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CASO FILÓ

'Que seja livre, não humanizada': agente do Ibama critica volta de capivara à casa de influencer e cita mortes de outros animais silvestres

Analista ambiental Roberto Cabral publicou um vídeo onde reforça motivos que levaram a multa e apreensão de Filó, que já foi devolvida a Agenor Tupinambá, após decisão judicial

1 de maio de 2023
4 min. de leitura
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Foto: Reprodução | Deputada Joana Darc

O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) Roberto Cabral publicou um vídeo em sua rede social onde critica a decisão da Justiça Federal que garantiu a volta da capivara Filó à casa do influenciador digital Agenor Tupinambá, de 23 anos. O agente garante que o melhor para ela é a reintrodução ao convívio com outros de sua espécie, e não sua “humanização” e exploração. Também explica em detalhes os motivos que, segundo ele, levaram ao resgate do animal silvestre. O rapaz, que foi multado em R$ 17 mil, seria suspeito pelas mortes de outros bichos e, destaca o profissional, possui conhecimento necessário para saber que estava infringindo a lei. O caso tem gerado debate e acabou dividindo opiniões na internet entre quem defende o cumprimento das normas ambientais previstas e quem se sensibiliza com a relação entre o humano e a capivara.

“Não se trata de uma discussão apenas sobre uma capivara. Outra capivara teria morrido, duas preguiças, sendo que uma morreu, duas jibóias, uma paca, uma arara, dois papagaios, uma coruja, uma aranha… ou seja, uma série de animais que foram explorados de forma ilegal para se conseguir likes (curtidas, engajamento) na internet. Isso é proibido no Brasil. Tanto o cativeiro, quanto a exploração desses animais, principalmente porque eles não têm origem legal”, diz o agente do Ibama.

Cabral também destaca que Agenor não é um ribeirinho da região, mas um fazendeiro. Ele afirma que o jovem, além do perfil de influenciador digital – já são 2,1 milhões de seguidores no Instagram e 1,8 milhão no TikTok – cursa faculdade de Agronomia em Manaus e tem estudo suficiente para saber que precisaria de uma autorização para domesticar a capivara e outros animais silvestres.

“Trata-se de um influencer, não de um ribeirinho. Ele não é um ribeirinho. É um fazendeiro, um peão boiadeiro, não é uma pessoa hipossuficiente. É um influencer com milhares (na verdade, milhões) de seguidores. Inclusive, com assessoria de marketing e assessoria jurídica. Não é uma pessoa que desconhecia leis. É um estudante de Agronomia e que estuda em Manaus, onde está o Ibama. Então, ele poderia já ter em algum momento procurado o Ibama e entregue os animais. Vamos supor que ele tivesse encontrado a capivara e ela estivesse em situação realmente de perigo, necessitando de auxílio, socorro. Ele poderia ter entregue esses animais ao Ibama”.

Por fim, ele garante que o órgão seguirá na tentativa de garantir que Filó seja reintroduzida à natureza.

“A decisão judicial prejudica e muito a reintrodução desse animal. O melhor destino para a capivara não é ficar numa casa, lembrando que a área é desmatada e não existem capivaras ali naquele local. O melhor para ela é ser realmente livre, junto com outras da sua espécie. Nós lutaremos para que o melhor destino para ela seja cumprido. Que seja livre, mas realmente livre, com outras de sua espécie, e não sendo humanizada”.

A reportagem pediu um posicionamento a Agenor Tupinambá sobre as declarações do analista ambiental, mas ainda não obteve retorno. Filó voltou à casa do influencer, após a decisão judicial. Durante a retirada do animal na sede do Ibama, houve confusão protagonizada pela deputada estadual do Amazonas Joana Darc (União Brasil), que tem como principal bandeira a defesa dos animais e está engajada com Tupinambá desde que o caso ganhou repercussão. Ela se ajoelhou, exigiu a liberação do animal e chegou a pedir que um delegado, que tentava contê-la, a algemasse.

“Transferência da filó do cativeiro para o seu habitat após decisão judicial. O melhor lugar sempre foi onde ela sempre viveu!”, comemorou nas redes.

O influenciador fez uma vaquinha nas redes sociais, para arrecadar os R$ 17 mil referentes à multa aplicada pelo Ibama. Tamanha foi a mobilização de seus seguidores, que ele conseguiu arrecadar R$ 83,3 mil – 493% acima da meta. “O total do valor arrecadado será para contribuir com o meu caso, e prestarei contas de tudo. E caso qualquer ação legal diminua ou cancele o valor das multas, eu me comprometo em fazer doações para institutos que promovam o bem-estar dos animais”, escreveu.

Fonte: O Globo

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