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CORRENTE DO BEM

Na busca por cachorra que fugiu, tutora ajuda outras famílias a reencontrar cães perdidos: 'Não está sendo em vão'

25 de novembro de 2022
10 min. de leitura
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Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

No último dia 8 de novembro, a cachorrinha Nina fugiu no bairro Guabirotuba, em Curitiba. Foi o início da saga vivida pela tutora, a doutoranda e produtora Fernanda Kogin.

Desde então, durante as buscas por Nina, Fernanda já encontrou outros dois cachorros perdidos e conseguiu devolvê-los aos tutores. Ela também encaminhou mais dois cachorros que estavam nas ruas para lar temporário e adoção. Conheça cada uma das histórias a seguir.

Para a tutora da Nina, apesar de difícil, a busca tem sido gratificante.

“Tenho certeza que tudo o que a Nina está me proporcionando durante essa busca não está sendo em vão. Tenho certeza que está tendo um propósito maior, que não é à toa que estou ajudando cachorros, ajudando famílias e ajudando a criar novas famílias com essas adoções.”

Nina fugiu no bairro Guabirotuba, em Curitiba — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

Segundo Fernanda, depois de fugir, a cachorrinha foi vista atravessando a Avenida das Torres e nos bairros Jardim das Américas, Uberaba, Cajuru e Capão da Imbuia.

Uma de estratégias da tutora para conseguir informações sobre o paradeiro do animal foi olhar em câmeras de segurança da vizinhança, para tentar identificar o trajeto feito por Nina.

Em seguida, a tutora refez o caminho, perguntando para moradores e comerciantes da região se tinham visto a cadelinha por ali.

Segundo Fernanda, durante as buscas chegavam informações de outros cães. Então, ela decidiu registrar tudo para eventualmente conseguir ajudar outras pessoas que procuravam os animais perdidos.

Reencontros

Em um dos episódios, a tutora recebeu informações sobre uma cachorrinha encontrada em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, e que era muito parecida com a Nina.

A tutora percebeu que não era Nina, mas teve a impressão de ter visto aquele animal anteriormente. Então, ela buscou nos registros e encontrou o anúncio de desaparecimento daquela cadela.

A cachorrinha era Pitinha, cadela da família Ogata, companheira de uma criança de 10 anos e de uma idosa de 90.

Pitinha estava perdida e foi encontrada durante buscas por Nina — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

Segundo Marino Ogata, tutor de Pitinha, o cão fugiu no dia 1º de novembro, enquanto ele saía de casa para levar o filho na escola.

Ao sentir falta do cachorro, o tutor saiu pelo bairro procurando o animal e perguntando a comerciantes da região se tinham visto Pitinha. Uma mulher se disponibilizou a divulgar fotos da cachorrinha no grupo do bairro.

Dessa forma surgiu uma rede de ajuda que possibilitou que Marino e Fernanda se conhecessem.

Através da rede, Marino ficou sabendo que a cadelinha foi vista andando entre os carros em uma via movimentada da cidade.

Pessoas que passavam pelo local pararam o trânsito para regatar a cadela, que foi levada por um veículo de placa de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Durante o período em que Pitinha esteve perdida, a família Ogata ficou abalada.

“Meu filho ficou bastante triste, mas minha mãe também ficou bem sentida. Meu filho ainda tem os amigos, as atividades, vai pra escola, tem esporte, mas quem fica em casa, como minha mãe, fica mais próximo do animal”, contou Marino.

Segundo ele, a família havia adotado o animal pouco antes do início da pandemia de coronavírus, e ela ajudou os Ogata no período. De acordo com Marino, a cachorrinha foi uma “benção”.

Dezoito dias depois do desaparecimento Marino recebeu uma ligação de Fernanda, falando que haviam encontrado Pitinha em Pinhais. Para ele, ter encontrado a cadela foi como encontrar uma agulha em um palheiro.

“Tenho que agradecer do fundo do coração a Fernanda, que teve essa grandeza de me avisar e até de ir buscar a Pitinha em Pinhais. Ela teve um grande coração. Quando ela trouxe a Pitinha no fim da tarde foi uma alegria geral, muito emocionante. A gente valoriza depois que perde”, disse emocionado.

Segundo o tutor, Pitinha voltou com ferimentos nas patinhas, porque, enquanto esteve perdida, andou tanto a ponto de se machucar. Agora, afirma ele, a cadela é um pouco mais medrosa do que antes.

Conforme Marino, ficou a lição: agora, a família providenciará uma coleira com a identificação do animal e o telefone dos tutores.

Mais reencontros cães

Além de Pitinha, Fernanda relata que, enquanto andava de carro em busca de Nina, encontrou um cãozinho na rua. Ao descer para tirar uma foto, o animalzinho entrou no carro e sentou no banco de trás.

