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Milhões de cavalos-marinhos são alvos indefesos da exploração humana

17 de novembro de 2013
6 min. de leitura
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Por Vinicius Siqueira (da Redação)

China vende espetinhos de escorpiões e cavalos-marinhos fritos (Foto: Kim Kyung-hoon/Reuters)
China vende espetinhos de escorpiões e cavalos-marinhos fritos (Foto: Kim Kyung-hoon/Reuters)

Na foto ao lado pode-se ver um rapaz olhando fixamente para cavalos-marinhos no espeto. Convém dizer que não são somente os cavalos-marinhos e os escorpiões as vítimas desse assustador mercado de rua, também escorpiões, cobras, lulas e estrelas-do-mar são mortos e exploradas no comércio de alimentos considerados “exóticos” e com supostos efeitos medicinais em praça pública.

Cavalos-marinhos

Em relação ao consumo de cavalos-marinhos, é possível encontrar nesta prática um resquício das tradições passadas de geração a geração no país. Características medicinais como a ajuda no tratamento contra impotência sexual e benefícios aos rins são exaltadas historicamente e movimentam uma matança de milhões de cavalos-marinhos que são retirados de seu habitat e mortos para o consumo humano. As informações são do Daily Mail.

O documentário “The Seahorse Man“, lançado em 2012, trouxe novos dados sobre a possível extinção destes animais. Segundo o documentário, 150 milhões de cavalos-marinhos são mortos e levados para os mercados chineses, o que é quase sete vezes mais do que os números oficiais indicados pelas autoridades chinesas. Com este ritmo de caça estes frágeis animais poderão ser dizimados em menos de 10 anos, alertam os especialistas.

Doyle com uma pilha de cavalos-marinhos mortos em um mercado chines.
Doyle com uma pilha de cavalos-marinhos mortos em um mercado chines.

A demanda mundial pelos cavalos-marinhos é crescente a cada ano (Somente em Guangzhou – capital da província chinesa de Guangdong – 20 milhões deles são negociados nos mercados públicos, segundo Kealan Doyle, biólogo marinho que teve acesso aos mercados da região) e até mesmo a Inglaterra faz parte do mercado consumidor destes animais, embora seja proibido por lei.

A Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES) nega os dados do documentário e afirma que este é o número do comércio mundial, mas Doyle indica que a venda de cavalos-marinhos é muito subestimada. O biólogo conta que visitou “lojas com 30 mil cavalos-marinhos secos empilhados do chão ao teto”, ele ainda denuncia que “há outras 6 mil lojas assim, sem a menor vistoria, em Hong Kong”, e continua, “nós não estamos falando em um ‘pequeno declínio’ da população desta espécie, mas sim de uma espécie que vive no planeta há milhões de anos e poderá ser dizimada entre 10 e 20 anos”.

Ao redor do mundo, por volta de 70 países comercializam cavalos-marinhos para mercados chineses. Apesar deste terrível consumo ser milenar, nos últimos anos a quantidade de consumidores aumentou devido ao crescimento do poder aquisitivo médio chinês. “Muitas pessoas que não podiam comprá-los, agora os compram e, para piorar, o mercado está vendendo pílulas de cavalos-marinhos, que são feitas após moê-los”.

O biólogo também observou que pais dão essas pílulas para seus filhos acreditando que eles poderão crescer mais saudáveis e disse que as mulheres da classe-média chinesa tomam a pílula como substituição de botox.

Cavalos-marinhos são vendidos em mercados de rua na China. (Foto: Internet)
Cavalos-marinhos são vendidos em mercados de rua na China. (Foto: Internet)

No Brasil

Nos litorais do Rio de Janeiro e de Pernambuco os cavalos-marinhos também sofrem com a pesca. Segundo o jornal O Dia, alguns frequentadores das praias do Rio os capturam por sua beleza, já outros ainda acreditam que o consumo de cavalos-marinhos tem benefícios medicinais, “há pessoas que os pescam para colocar em aquários, pois eles são coloridos. Já os caiçaras acreditam que curam asma”, conta a coordenadora do Projeto Cavalos-Marinhos, a bióloga Natalie Freret.

Já o Projeto Hippocampus atua no litoral pernambucano e também se esforça para preservar os cavalos-marinhos da região. A especialista do projeto afirma que o animal “é completamente indefeso, tem deslocamento lento. A cauda ajuda no impulso, embora a força da natação seja dada pela nadadeira dorsal. O cavalo-marinho é feito um camaleão. Ele normalmente toma a cor de fundo, escuro, pardo, para se proteger, se camuflar”. Assim como no Rio de Janeiro, a preocupação se deve à captura e comércio destes animais.

Exploração

O cavalo-marinho é conhecido por ser a única espécie em que o macho fica grávido e, após a gestação, dá à luz para até 4 mil filhotes, entretanto, somente uma pequena parcela consegue sobreviver e chegar a idade adulta – boa parte que chega a essa idade acaba sendo capturada e morta em um ato de pura crueldade. A atividade de caça perpetrada por humanos devido à beleza ou aos supostos benefícios medicinais que estes animais podem trazer demonstra mais uma característica da dominação que os próprio humanos promovem sobre os outros animais, uma dominação que tem como base a espécie e que se manifesta na exploração dos animais sob justificativas medicinais ou como entretenimento (que são os motivos relacionados aos cavalos-marinhos), mas que vai além e também pode ser vista na exploração de animais em experimentos científicos ou no consumo para alimentação.

Escorpiões também são comercializados em feiras de rua na China. (Foto: Reprodução)
Escorpiões também são comercializados nas ruas da China. (Foto: Reprodução)

Os escorpiões, estrelas-do-mar e diversos outros animais que são comercializados nestes mercados populares, assim como os porcos, aves, bois e vacas  na indústria da carne, também são vítimas inocentes das desumanas práticas de exploração que têm como pressuposto tácito uma suposta “superioridade humana”. Estes animais são armazenados, torturados, confinados e assassinados com um conjunto de técnicas e tecnologias que foram construídas exatamente para este propósito.

Todos os animais estão sujeitos a este tipo de abuso humano. Em matéria publicada pela ANDA, Wang Fuming, um empresário chinês, mostra sua fazenda de baratas, em que, em processo quase industrial, reproduz e vende os insetos para produtores asiáticos de cosméticos e de medicamentos.

A China explora baratas em cerca de 100 fazendas como as de Wang Fuming que, sozinho, é proprietário de seis delas e contabiliza um número de 10 milhões de baratas confinadas. A exploração destes animais, às vezes considerados “nojentos” não é menor e nem mais justificável que a de qualquer outro. Todos eles devem ser englobados na luta em prol dos direitos animais e podemos indicar que a exploração em específico de baratas, escorpiões e cavalos-marinhos da maneira como é feita na China faz parte de um traço cultural e histórico que deve ser combatido, da mesma forma que a exploração de cavalos em veículos de tração animal ou a formação de toda uma indústria específica e tecnológica para o controle e o assassinato de animais considerados “para comer” no ocidente, como vacas, aves e porcos, também precisa ser combatida com a mesma força e com a mesma importância, já que ambas são maneiras diferentes de abuso animal, mas horríveis no mesmo grau.

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