Em meio às polêmicas de suspeita de corrupção, a Comissão Baleeira Internacional (CBI) está reunida em Agadir, no Marrocos, com o objetivo de chegar a um acordo entre partidários e críticos da caça. A 62ª sessão da CBI, criada em 1946 para regular a pesca às baleias, examinará até a próxima sexta-feira um projeto de acordo para colocar um ponto final a 25 anos de conflito entre seus membros, que se desentendem desde a entrada em vigor, em 1986, da moratória à caça. O plano já deve ser examinado na plenária desta quarta.
Os 88 países membros da Comissão concordaram em se encontrar em sessão fechada para decidir se adotam um esboço de estratégia que permita à Noruega, à Islândia e ao Japão caçar legalmente baleias ao redor da Antártida e em outros locais por mais dez anos, em troca de uma queda gradual no número de animais capturados. A proposta, que significa autorizar a pesca comercial, não determina, porém, o que ocorrerá quando esse período interino for concluído.
Para o Japão, que apoia o fim da moratória no caso de caça para pesquisa científica, a iniciativa permitiria caçar 400 baleias minke em águas do oceano Antártico entre 2011 e 2015, para depois reduzir esse número para 200 entre 2015 e 2020. Atualmente a frota baleeira japonesa captura cerca de mil cetáceos em águas antárticas a cada ano. Mas no ano fiscal de 2009 (que terminou em março), só caçou a metade desse número devido às sabotagens de ativistas ambientais. Noruega e Islândia, que também criticam a moratória, foram responsáveis pela pesca de cerca de 500 exemplares.
A União Europeia, liderada pelo Reino Unido, adotou uma posição comum no final de semana, contra a retomada de qualquer tipo de caça às baleias. No entanto, Estados Unidos e Nova Zelândia continuam a endossar fortemente as medidas propostas pelo presidente da CBI. O plano apresentado não convence nem Tóquio, que o considera restritivo demais, nem países como Austrália, que o veem permissivo demais. Apesar disso, os nipônicos se mostraram dispostos a “negociar”.
Questão crucial
De acordo com representantes europeus e africanos envolvidos nas discussões da CBI, os dois pontos mais importantes da reunião são determinar o que acontecerá quando o período interino for concluído e o tom com que os países contrários à caça vão negociar com o Japão. “Para chegar a um compromisso”, considerou o delegado alemão Gert Linnemann, “será necessário determinar o que acontecerá após dez anos”.
Segundo a a ministra adjunta da Agricultura marroquina, Yasue Funayama, é difícil exigir que a caça não ocorra mais nos santuários de baleias, criados no Oceano Índico e no Austral. O Japão, que pesca nessas regiões, de nenhuma forma aceitaria acabar com uma tradição cultural muito marcada pelo nacionalismo nipônico. “Nessa negociação, uma cota final zero é impossível de ser aceita pelo Japão”, advertiu ela nesta segunda. “Se o Japão for atacado, pode sair da CBI e ninguém poderá então fazer nada pelas baleias”, advertiu um diplomata europeu.
Polêmica e corrupção
O anúncio da CBI de fazer dois dias de trabalhos a portas fechadas para tentar pacificar o terreno e abrir caminho para as negociações não agradou as três maiores ONGs do mundo (WWF, Greenpeace e Pew). “Mas o que é que escondem? Isso proporciona a teoria da conspiração”, disse Rémi Permentier, porta-voz do Pew Environment Group (que conta com o estatuto oficial de observador).
Como o presidente chileno da CBI, Cristián Marquieira, está ausente por motivo de doença, a reunião será presidida pelo vice-presidente do organismo, Anthony Liverpool, de Antígua e Barbuda (a ilha caribenha vota tradicionalmente a favor do Japão).
Segundo reportagem do Sunday Times, a fatura de hotel de Liverpool, em Agadir, está sendo paga por um empresário japonês. O jornal informou ainda que representantes africanos e caribenhos admitiram ter votado a favor da caça, após terem recebido promessas de ajuda, dinheiro e prostitutas do Japão.
Apesar das denúncias publicadas pelo diário britânico, as grandes organizações não governamentais estimam que a reunião de Agadir pode terminar com um acordo. “Ou se chega a um acordo ou se mantém o statu quo, que não satisfaz ninguém”, disse Susan Liebermann, diretora de políticas da Pew.
Espécies em extinção
A caça mata aproximadamente 2 mil baleias por ano, incluindo espécies à beira da extinção como a baleia azul (Balaenoptera musculus), a cinza (Eschrichtius robustus), a franca do norte (Eubalaena glacialis) e a bowhead, ou cabeça-redonda (Balaena mysticetus). Conforme dados do Animal Welfare Institute, em Washington, nos EUA, desde que a moratória foi introduzida há 25 anos, aproximadamente 33 mil baleias foram mortas.
Fonte: Terra
Nota da Redação: Lamentável que uma séria decisão como esta esteja nas mãos de algumas pessoas que, para acabar com a briga, sacrifiquem animais inocentes. São mentalidades que funcionam baseadas nos números, no comércio e na materialidade, ignorando a importância da vida e desconsiderando o sofrimento de outros seres. Reduzir o número de baleias cruelmente assassinadas significa aceitar que a vida de cada uma delas não tenha importância. Invisíveis em meio a uma “massa” de 1.000, 500 ou 200, são apenas números resultantes da conta feita nesta reunião. Ainda que fosse permitido a qualquer destes países o assassinato de apenas um animal, a decisão seria a demonstração da frieza da sociedade atual e da cegueira em relação à vida.