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Lições de uma preguiça nada preguiçosa!

12 de março de 2012
2 min. de leitura
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Por Ana Cardilho
em colaboração para a ANDA

(Foto: Paulo Dimas)

Vamos falar de mamífero para mamífero? Acho um absurdo me chamarem de “preguiça”. Coisa mais pejorativa, sô!

Quero ver pular de galho em galho, se torcer todinho, e manter-se em uma única posição por horas seguidas. Tem que ter muita força nos membros, muita determinação e foco… muito foco! Se eu só andasse de carro, transporte público, avião, como os humanos fazem, daí estaria fazendo justiça ao nome preguiça. Mas, logo eu? Um ser tão dinâmico?

Por exemplo, outro dia resolvi dar um rolê. Cansei do parque. Coisa mais chata ficar por ali o tempo todo, vendo as mesmas árvores, o mesmo lago. Deu tédio. Naquele dia precisava de um pouco de agito, entende? E, como sei que aqui a “barra é mansa”, senti segurança para deixar o parque e fui, pasmem com o trocadinho, para o “Jardim da Preguiça”. Achei engraçado e pensei: Bom, o jardim é meu mesmo, né? Mas, como não sou tatu, e sim preguiça, não fiquei pelas calçadas, não. Fui logo para o alto. Brinquei com a fiação elétrica, me equilibrei, dei cambalhotas. Eu sei, eu sei… é perigoso. Foi mal, não vou repetir. E quando já estava bem agitada, com o coração a mil, achei que era hora de me acalmar. Fiz umas posições de ioga, começando pelo cachorro, o gato, a criança e descansei na minha posição preferida: preguiça balança o corpinho lindo em poste de luz. Fiquei ali, num balancinho bom, sentindo o vento nos meus pelos, segurando, segurando, e pensando em nomes de posturas. Quando faço tai chi, bem cedinho no parque, com um grupo de terceira idade que vai saudar o nascer do sol, há posturas como: abraçar a árvore, macaco branco oferece o pêssego, espetando agulhas no fundo do mar e por aí vai…

Como sou uma preguiça criativa estou compilando os nomes das posições que tenho criado para meus métodos pessoais de ioga, tai chi e meditação. Coisas como: preguiça olha para a esquerda e boceja. Preguiça segura o pé direito e sorri. Preguiça coça a barriguinha e dá um largo bocejo. E, finalmente, as posições básicas: preguiça faz saudações para o sol, para a lua e foge da chuva. Choveu, eu sumo. Sou de algodão doce. E, olhe, por falar em doce, esta nossa conversa meu deu fome… vou atrás de umas frutinhas e depois, naninha…que ninguém é de ferro. Nem as preguiças!

Ana Cardilho é escritora e jornalista. Com um olho na realidade e outro na prosa imaginária conta com mais de 20 anos de experiência em rádio e TV, tendo feito reportagens, edição e fechamento de telejornais e programas, e é ficcionista.

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