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CONSCIÊNCIA

Produtos de beleza que não são testados em animais são cada vez mais exigidos

Pressionada pelos próprios clientes, marcas de cosméticos se veem obrigadas a investir em métodos sem exploração animal para a testagem de seu portfólio

5 de fevereiro de 2022
6 min. de leitura
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Foto: Ilustração/Pixabay

Em um tempo não muito distante, o crivo para a escolha de produtos de beleza se resumia à marca, qualidade do cosmético e ao melhor custo-benefício. Sua forma de produção, pouco interessava à grande parte dos consumidores. Em nome da beleza, a indústria de cosméticos realizou, e ainda realiza, testes cruéis em animais. Lançado em 2021, o curta-metragem “Salve o Ralph” chamou a atenção mundial sobre a crueldade por trás desse mercado. A “rotina de trabalho” do personagem principal, não por acaso, um coelho, mostra a que tipos de testes ele é submetido diariamente.

A ação faz parte da campanha global promovida pela Humane Society International (HSI) para conscientizar e proibir a prática. Abolidos em 40 países, inclusive o Brasil, os testes ainda são regulamentados em lugares como a China, onde são obrigatórios por lei. “Eu tô cego no olho direito e essa orelha não consigo ouvir nada a não ser zumbido. Meu pelo já foi raspado, tenho queimadura química nas costas”, diz o personagem, já no início da trama.

Nos bastidores das grandes marcas, estavam os chamados testes Draize, criados em 1944 e realizados em coelhos vivos e conscientes, mantidos imobilizados, enquanto produtos químicos eram testados em seus olhos e pele, causando dor e lesões irreversíveis. “Há cinco anos fico atenta na hora de escolher marcas para comprar cosméticos. Gosto de cuidar da pele, do cabelo, mas não acredito que a exploração animal possa ser praticada em nome da vaidade”, diz a estudante de engenharia Luiza Romani Sofal, de 21 anos.

A tortura de seres vivos em nome da beleza pode, de alguma forma, ser justificável? Questionamentos como esse fizeram surgir, em 1980, um movimento nos Estados Unidos que pressionou a Revlon, maior fabricante de cosméticos do país, a investir em métodos alternativos para a testagem de produtos. À época, anúncio de página inteira foi publicado no jornal The New York Times com os seguintes dizeres: “Quantos coelhos a Revlon cega em nome da beleza?”. A marca reviu seus conceitos, mas segue comercializando produtos na China. “Faço questão de pesquisar sobre a marca antes de comprar. Em quais países ela atua, suas parcerias e patrocínios. Detalhes que mostram se, de fato, a empresa não apoia a crueldade animal”, diz a professora de inglês Maria Eduarda Brandão, de 21 anos.

Em 1989, a Avon divulgou que havia desenvolvido um material sintético chamado Eytex, que poderia servir de substituto para o teste Draize. Comprada pela gigante brasileira Natura, em 2019 informou que entrou para a lista da ONG americana People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) com empresas que não vendem produtos que precisem de testes em animais em nenhum lugar do planeta. “A Natura tem um compromisso histórico com a sustentabilidade. Em 1983, nos tornamos a primeira marca de cosméticos no Brasil a adotar refis no portfólio. Desde 2007, somos 100% carbono neutro e desde 2006 não testamos em animais”, diz Roseli Mello, diretora global de inovação da companhia.

A multinacional L’Oréal, detentora de marcas como Niely, Maybelline, Kérastase, Redken, Colorama e Lancôme, afirma que não testa nenhum de seus produtos ou ingredientes em animais. No entanto, como seus produtos são vendidos na China, a marca ainda figura na lista negra da PETA. Cada vez mais, a exigência por produtos livres de exploração animal tem se tornado condição determinante para o consumo das marcas de cosméticos, levando os laboratórios a investir em alternativas sustentáveis como o cultivo de células-tronco, o uso de materiais sintéticos e as simulações de computador.

Um movimento que começou tímido, mas ganhou proporção a ponto de levar empresas tradicionais do setor a anunciarem a completa veganização de seus portfólios. “A participação da sociedade tem suma importância na efetivação do combate à exploração animal. Se o consumidor não compra, a marca é obrigada a se reposicionar”, diz a enfermeira Kenia Sanches, de 41 anos, que só utiliza produtos que tenham o selo cruelty-free.

Foto: Divulgação

Além de não serem testados em animais, os produtos veganos também não apresentam nenhum ingrediente de origem animal em sua fórmula. A inglesa The Body Shop foi uma das primeiras marcas globais a se posicionar, ainda em 1988, a favor do fim dos testes, contribuindo para a proibição da prática no Reino Unido. Atualmente, a marca já conta com 60% do seu catálogo vegano, com perspectiva de atingir 100% até 2023. Outro gigante do mercado, o Grupo Boticário nasceu no Brasil e se expandiu para 15 países. Recentemente, a empresa divulgou que até 2025 irá banir o uso de matérias primas de origem animal de todas as suas marcas, o que inclui Eudora; Quem Disse, Berenice?; BeautyBox; Multi B; Vult e O.u.i. Para isso, todos os produtos lançados a partir de setembro de 2021 já seriam completamente veganos.

Em 2019, a empresa foi contemplada pela PETA com o selo Cruelty Free. Segundo a marca, já são mais de 50 métodos desenvolvidos por seus pesquisadores para garantir a segurança e a eficácia dos produtos. Entre eles, destacam-se a pele 3D – que simula a pele humana – e o organs on a chip – que atua como um órgão humano em um chip. Em busca de um desenvolvimento sustentável, a também brasileira Griffus Cosméticos comemora o fato de ter conquistado o título de vegana em 2021. Além de alterar fórmulas, retirou vários produtos de higiene e beleza de sua linha de produção. “Para mim beleza é um conceito variável, já cuidar de si mesmo e do planeta é essencial”, diz Cláudia de Almeida, de 51 anos, analista de EAD e pet sitter. Em seus cuidados diários, opta por hidratantes veganos e desodorantes naturais.

No Brasil, além de Minas Gerais, estados como o Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo já têm leis que proíbem o uso de animais em determinadas indústrias. Para ter certeza de que uma marca não realiza testes em animais, a dica é verificar se o selo cruelty free consta na embalagem. O Projeto Esperança Animal (PEA) mantém atualizada em seu site uma lista de empresas nacionais que não testam em bichos. Em Belo Horizonte, a recém lançada Sweet Sixteen foi criada pela empresária mineira Daniela Souza Birman, de 42 anos, e já nasceu com consciência ambiental. “Não encontrava produtos específicos de beleza no mercado para atender as necessidades da minha filha Bianca, de 12 anos. Então criei uma marca exclusiva para adolescentes, totalmente vegana e cruelty free”, diz. Iniciativas como essa despertam as novas gerações para um futuro mais sustentável e sem sofrimento animal.

O que uma marca precisa para ser considerada cruelty free?

Não realizar testes em animais;

Não comprar ingredientes de fornecedores que testam em animais;

Não enviar ingredientes para que terceiros testem em animais;

Não vender em regiões que obrigam testes em animais.

E para ser considerada vegana?

Nesse caso, o produto, além de cruelty-free, não deve ter nenhum ingrediente de origem animal em sua formulação.

Fonte: Revista Encontro

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