemente, três fêmeas de tartarugas gigantes foram monitoradas através de telemetria por satélite, com o uso de transmissores instalados na área de desova no Espírito Santo. Uma delas morreu um mês depois, capturada em uma rede de pesca do robalo, na foz do Rio Doce (antes disto, a fêmea se deslocou por uma extensa área, entre os municípios de Anchieta e Conceição da Barra, numa extensão de mais de 300 quilômetros, em cerca de dez dias).

As outras duas se deslocaram para a foz do Rio da Prata, entre o Uruguai e a Argentina, voltando após alguns meses para a costa sudeste do Brasil. Uma delas teve as transmissões interrompidas após retornar ao litoral do Rio de Janeiro. A outra migrou da costa sudeste do Brasil para a África, cruzando o Atlântico, e parou de transmitir a cerca de 300 quilômetros da costa de Angola. Fêmeas marcadas na África, principalmente no Gabão, têm sido encontradas mortas na costa do Brasil, o que ilustra a importância de esforços internacionais para a conservação desta espécie.

Foto: Reprodução

Entenda o drama

Cada fêmea de tartaruga-de-couro desova pelo menos seis vezes por temporada, mas é a espécie com menor quantidade de ovos por ninho, cerca de 90. Uma cabeçuda (Caretta caretta), por exemplo, pode chegar a colocar 120 ovos de uma vez. O intervalo entre as desovas varia de 8 a 11 dias.

Normalmente, a tartaruga-gigante sai da água enquanto a maré sobe, o que diminui a energia gasta em seu deslocamento na areia. Suas áreas de desova são limitadas às praias arenosas, sem a presença de recifes ou rochas que possam provocar ferimentos devido ao seu grande peso.

Seu casco é preto-azulado, com quilhas brancas longitudinais e salpicado por manchas brancas. Bem desenvolvido, é formado por pequenos ossos organizados lado a lado e cobertos por uma camada de couro que o torna mais flexível (ao contrário das demais espécies). Essa característica possibilita mergulhos a grandes profundidades (superiores a 1.500m), em busca de alimento (águas-vivas e outros organismos semelhantes).

Como diz o seu nome comum, é a maior das espécies de tartarugas marinhas do mundo. Pode atingir dois metros de comprimento e atingir até 750 kg. É também a que tem distribuição mais abrangente: vive em todos os oceanos, atingindo águas subpolares. A estimativa mundial é de uma população em torno de 50 mil fêmeas em idade reprodutiva.

Fonte: Terra da Gente 

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