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VULNERABILIDADE

Sem energia elétrica e aquecedores, animais selvagens morrem de hipotermia em zoos na Ucrânia

17 de março de 2022
Bruna Araújo | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: REUTERS | Gleb Garanich

O proprietário e fundador do zoo XII Months (12 Meses, em tradução livre), na vila de Demydiv, na Ucrânia, acredita que em poucos dias os cerca de 350 animais que mantém em cativeiro estarão mortos em razão do frio. Com a intensidade dos bombardeios, a região está sem energia elétrica há dias e, sem aquecedores, alguns animais morreram de hiportermia. Sem assumir a responsabilidade pela situação de vulnerabilidade dos animais aprisionados, o empresário faz um apelo para que organizações ajudem a retirar os animais do local, que está em situação crítica.

Em entrevista à Fox News Digital, ele disse que se não conseguir auxílio para o resgate dos animais, espera pelo menos comover o governo russo a poupar os zoológicos. “[Estou tentando] chamar a atenção e de alguma forma persuadir as tropas [russas], seus comandantes, seus políticos, que os animais são criaturas inocentes e essas são as vidas que temos e devemos salvar, e eles não têm nada a ver com isso [guerra]. Eu realmente espero que eles [animais] não morram assim”, disse o o fundador do zoo XII Months.

Ele afirma ainda que além da falta de aquecedores, há também pouca comida para os animais, que estão recebendo quantidades abaixo do necessário. O zoo está sobrevivendo com alimentos doados pela Cruz Vermelha. A única chance dos animais sobreviverem, é deixando o local ou dando fim à guerra. “Para resumir, vemos que a única saída para nós é que eles nos deixem entrar, trazemos diesel e comida para animais de grande porte e depois podemos tirar alguns menores. É uma questão de morte de fome e frio, e está chegando muito em breve, eu sei disso”, pontuou.

Vulnerabilidade

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia (@MFA_Ukraine) postou em seu Twitter as denúncias de ativistas pelos direitos animais que o exército russo está mirando propositalmente em zoos e abrigos de animais ucranianos. Há muitos cães e gatos feridos presos embaixo de escombros. De acordo com as denúncias, os russos também cortaram o fornecimento de energia elétrica de zoos e abrigos e sem o aquecedor, muitos animais estão sofrendo de hipotermia e morrendo.

Ativistas e representantes de abrigos disseram ao Ministério que estão sobrecarregados e que seus telefones pessoais não param de tocar com pedidos de resgate. Muitos voluntários optaram por arriscar a própria vida para ficar na Ucrânia cuidando dos animais, mas não há pessoas o suficiente para atender todas as demandas. Há cães, gatos e coelhos que foram deixados sozinhos em casa pelos tutores que fugiram da guerra e estão sofrendo com o frio e a fome. Outros foram atingidos por bombas.

Ataques covardes

Bombas russas atingiram dois abrigos, um em Gorlovka e outro em Donetsk, ambos no leste da Ucrânia. Não há estatísticas oficiais, mas segundo informações do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW), muitos cães e gatos morreram, as estruturas dos locais sofreram sérios danos e muitos animais, apavorados, fugiram. Voluntários estão se dividindo entre resgatar os animais que correram em direção a zonas de confronto e cuidar dos animais que ficaram feridos com estilhaços.

A IFAW afirma que destinou cerca de £ 114.000 em ajuda de emergência e pede que outras organizações internacionais enviem suprimentos e auxílio. James Sawyer, diretor da entidade, afirma que, infelizmente, não é possível enviar voluntários para ajudar presencialmente, o que, sem dúvidas, seria de grande valia nesse momento. “A coisa mais útil agora é fornecer recursos aos grupos locais. Não podemos colocar botas no chão, é muito perigoso”, disse ao The Mirror.

O abrigo Holivka, localizado em Gorlovka, acolhe aproximadamente 300 animais e foi gravemente afetado. “Os funcionários dos abrigos ainda estão no local e forneceremos recursos para que eles possam continuar cuidando dos cães. As condições são muito difíceis”, disse James, que está em contato direto com a equipe do local. Os voluntários que aceitaram arriscar suas vidas para proteger os animais contam que não há energia elétrica e não podem fazer fogueiras.

O abrigo Pif, em Donetsk, foi o que sofreu mais danos, com dezenas de cães e gatos mortos e muitos animais feridos. O local acolhe 800 animais e está lutado para se manter de pé. A maior preocupação dos voluntários é a falta de suprimentos. Com o dinheiro que receberam, eles conseguiram comprar poucos estoques de fornecedores locais, mas se a guerra se prolongar por muito mais tempo, os animais ficarão sem comida e medicamentos.

James afirma estar surpreso com os ataques russos, que não estão poupando hospitais e abrigos, zonas consideradas neutras. “É bastante incomum vermos abrigos de animais sendo atacados de forma gratuita e covarde. Eles não são particularmente um alvo de guerra”. Apesar das dificuldades, ele esclarece que não deixará de ajudar. “Estamos trabalhando duro globalmente nessa questão. Continuaremos muito comprometidos com os animais”, pontuou.

O clima nos abrigos é de tensão. Voluntários explicam que os cães e gatos mantidos nos locais estão desenvolvendo sinais de intenso sofrimento emocional e muitos estão buscando lugares para se esconder. Eles também sentem a tensão que envolve toda a equipe e estão extremamente introspectivos. “Queremos muito paz. Estamos extremamente cansados ​​mental e fisicamente”, finalizou uma voluntária.

Cativeiro e vulnerabilidade

O zoológico de Feldman, em Kharkov, foi atingido por bombas russas. Informações divulgadas pela equipe do local afirmam que veados e várias espécies de macacos morreram com as explosões. Existe ainda a possibilidade de mais animais terem sido atingidos, pois o zoo é grande e com a guerra, há poucos funcionários para realizar uma vistoria.

Dados da BBC apontam que ocorreram pelo menos 50 relatos de explosões na área onde fica o zoológico, que acusa o ataque de ser proposital. “Não podemos dizer que foi um acidente. Ao nosso redor há apenas floresta e uma estrada, eles queriam nos atingir mesmo não sendo um alvo militar”.

Os funcionários do zoo confirmam que os animais estão em risco. “Os animais vivem em vastas áreas naturais e ainda não podemos ter uma estimativa certa dos danos. Neste momento é impossível pensar em movê-los ou escondê-los em algum lugar”, disse o Feldman em nota.

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