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ATROPELAMENTOS

Perda de grãos nas estradas alimenta e põe em risco os animais silvestres

12 de agosto de 2022
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Perdas durante o transporte de grãos põem em risco animais – Foto: Agência Goiana de Defesa Agropecuária

Todos os anos, milhões de toneladas de grãos caem pelas estradas de todo o Brasil durante o transporte devido a falhas e frestas nos compartimentos de vedação de caminhões. Nem parece que somos o país que bate recordes de fome e está abaixo da linha da pobreza, tamanha é a quantidade de alimento desperdiçado por aí. Segundo o panorama atual de perdas em transporte e armazenamento de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apenas para as safras de soja e milho em 2015, as perdas totalizaram 2,3 milhões de toneladas de grãos, incorrendo em perdas econômicas na ordem de R$ 2 bilhões. Além disso, as perdas relacionadas aos grãos não são apenas físicas e econômicas, mas também ambientais.

Esses grãos, ao ficarem disponíveis na beira da estrada, viram recursos (alimento) para os animais. Em 2017, um artigo aqui no Fauna News trouxe essa discussão: os grãos perdidos dos caminhões atraem os animais para a beira da estrada e podem acabar sendo uma armadilha ecológica, pois eles se expõe mais ao risco de serem atropelados ao estarem próximos à via.

Esta semana, a publicação de uma nota que descreve o comportamento de macacos-prego se alimentando de sementes que caem de caminhões na BR-163, no Mato Grosso, me fez refletir mais uma vez sobre o tema. O artigo descreve a observação de seis macacos-prego se alimentando de grãos de milho. Apesar de serem animais que vivem associados às copas das árvores, esses primatas são registrados nos levantamentos de fauna atropelada, pois também precisam cruzar as estradas devido ao desmatamento provocado na instalação da via.

Como dito lá na coluna de 2017 citada acima, e reafirmado hoje, ainda não temos evidência que sustente essa relação de causa e efeito entre perdas de grãos e aumento de fatalidades de fauna, mas não precisamos esperar mais atropelamentos para tomarmos alguma decisão sobre esse tema. A solução para essa questão (ainda que não confirmada) é a mesma para redução das perdas econômicas – e me parece simples: melhorar a vedação dos caminhões.

O fato de os animais estarem na beira da estrada expostos a riscos já é bastante preocupante. Mas, além desse fato, chamou minha atenção a observação de que o bando de macacos-prego se afastava da estrada quando caminhões se aproximavam e que esse comportamento não foi observado para veículos menores. Será que os macacos se sentem menos ameaçados pelos carros? O comportamento de evitamento ainda não é descrito para esses animais, porém é possível reduzir os possíveis atropelamentos por meio da instalação de passagens de fauna aéreas, auxiliando no deslocamento mais seguro por cima da estrada.

Sabemos que esses animais são extremamente espertos, portanto, é necessário que haja soluções de mitigação mais criativas para evitar o acesso deles à estrada, como cercas direcionadoras com adaptações ao topo para dificultar a travessia, juntamente com passagens aéreas mais convidativas. As observações trazidas nessa nota nos fornecem mais informações de comportamento desses animais em relação à estrada e nos trazem uma luz sobre qual caminho seguir nos estudos sobre o grupo.

Portanto, o descuido com a vedação dos caminhões afeta não só a vida humana (com desperdício de alimentos e prejuízos econômicos), mas também as populações de animais silvestres, que além de serem atraídas para beira da estrada, possivelmente aumentando os riscos de colisões com os veículos, podem estar ingerindo alimentos não apropriados a sua dieta. Vários são os debates e discussões que surgem do tema em questão, o importante é persistir nos estudos sobre o comportamento dos animais e na busca de soluções que reduzam os impactos das nossas ações sobre o meio ambiente.

 

Este texto foi originalmente publicado por Fauna News

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