A Europa vem registrando um crescimento no registro de lobos híbridos, resultado do cruzamento natural com cães, o que instalou um debate na comunidade científica sobre o impacto dessa subespécie no futuro dos lobos “puro sangue”. Enquanto uns defendem o extermínio da raça mutante, sob o pretexto que ela pode superar os lobos originais, apagando a espécie do planeta, outros resistem a essa abordagem radical, optando pela esterilização, ou mesmo a opção de deixar a natureza seguir seu curso.
Contudo, um dos fatores que movem cientistas e ativistas da causa dos lobos é que o surgimento dos híbridos se deu pela pressão do homem sobre a natureza. A diminuição de habitats, levando para perto do lobo os animais dos humanos, colabora para o cruzamento das espécies.
Uma forma simples de identificação ocorre ao avistar um híbrido: são, muitas vezes, lobos “loiros”, de pelo caramelo, enquanto lobos puro sangue são escuros, acinzentados.
Um número crescente de estudos aponta para a presença de híbridos em quase todos os países europeus com lobos, com crescimento populacional constante em muitos casos. Em regiões da Itália, eles se tornaram endêmicos, representando até 70% da população de lobos, mostra reportagem do jornal The Guardian.
Francesca Marucco, coordenadora científica do Life WolfAlps EU, uma grande iniciativa europeia de preservação dos lobos, que produz muita informação sobre os animais e educação para o público, adota a linha mais dura na discussão. “Gostaríamos de matar todos [os híbridos] o mais rápido possível.”
Esta abordagem ocorre em países como a Áustria, a Suíça, a Polónia e a Eslovénia, com a oposição de grupos que defendem os animais. Outra opção em curso é a esterilização, porém algo impossível de implantar em escala, dada a dificuldade em apanhar os lobos na natureza.
A ciência está olhando também para o lado bom da notícia. Os lobos híbridos podem ter vantagens evolutivas em relação aos originais. No parque nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, por exemplo, descobriu-se que os lobos híbridos têm maior resistência a certas doenças.
“No mundo moderno, dominado pelos humanos, talvez seja útil que os lobos tenham algum comportamento semelhante ao dos cães”, diz Miha Krofel, investigadora eslovena. “Acho que os custos superam os benefícios… [mas] não temos realmente uma compreensão de quão problemáticos são os híbridos para o conflito humano-lobo.”
Um dos temores dos defensores dos puro sangue era de que o comportamento destes animais fosse afetado pelos genes “domesticados” dos cães. A princípio, isso não está ocorrendo, como demonstram pesquisas na Itália que capturaram e observaram o comportamento dos híbridos. Apesar da transformação evidente, a natureza segue seu curso.
Fonte: Um Só Planeta