“Naquele dia, durante a busca, eu tinha pedido para a minha vó que faleceu mandar um sinal de que eu ia encontrar a Nina. Eu tinha prometido para a Nina que eu ia ajudar quem estivesse no caminho. Aí, o cachorro entrou e eu comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo”, relembra.

Cão entrou em carro e sentou no banco de trás do veículo — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

Após divulgar foto do cachorrinho, Fernanda identificou o responsável pelo animal. O tutor afirmou a ela que o animal havia fugido do lar temporário.

Fernanda conta que o terceiro cão foi encontrado por ela após receber uma foto de um cachorro perdido próximo ao Jardim Botânico. Ela afirma que viu que o cão não era Nina, mas guardou o registro para poder eventualmente ajudar outros tutores.

Cão estava escondido em arbusto — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

“No mesmo dia, outra pessoa mandou foto do mesmo cachorro no mesmo lugar. Na primeira foto estava claro e, na segunda, por ser fim de tarde, estava escuro. Aquilo mexeu muito comigo. Eu pensei: ‘Meu Deus, ela está o dia inteiro na mesma posição e no mesmo lugar”, conta.

Então, Fernanda decidiu ir até o local resgatar o animal. Segundo ela, no início foi difícil, porque o cão estava escondido em um arbusto e não deixava ninguém se aproximar.

A jovem relata que precisou criar um laço com o cachorrinho e ganhou a confiança dele aos poucos. Conforme Fernanda, os tutores ainda não foram encontrados e o cão está em um lar temporário.

Antes e depois de cão resgatado por Fernanda — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

O quarto cachorro foi encontrado por uma pessoa que ajudava nas buscas por Nina e que acionou Fernanda. Leia mais sobre a rede de pessoas envolvidas abaixo.

Após o resgate do animal, que andava no meio da rua entre os carros, Fernanda postou uma foto do cãozinho. Em menos de 20 minutos, uma pessoa decidiu adotar o cão.

“Foi a adoção mais rápida que eu já fiz”, comemora.

Cão resgatado por equipe que está ajudando nas buscas por Nina conseguiu ser adotado — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

Buscas pela Nina continuam

A mobilização para encontrar Nina já reuniu diretamente mais de 100 pessoas, que ajudam como podem.

“Montei um grupo de buscas no WhatsApp com pessoas que tiveram interesse em ajudar colando cartazes, buscando de carro pela região, compartilhando posts. Atualmente o grupo está com 113 participantes”, conta Fernanda.

Além disso, os tutores estão usando as redes sociais como maneira de divulgar fotos e vídeos da cachorrinha. No Instagram, publicações sobre as buscas alcançavam mais de 406 mil visualizações até a publicação desta reportagem.

Fernanda conta que contratou duas pessoas para distribuírem panfletos com imagens de Nina.

“Estou aprendendo muito, furando muito a minha bolha, andando na rua, falando com mais pessoas. Antes da Nina sumir, eu estava com uma grande dificuldade de confiar nas pessoas, acreditar que existem pessoas do bem e que fazem o bem de graça. Com o desaparecimento da Nina, ela conseguiu furar essa bolha, e eu comecei a justamente falar com mais pessoas, andar na rua sozinha, entrar em lugares que nunca entrei e isso tem me fortalecido muito”, relata.

Pessoas participam das buscas espalhando cartazes com fotos de Nina — Foto: Fernanda Kogin/Arquivo Pessoal

De acordo com Fernanda, Nina é um cachorro de pelo tipo “estopinha”, bagunçado e espetado branco.

Ela tem orelhas alaranjadas e uma pinta marrom nas costas. Nina tem rabo curto, pernas finas e corre muito. Quem tiver informações sobre a cadelinha pode acionar a família por meio do telefone (41) 9 9910-6222.

Descrição de Nina — Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Kogin

Esperança continua

Fernanda conta que adotou a Nina em 2013, após a cadela ser abandonada em uma caixa de papelão na chuva, junto com outros filhotes. A tutora afirma que foi “amor à primeira vista”.

O desaparecimento da companheira tem sido motivo de tristeza.

“A Nina apareceu na minha vida em uma fase em que eu estava muito mal, eu estava em um luto muito profundo. Desde então, a Nina tem sido meu suporte para tudo na vida. Ela que me ajudou no momento da pandemia, no luto, até quando perdi outros cachorrinhos. Tem sido muito difícil para mim, meu emocional está bem abalado.”

A tutora continua as buscas e afirma que o que resta é a esperança pelo reencontro.

“Tenho esperança e nunca tive tanta fé na vida como estou tendo agora. De confiar nas pessoas, de imaginar que ela pode estar sendo bem cuidada, alimentada. Eu espero de coração achar a Nina, estou fazendo tudo o que eu posso. Espero que ela volte logo”, diz.

Fonte: G1

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