O cão da raça pastor belga malinois, o Baruk, que foi baleado por um vizinho em Piracicaba (SP), morreu na tarde de domingo (10) após apresentar problemas respiratórios. Depois de ferido pelo ex-policial militar com um tiro de calibre 38 no último dia 3 de julho, o animal, que tinha cerca de dois anos e meio de idade, passou por cirurgia para retirada do projétil e teve alta.
Apesar dos sentimentos de tristeza e indignação, o tutor do cão, Vitor Celso da Silva, espera que o tempo o ajude a se conformar.
“Não vamos guardar esse ódio no coração. Entrego nas mãos de Deus porque, da justiça divina, ele não escapa”, disse o tutor sobre o autor do crime.
O corpo do animal passará por exames e autópsia para atestar as causas da morte. Os laudos, segundo afirmou o veterinário que cuidou do Baruk, Matheus Santos, devem ficar prontos nesta segunda-feira (11).
O tutor do Baruk contou que estava muito feliz com a volta do cão para casa, no Distrito de Tupi em Piracicaba. Ele estava se recuperando bem, mas teve uma recaída, passou mal e morreu a caminho da clínica veterinária.
“Agora, se completa ainda mais a minha indignação com o que esse homem fez com o Baruk dentro do meu quintal. Espero que meu cão descanse da dor que estava sentindo e que, daqui para frente, consigamos nos conformar para jamais queiramos pagar o mal com o mal,” disse.
No sábado (9), o tutor levou o cão novamente para acompanhamento com o veterinário. “Achei que o Baruk estava meio triste, sem querer comer. Chegando lá, ele tomou os medicamentos e teve uma reanimada. Fiquei feliz com a recuperação que demonstrou. Mas, neste domingo, ele voltou a passar mal e morreu quando meu filho o levava para clínica”, relatou.
Cirurgia bem-sucedida e volta para casa
A cirurgia do cão Baruk, atingido por um tiro no último domingo (3), tinha sido um sucesso, segundo o veterinário responsável pelo caso. O cachorro passou pelo procedimento na manhã de terça-feira (5) para retirada da bala, que estava alojada próxima ao coração.
Baruk passou por exames na segunda-feira (4), que mostraram o local em que a bala estava. Apesar de ser um cão jovem, a cirurgia poderia trazer sequelas ao animal, conforme informou Matheus Santos, médico veterinário do Núcleo de Bem-Estar Animal.
“Deu tudo certo, a gente retirou o projétil, realmente estava alojado do lado esquerdo do animal, na região do ombro. O animal passa bem”, informou Matheus.
No entanto o procedimento foi bem-sucedido e Baruk não corre mais risco de morrer, mas ainda vai precisar de cuidados por conta dos estilhaços que ficaram nele. Os veterinários vão acompanhar a evolução do quadro clínico nos próximos dias.
“Foi por questão de milímetros ali, centímetros, que a bala não atingiu uma região vital do animal”, completou Matheus. A bala estava em uma região das costelas do animal e, segundo o veterinário, se tivesse adentrado a região do tórax ele poderia não ter sobrevivido.
O caso aconteceu na manhã de domingo, quando um ex-policial militar de 70 anos atirou no cachorro do vizinho. Ele foi preso em flagrante e depois liberado na audiência de custódia, mediante pagamento de fiança. Ele vai responder pelos crimes de maus-tratos a animais e porte ilegal de arma de fogo.
O tutor do cão, o agricultor Celso da Silva, relatou que o disparo foi feito pelo vizinho do imóvel onde a família vive com cachorro no distrito de Tupi em Piracicaba. A arma usada na ação estava em situação irregular.
As informações foram divulgadas pela delegada que atendeu o caso, Olivia dos Santos Fonseca, e pelo veterinário Matheus Ferreira dos Santos, coordenador do Núcleo de Bem Estar Animal da Prefeitura Municipal de Piracicaba, que resgatou o animal.
Medidas de afastamento
O homem foi proibido pela Justiça de residir em seu endereço por seis meses e de se aproximar de seu vizinho, que é tutor do animal baleado.
As medidas foram determinadas durante audiência de custódia na qual o criminoso foi liberado, nesta segunda-feira (4), após pagar uma fiança de R$ 1 mil. Ele vai responder pelos crimes de maus-tratos a animais e porte ilegal de arma de fogo.
A pena por posse ilegal de arma de fogo varia entre um e três anos, enquanto que por maus-tratos a cães fica entre dois e cinco anos.
Segundo a delegada, foi apurado que havia uma rixa entre os tutores dos animais, e que houve uma situação na qual os três animais da vítima escaparam da chácara onde vivem e foram ao terreno do autor do disparo.
“Por outro lado, o terreno do autor não era cercado, o que facilitava o acesso aos animais [dele]. E os policiais militares me disseram que os cachorros do autor não estavam machucados, então não tinha como ele alegar que agiu no momento para impedir que o cão da vítima agredisse os cachorros dele. Até porque ele teve tempo de pensar e raciocinar. Ele atingiu o cachorro, um pastor belga malinois da vítima, dentro da casa da vítima”, detalhou.
Segundo a chefe de polícia, o cão só não morreu devido à ação rápida do Centro de Controle de Zoonoses.
Também de acordo com a delegada, o homem que fez o disparo tem uma “condição de saúde particular”. “É um senhor de 70 anos que sofreu dois AVCs, tem deficiência auditiva e faz uso de 12 medicamentos por dia. Então, ponderado isso na audiência de custódia, foi arbitrada fiança de R$ 1 mil”.
Olivia explicou que ele pode ser preso se descumprir as medidas impostas, que são deixar o endereço onde mora por seis meses e não se aproximar do tutor do cachorro baleado a menos de 100 metros.
Do Núcleo de Bem-Estar Animal, ele vai receber uma multa de R$ 3 mil. “Isso é uma forma de poder monitorar quando o autor acaba saindo da audiência de custódia. Pensando numa reincidência, a multa é dobrada”, explicou Matheus.
Entenda o caso
O caso aconteceu por volta das 7h, na Estrada Aparecido Marengo, localizada em área rural. O cão baleado, que é da raça pastor bela malinois, foi ferido no pescoço e teve um alto nível de sangramento, segundo o Centro de Controle de Zoonoses.
“Os cachorros escaparam pelos fundos e adentraram no quintal do vizinho. Os cães da propriedade vizinha, vendo os meus, começaram a latir. Quando eu percebi que meus animais estavam lá, eu assoviei e eles voltaram rapidamente para casa. Ao chegarem, eu fechei o portão e segui normalmente”, contou o tutor do animal ferido.
“Quando entrei em casa para tomar um café, ouvi um disparo. O som parecia vir de local próximo. Saí na janela e vi meu vizinho com a arma nas mãos e o meu cachorro já caído”, relatou o agricultor.
De acordo com o boletim de ocorrência, o autor do disparo informou que, por várias vezes, os cachorros de seu vizinho invadiram seu terreno e machucaram seus cachorros e que tinha prova de tudo.
Ele acrescentou que no domingo, novamente, os animais entraram em sua chácara pelos fundos e que acordou ouvindo os cachorros gritando. E que, sabendo que os cães do vizinho teriam voltado para casa, os seguiu e efetuo um disparo.
O homem entregou a arma aos policiais, com onze munições de calibre 38, além de uma caixa contendo mais 50 munições, mas não apresentou qualquer documento de registro, justificando que foi policial militar e deixou a atividade em 1989, e que nunca mais foi atrás de qualquer documentação para regularizar a carabina.
Fonte: G1