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Tartarugas ameaçadas praticam canibalismo em centro que vende carne da espécie

5 de junho de 2017
4 min. de leitura
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Esta é considerada uma rara “oportunidade” de entrar em contato com tartarugas-marinhas verdes ameaçadas de extinção, uma espécie migratória cujos números têm diminuído devido à caça de ovos, à destruição dos habitats e ao enredamento em redes de pesca.

Tartarugas amontoadas em centro
Foto: Neil D’Cruze

O que muitos visitantes não sabem é que o local é também é uma fazenda que cria tartarugas-marinhas raras em cativeiro e que são mortas por suas carnes, um prato tradicional na região.

Porém, o comércio da carne é apenas parte da razão pela qual essa propriedade governamental é criticada por organizações de proteção animal.

A indignação se relaciona também a forma como os animais são tratados, diz Neil D’Cruze, pesquisador da World Animal Protection, organização sem fins lucrativos sediada em Londres (Inglaterra) que visa acabar com criação de tartarugas-marinhas.

“Elas são mantidas em tanques de concreto rasos no Cayman Turtle Center, conhecido como Cayman Turtle Farm até o último ano. Na natureza, as tartarugas-marinhas são solitárias e apenas se juntam para a reprodução. Na fazenda, centenas podem ficar em uma única piscina por vez”, diz.

As tartarugas também podem ferir umas às outras. Há vários anos, a World Animal Protection obteve fotos de animais explorados no centro perdendo pedaços de suas nadadeiras, que são lesões que sugerem que as tartarugas praticaram o canibalismo por causa da superlotação e do estresse.

As tartarugas precisam de cuidados especiais. Tanto que, quando a organização de proteção Sea Turtle Conservancy procurava maneiras de ajudar a recuperar a espécie nas décadas de 1950 e 1960, a ideia de criar os animais foi rejeitada.

Duas tartarugas exploradas pelo centro
Foto: Neil D’Cruze

“Em última análise, descobrimos que existem diversas outras formas mais eficazes de recuperar tartarugas, sendo que a principal é tirá-las do cardápio”, destaca David Godfrey, diretor executivo do grupo.

Ainda assim, o Cayman Turtle Center descreveu a campanha do World Animal Protection contra a criação de tartarugas como um “sensacionalismo enganoso”.

Situação comovente

Em 2015, Amy Souster, treinadora do centro de Cayman, desistiu depois de testemunhar o que ela chama de “uma situação dolorosa diariamente”.

“Tudo o que você conseguia ver eram as cabeças de tartaruga subirem à superfície”, conta.

Hoje, ela lidera uma unidade da Royal Society para Prevenção de Crueldade contra Animais (RSPCA) no Reino Unido. “Elas estavam constantemente lutando para chegar à superfície para respirar. Todas as tartarugas que você conseguia ver tinham ferimentos e marcas de mordida das outras que ficam empilhadas uma sobre a outra”, acrescenta.

Segundo Souster, trabalhadores responsáveis pela manutenção, encarregados de drenar e reabastecer as piscinas com água fresca todos os dias, espalharam pó de cloro diretamente sobre as tartarugas e ao redor delas, que não foram removidas das piscinas durante a limpeza. Cada vez que ela manifestava suas preocupações, era ignorada.

“Isso me deixou completamente desamparada e apenas mortificada. Não havia nada que eu pudesse fazer “, relata.

Apesar as evidências de crueldade no Cayman Turtle Center e as preocupações com o comércio da carne de uma espécie em extinção, quase todas as principais linhas de cruzeiros que atravessam a região oferecem excursões aquáticas para o centro, destacando a “oportunidade de segurar e nadar com os animais”.

Tartaruga em piscina do local
Foto: Neil D’Cruze

Cerca de 70% dos 200 mil visitantes anuais do Cayman Turtle Center são de navios de cruzeiro, apontou um estudo de impacto econômico encomendado pelo Ministério do Turismo, que supervisiona a operação.

A Disney Cruise Line parece ser a única empresa a reconsiderar as excursões para o que a World Animal Protection descreveu como “uma das atrações mais cruéis do mundo”, com base na pesquisa acadêmica que realizou em conjunto com a Unidade de Proteção de Animais Selvagens da Universidade de Oxford.

No final de 2016, a Disney retirou o centro da sua lista de atrações para excursões de Cayman.

A reportagem da National Geographic também procurou a Carnival Corporation (Carnival Cruise Line, Princess Cruises, P & O Cruises), a Royal Caribbean Cruises Ltd. (Royal Caribbean International e Celebrity Cruises) e a Norwegian Cruise Line, que oferecem excursões para o Cayman Turtle Center.

Uma porta-voz da Carnival Corporation argumentou em um e-mail que a indústria de cruzeiros levou um avaliador à instalação há vários anos e que “os resultados demonstraram que padrões estavam sendo atendidos”.

De maneira inacreditável, o centro afirma que o fornecimento de carne das tartarugas criadas em cativeiro ajuda na proteção das selvagens.

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