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AQUECIMENTO DO OCEANO

Mundo mais quente pode levar a "geleificação dos mares", com aumento de águas-vivas gigantes e outras criaturas gelatinosas

Em pesquisa, a gigante água-viva-cabeluda teve a maior expansão prevista em habitat, com sua área de distribuição quase triplicando

23 de maio de 2024
Redação Um Só Planeta
4 min. de leitura
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Foto: W.carter | Wikimedia Commons

As mudanças climáticas podem alterar significativamente a quantidade e a distribuição de águas-vivas e outras criaturas de aspecto transparente, como os zooplânctons gelatinosos, que desempenham papéis importantes nos ecossistemas marinhos. Uma nova pesquisa publicada na revista Limnology and Oceanography aponta para o risco de expansão desses organismos no Oceano Ártico, um dos oceanos com aquecimento mais rápido na Terra.

Para o estudo, os pesquisadores combinaram vários conjuntos de dados sobre a distribuição de oito espécies de águas-vivas e outros zooplânctos mais registrados na região. Na lista representativa entraram desde o minúsculo hidrozoário Aglantha digitale, que não passa de dois centímetros de comprimento, até a venenosa e gigante água-viva juba de leão (Cyanea capillata), que pode desenvolver tentáculos com mais de 30 metros de comprimento.

Eles então modelaram no computador como a distribuição de cada espécie mudaria na segunda metade deste século em resposta ao aquecimento das águas no Ártico e ao degelo sob um cenário de emissões médias a altas. Prevê-se que sete das oito espécies se movam mais para o norte em resposta às mudanças nas condições do oceano. Essas mudanças podem impactar peixes do Oceano Ártico e a dinâmica geral do ecossistema.

A água-viva-cabeluda (Cyanea capillata), também conhecida como água-viva-juba-de-leão, por exemplo, que pode competir diretamente com os peixes devido ao seu tamanho, teve a maior expansão prevista em habitat, com sua área de distribuição quase triplicando. Todas as outras espécies registaram uma expansão substancial, exceto a Sminthea arctica, de águas profundas, que registou uma pequena contração.

“Nossas descobertas revelam o potencial dramático das mudanças climáticas nos ecossistemas do Oceano Ártico”, disse o autor Dmitrii Pantiukhin, do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha do Instituto Alfred Wegener e na Universidade de Bremen, na Alemanha. Ele acrescenta que as mudanças nas populações gelatinosas do zooplâncton podem ter efeitos em cascata em toda a cadeia alimentar.

“Isto afeta toda a cadeia alimentar e, em última análise, os próprios peixes: muitos tipos de medusas alimentam-se de larvas e ovos de peixes, o que pode retardar ou impedir a recuperação de populações de peixes já sob pressão, que muitas vezes também são fortemente pescados por seres humanos”, acrescentou o pesquisador à agência EuroNews.

Para outros predadores, como o cação-espinhoso ou os peixes necrófagos das profundezas do mar, a expansão dos seres gelatinosos poderia fornecer mais uma fonte de alimento. “Haverá impactos nos ecossistemas que nem conseguimos prever”, diz a cientista Charlotte Havermans, do Alfred Wegener Institute, da Alemanha, ao site NewScientist.

Segundo ela, já existem indícios de que esses seres começaram a se expandir para o polo norte, chegando aos fiordes no arquipélago norueguês de Svalbard, onde as águas-vivas superaram a população do bacalhau, afetando a pesca local. Outros casos semelhantes nos últimos anos deram origem à discussão sobre uma “geleificação” mais ampla dos oceanos do mundo.

Com o aumento em quantidade e localização desses animais, também cresce o risco de mais acidentes envolvendo humanos. No Brasil, por exemplo, todos os anos, águas vivas causam milhares de acidentes nas praias do Brasil – e o número está aumentando. Por trás do crescimentos dos casos, segundos os cientistas, podem estar as mudanças climáticas, que aquecem as águas, o que atrai espécies de outras regiões.

Fonte: Um Só Planeta

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