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O dilema de Dória – “Zoológico: fechar ou privatizar?”

13 de abril de 2019
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Divulgação – Projeto GAP

Um anúncio do Governador de São Paulo, João Dória, publicado dias atrás, indica que um projeto está sendo montado para privatizar o Jardim Botânico, que tem um déficit anual de quatro milhões de reais, juntando ao Zoológico de São Paulo e ao Parque Simba Safari, que operam juntos e geram um pequeno superavit.
Do ponto de vista econômico pode ser uma iniciativa inteligente para se livrar de uma atividade que dá prejuízo e juntar com outra que dá um pequeno lucro, que são os dois zoológicos. Porém, tudo na vida não se mede com o máximo de “lucros e perdas.” No zoológico existem centenas de vidas inocentes, que sofrem um cativeiro insano para diversão de pessoas que não se identificam com o sofrimento daqueles seres vivos, que têm direitos a ser preservados.
Se voltarmos os olhos para o exterior, veremos que a nova política hoje não é privatizar zoológicos, mas sim fechá-los. O Zoológico de Buenos Aires, um dos mais antigos do mundo, considerado tradicional, localizado em uma área nobre da cidade, está em vias de ser desativado. A mais emblemática das espécies cativas, Sandra, orangotango fêmea, está prestes a ser transferida para um Santuário dessa espécie na Flórida. O Zoológico de Mendoza, situado neste mesmo país irmão, está tecnicamente fechado e sua espécie mais emblemática, a chimpanzé Cecília, foi transferida para o nosso Santuário de Grandes Primatas em Sorocaba, por meio de um Habeas Corpus histórico concedido por uma Juíza Argentina.
Privatizar o cativeiro é jogar a vida e a liberdade de milhares de seres vivos nas mãos do lucro capitalista. Se era ruim em mãos públicas, será mil vezes pior em mãos da exploração privada.
Há mais de 10 anos, eu fiz uma carta ao Governador de São Paulo, na época de Geraldo Alckmin, solicitando o fechamento temporário do Zoológico de São Paulo, ante uma epidemia de morte de primatas de todas as espécies naquele Zoológico, até hoje nunca explicada claramente. A reação da Direção do Zoológico, muito possivelmente com a concordância do Governador, foi abrir um processo de Difamação contra a minha pessoa e o Projeto GAP – Grupo de Apoio aos Primatas, conhecido mundialmente, do qual eu era o Presidente na época e do qual atualmente sou Secretário Geral.
Esse processo ainda está em aberto; o zoológico perdeu em todas as instâncias, porém, usando a imensa variedade de recursos que a nossa Justiça oferece, o mantém aberto, agora nos Tribunais Superiores de Brasília, pensando que dessa forma irão evitar  que questionemos a existência daquele e de outros zoológicos, que, a esta altura da civilização humana, já deveriam estar extintos.
Eu e minha família mantemos em meu sítio em Sorocaba um Santuário de Grandes Primatas e de outras dezenas de espécies. Não temos orgulho por tê-lo, mas bem temos vergonha que, como seres humanos inteligentes, a única solução encontrada para salvar centenas de animais da exploração e da morte em nossas mãos foi encerrá-los em outro cativeiro, na qual estes inocentes não servem de troféu e divertimento de nossa raça.
A desativação de zoológicos é hoje reproduzida em todos os países e até em nosso país vários deles já estão sendo desativados para serem convertidos em parques de lazer para população, sem a exploração animal.
Os chimpanzés abrigados em Sorocaba vivem em recintos de milhares de metros quadrados, são livres dentro desse território, mas eles se sentem prisioneiros, como qualquer ser inteligente se sentiria nessas circunstâncias. Apesar de serem prisioneiros, eles rejeitam a exibição, se relacionam bem conosco, que os atendemos diariamente, porém, não suportam visitantes. Eles também sabem que são objetos de divertimento em mãos de seus captores.
A disputa não é Santuário versus Zoológico, ambos são cativeiros e não deveriam existir. A alternativa é LIBERDADE VERSUS ESCRAVIDÃO. Nenhum animal, não importa a complexidade de sua espécie, nasceu para viver cativo. Os Direitos Humanos não existem só para nós. Todos neste Planeta têm o direito de viver em liberdade na área natural mais apropriada a cada espécie.

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