Os machos das cacatuas-das-palmeiras da Austrália não apenas conseguem acompanhar o ritmo, mas também criam suas próprias baquetas e passam as habilidades para seus filhos, revela uma nova pesquisa conduzida pela Universidade Nacional Australiana, sob a liderança do professor Rob Heinsohn.
Essas aves coloridas demonstram sua capacidade de fabricar instrumentos musicais únicos a partir de galhos e vagens de sementes duras. De acordo com Heinsohn, um macho de cacatua realiza um ato ostensivo de quebra de galho na frente de uma fêmea, exibindo força, antes de moldá-lo conforme suas preferências individuais.
Cada cacatua macho desenvolve sua própria preferência em relação ao material, formato e tamanho das baquetas que confecciona. Como descreve Heinsohn, “Alguns os deixam longos e magros… outros os tornam curtos e gordos.”
Após a exibição, o macho simplesmente descarta sua criação, e esse comportamento singular contribui para a distinção de cada cacatua-palmeira. Essas aves, encontradas na península de Cape York, no extremo norte de Queensland, são reconhecidas por seus talentos musicais desde a década de 1980. Cada macho possui um ritmo único, parte de seu ritual de acasalamento.
Heinsohn, envolvido na pesquisa sobre cacatuas-das-palmeiras há anos, afirma que consegue identificar o pássaro responsável pelo som da batida. Os pesquisadores perceberam a singularidade das baquetas de cada cacatua ao coletar centenas de ferramentas descartadas por machos que visitavam uma árvore de exibição.
De acordo com Heinsohn, “Não há outro pássaro que faça uma ferramenta para usar em uma exibição como esta.”
Surpreendentemente, os pesquisadores descobriram que não havia semelhanças entre as ferramentas das cacatuas próximas, destacando a individualidade desses pássaros em suas preferências. Os filhotes permanecem com seus pais por vários anos, observando atentamente o processo artesanal de criação das baquetas. No entanto, são necessários pelo menos 10 anos para que aprendam e aperfeiçoem essa habilidade.
A cacatua-palmeira foi classificada como ameaçada de extinção em Queensland em 2021. Esse status se deve, em parte, ao fato de que as fêmeas dessa espécie costumam botar ovos a cada dois anos, sendo que muitos deles são capturados por predadores. A complexidade dos rituais de acasalamento também contribui para a baixa taxa de natalidade. Além de tocar tambor, as cacatuas-palmeiras realizam movimentos de balanço de cabeça e emitem até 30 chamados diferentes para atrair um parceiro. Embora designs e ritmos de ferramentas específicos não sejam necessariamente mais eficazes, as fêmeas demonstram ser muito seletivas, preferindo machos proficientes em todas as habilidades de acasalamento.
No futuro da pesquisa sobre cacatuas-de-palmeira, Heinsohn planeja investigar se os machos adaptam suas baquetas para produzir um som específico nas cavidades de ninhos. Essas descobertas foram publicadas no artigo “Individual Preferences for Sound Tool Design in a Parrot,” na revista Proceedings of the Royal Society London.