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Rinhas de galo: ringues de sangue

6 de novembro de 2015
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Divulgação
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Com uma frequência muito acima do que seria desejável, a Polícia Militar Ambiental de Sorocaba localiza locais clandestinos na região onde são promovidas as brigas de galo. A última ocorrência foi registrada no último sábado quando por meio de uma denúncia anônima, os policiais localizaram uma chácara no bairro Horto Florestal onde se realizava a prática ilegal. Onze adultos, entre apostadores e donos das aves, foram detidos e o Conselho Tutelar precisou ser acionado para tomar providências legais com relação à presença de duas crianças no local. Vinte e um galos foram resgatados e alguns deles estavam feridos, possivelmente, por terem participado de alguma luta realizada anteriormente. A briga de galo é uma prática violenta que geralmente leva à morte uma das aves colocadas em combate. Por incrível que pareça, em pleno século 21 há quem aprecie os combates sangrentos dos animais e há também os que lucram bastante com as apostas que acontecem nas rinhas. O local descoberto no último sábado, onde existem três ringues para lutas, foi palco de brigas de galo no último dia 3 de outubro, afiançou um dos denunciantes anônimos. No flagrante de sábado, os animais ainda não haviam participado de lutas, pois estavam em caixas de papelão, mas algumas aves tinham ferimentos, certamente em decorrência de lutas anteriores.

A rinha ou briga de galo, segundo estudiosos, teve origem na Índia ou em Medina, uma região da Ásia Menor e os primeiros documentos sobre a prática datam do ano 1.400 a.C. Ao longo da história, o galo esteve presente de várias formas na humanidade: como ave que espanta os maus espíritos, como no Irã; como ave sagrada no código Mamu indiano; como modelo e inspiração de artistas e coleções de arte em vários museus do mundo, ou na Grécia, onde aparece na cimeira de Minerva, junto dos deuses Marte e Mercúrio, e em milhares de moedas e escudos. Dizem os historiadores que na Grécia Antiga, foi assistindo a uma briga de galos em uma praça de Atenas, antes da batalha de Samalima, que o general grego Temístocles se inspirou para discursar aos seus guerreiros, apelando para sua coragem. Ele lhes perguntou se estavam dispostos a defender a liberdade da pátria, tal como os galos morriam pelo prazer de vencer. As brigas de galo, mais ou menos como as conhecemos, chegaram à Europa por meio dos romanos, sendo muito difundidas mais tarde na França (que tem o galo como seu símbolo nacional), Inglaterra e Espanha, que através dos conquistadores difundiu a prática por toda a América Latina, onde é muito popular em diversos países e uma atividade altamente lucrativa.

No Brasil, onde as rinhas chegaram com os colonizadores portugueses e espanhóis, a sua proibição remonta à década de 1940. Um decreto-lei de 1941 (lei das contravenções penais) previa em um de seus artigos, prisão de dez dias a um mês a quem tratasse animal com crueldade ou o submetesse a trabalho excessivo. Mas a medida mais polêmica com relação à briga de galos foi um decreto assinado pelo presidente Jânio Quadros em 18 de maio de 1961 que proibia a prática em todo território nacional. Esse decreto do ex-presidente saiu na mesma época em que ele proibia o biquíni nas praias, o lança-perfume e beijos entre namorados em locais públicos. O decreto de Jânio foi revogado em 1962 pelo então primeiro-ministro Tancredo Neves. Em legislação mais recente (artigo 32 da lei 9.605), entretanto, foi classificado como crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. A pena prevista é de detenção de três meses a um ano, mais multa.

Embora a prática da briga de galo esteja arraigada em muitas regiões do país — em Sorocaba, no início do século passado, era considerado como esporte pelos jornais — o fato é que há uma violência absolutamente condenável nessa prática ilegal. Os animais, como os resgatados no último sábado, são mutilados, têm suas esporas arrancadas e substituídas por peças de metal durante a luta. E um dos “lutadores” sempre acaba morto ou mutilado. Nenhuma atividade de lazer justifica a crueldade com que esses animais são tratados, uma prática primitiva que precisa ser eliminada. Uma vergonha nacional.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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