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Proteção animal: os fins não podem justificar os meios

6 de abril de 2010
3 min. de leitura
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Mais um ano se passou e, fazendo um balanço das atividades realizadas, algumas perguntas nos perseguem: fizemos tudo o que deveríamos ter feito? O que faltou? Se fizemos tudo, por que a realidade não mudou para os animais?

Na tentativa das respostas, vem o alento. Cada um fez o que acreditava que devia ser feito, dentro de suas possibilidades, conhecimento e limitações. E, se nada mudou, é porque temos visão limitada e/ou pressa nos resultados, que só virão por ações a serem realizadas, que não dependem de nós. Ou porque agimos com outros interesses, que não os interesses dos animais. E essa parte, quando ocorre, é a mais difícil de aceitarmos.

O que colocamos à frente de nossas ações é realmente o interesse dos animais? Talvez a resposta a esta pergunta nos deixe um pouco desconfortáveis. Porém, certo desconforto é saudável, se gerar um produto eficiente e não apenas frustrações.

A resposta a esta pergunta é mais importante, para nós, do que qualquer das outras acima. Pois ela dá o norte de nossas ações futuras. As ações passadas já se foram, resta fazer alguns remendos e correções. E sempre é tempo de consertar algo que saiu errado e isso só nos engrandece.

Se temos interesses a atender é preciso colocá-los em seus devidos “is”. Necessário é refletir, com muita responsabilidade e consciência, a quem nossas ações estão servindo, aos nossos interesses (pessoais, profissionais, religiosos), aos interesses de terceiros (instituições, governo, empresas) ou aos interesses daqueles que dizemos estar atuando em benefício: os animais.

Desculpas para aliviar a própria consciência, que não vão de encontro ao respeito e garantia da vida e da liberdade dos animais, não podem estar nas metas das ações daqueles que dizem que atuam pela sua defesa. A luta pelos animais deve estar calcada na defesa e garantia de suas vidas, no mínimo. E a defesa de uns não pode estar calcada na exploração de outros. Ações que pactuam com a morte, com o sofrimento, com o extermínio, com o uso e a exploração estão fora do contexto das ações de defesa dos animais, num sentido amplo.

Restringir a defesa dos animais à redução de seu sofrimento aceitando, porém, a continuidade de sua exploração e, pior, incentivando o aumento da quantidade de animais explorados em função de algumas ações de “proteção” é, no mínimo, um contrassenso, um ato condenável.

O que assistimos, na prática, é que numa sociedade essencialmente materialista onde o que predomina é o lucro e o acúmulo de capital, as falsas ações protecionistas para os animais ganham força, justamente por atenderem aos interesses daqueles a quem a exploração da vida dos animais importa: os mesmos agentes da violência contra o ambiente e os animais, que detêm o poderio econômico, oferecerem dinheiro fácil àqueles que vivem de chapéu na mão e para os quais qualquer migalha oferecida é bem-vinda, diante de ações imediatistas e desesperadas em prol de algumas espécies animais. Multiplicam-se os chapéus. E o silêncio acaba imperando. Vozes caladas. E a maioria da bicharada explorada, abandonada, sentenciada, num país que tem mais boi do que gente.

Como exercer o papel de cidadão nesse cenário?

Importante que cada entidade ou instituição que tem como missão a defesa dos direitos animais faça uma reflexão interna para 2010, para que não recaia na triste sina que impera em nossa sociedade: os fins justificando os meios.

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