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RIO GRANDE DO NORTE

Municípios litorâneos devem restringir veículos em praias com desovas de tartarugas

Período reprodutivo das cinco espécies que frequentam o estado chega a seu pico entre os meses de fevereiro de março.

4 de março de 2022
Thayanne Magalhães l Redação ANDA
4 min. de leitura
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Filhote de tartaruga em praia do RN (Foto: Mariana Gondim)

O tráfego de veículos nas praias onde acontecem desova de tartarugas-marinhas deve ser reduzido nos municípios litorâneos do Rio Grande do Norte. A orientação foi publicada hoje (04/03) pela Câmara Técnica do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Bonfim-Guaraíra.

Segundo a nota, o período reprodutivo das espécies chega a seu pico entre os meses de fevereiro de março. O documento explica ainda que a temporada reprodutiva das espécies no Rio Grande do Norte começa em novembro com as primeiras desovas e se estende até junho, com o nascimento dos últimos filhotes.

Para a gestora da APA, Liana Sena, o documento é importante, porque as praias potiguares são locais propícios para a desova das tartarugas.

Segundo dados do Projeto Tamar, as cinco espécies de tartarugas marinhas que existem no Brasil frequentam o litoral do estado. Todas elas estão incluídas na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção do Ministério do Meio Ambiente e na Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN).

Ainda de acordo com a nota técnica, no RN, aproximadamente 98% dos registros de ninhos da tartaruga-de-pente foram feitos na área de proteção ambiental Bonfim-Guaraíra, representando a maior concentração de desovas no Atlântico Sul.

“A questão da desova de tartarugas é um assunto importante não só no âmbito do Rio Grande do Norte, como em todo litoral brasileiro. Talvez muitos não saibam, mas as fêmeas das tartarugas marinhas saem do mar e sobem em terra firme para desovarem nas praias em que nasceram. Além disso, as tartarugas marinhas fazem parte de uma cadeia de relações ecológicas fundamental para o desenvolvimento e sobrevivência de todo o ecossistema que inclui as praias, as dunas e os oceanos”, explica Liana.

Ainda de acordo com ela, esses animais são capazes de se orientar por meio do campo magnético da Terra e navegam milhares de quilômetros em mar aberto para retornar à sua praia natal, na época reprodutiva, para desovar.

“O trânsito de veículos nas praias em áreas de desova prejudica muito o processo de reprodução das tartarugas-marinhas e é uma das principais ameaças nesse processo. Por isso, a importância do monitoramento e também da sensibilização da população”, ressaltou Liana.

Juntamente com a nota, a equipe técnica elaborou uma cartilha com as principais informações sobre o assunto para ser distribuída por hotéis, pousadas e operadores de veículos.

Segundo o relatório, o trânsito de veículos pode interferir diretamente no processo de pelo menos quatro formas:

Compactação da areia do ninho, impedindo a saída dos filhotes, a troca de gases e o equilíbrio de umidade do ninho.

Atropelamento dos filhotes quando deixam o ninho e caminham em direção ao mar
Criação de barreiras, deixando presos nos rastros deixados pelos pneus dos veículos na praia. Segundo o relatório, esses sulcos podem chegar a 30 cm de profundidade e impedem a caminhada dos filhotes ao mar, provocando maior exposição à predação, atropelamentos, pisoteio, desidratação e morte. Também obriga os filhotes a gastar, apenas no trecho de praia, a maior parte da energia vitelínica necessária para atravessar a praia, a zona de arrebentação e a área marinha até águas afastadas da costa, onde passam seus primeiros anos de vida.

Alteração no comportamento das fêmeas quando sobem à praia para desovar, assustando-as e provocando eventual interrupção do processo reprodutivo, além de colocá-las em risco de atropelamento e desorientação pela luz dos faróis.

Entre as principais recomendações, o grupo técnico recomendou que não deve haver circulação de veículos à noite e durante o dia nas praias com áreas de desova.

“É estritamente importante reduzir os acessos por veículos motorizados na faixa de praia e no campo dunar durante o dia e especialmente à noite. Além disso, o trânsito de veículos na Praia de Malembá em direção a balsa não deve ocorrer no período de desova e eclosão. Porém, diante da complexidade do problema e do envolvimento de diversos atores, recomenda-se a criação de ampla consulta da sociedade para desenvolver estratégias para seu ordenamento. A balsa de Barra do Cunhaú, em Canguaretama, apesar de não estar inserida nos limites da APA Bonfim-Guaraíra, apresenta grande relevância para a conservação de tartarugas e abrange os mesmos atores que utilizam o território da APA, enfrentando, portanto, a mesma problemática de transporte de veículos e deve seguir as mesmas recomendações acima propostas”, informa o relatório.

O grupo ainda recomendou fiscalização e ordenamento por parte dos municípios.

A área da proteção tem aproximadamente 42 mil hectares distribuídos nos municípios de Tibau do Sul, Goianinha, Arês, Senador Georgino Avelino, Nísia Floresta e São José de Mipibu e é gerida pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema).

Ainda de acordo com o Idema, as recomendações valem para todos os municípios litorâneos com área de desova.

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