Os animais têm enfrentado, novamente, uma luta pela vida no Pantanal. Além dos incêndios “fora de controle” no bioma, os animais passam por problemas para encontrar alimentos, sofrem com a perda de habitat e têm dificuldades para conseguir água. Com a onda de calor e ventos fortes que atingem o país, a “situação deve piorar” é o que diz Gustavo Figueiroa, biólogo e diretor de comunicação do instituto SOS Pantanal.
“Os impactos são tão grandes que é até difícil de mensurar. Apesar do Pantanal ser um bioma acostumado com o fogo (…) tem uma capacidade de regeneração natural, só que com essa intensidade, essa frequência [de incêndios], essa janela vai se fechando, acrescenta Figueiroa à AFP.
Voluntários têm resgatado animais que foram alvos do fogo ou que sofrem com a falta de água ou alimentos em diversos pontos
Segundo especialistas, estes incêndios são causados, sobretudo, pela ação humana, em especial por conta de queimadas para expandir terras agrícolas. Mas a situação se agravou no fim do ano devido à uma seca excepcional.
“Vimos vários animais mortos, como insetos, répteis, anfíbios, pequenos mamíferos, que não têm capacidade de fugir. Eles fazem parte de uma teia alimentar e a morte de cada animal causa um efeito dominó, até chegar no predador topo de cadeia, como a onça-pintada”, relatou o especialista.
Em um vídeo compartilhado nas redes sociais pelo Grupo de Resgate de Animais em Desastres, um equipe registra em apenas 20 metros de área queimada, diversos animais encontrados mortos. Segundo o grupo, “é impossível calcular o número de animais mortos. O fogo faz vítimas diretas e indiretas.”
Com as chamas, os animais passam “pelo período da fome cinzenta, quando não tem oferta de alimento natural na área”, explica Jennifer Larreia, presidente da associação É o Bicho-MT.
A região tem sido atingida por incêndios há várias semanas. Satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram 2.256 focos nesta área entre 1º e 12 de novembro, 11 vezes mais do que durante o mesmo mês em 2022.
Às margens da Transpantaneira, uma estrada de terra que atravessa o Pantanal, uma área que deveria estar completamente alagada foi reduzida a um pequeno lago. Alguns jacarés tentam nadar, enquanto outro é encontrado sem vida fora da água. Membros do Grupo de Resgate Animal em Desastres (GRAD) estiveram na região e constataram diversas mortes por incêndios florestais no Pantanal em Porto Jofre, estado de Mato Grosso. O cenário de destruição continua com um ouriço-cacheiro morto sobre um tapete de cinzas em uma área arborizada completamente carbonizada.
“Provavelmente esse animal morreu com a inalação da fumaça”, disse Aracelli Hammann, veterinária do Grad.
Hammann está no Parque Estadual Encontro das Águas, uma das regiões mais afetadas do estado de Mato Grosso (centro-oeste), onde existe a maior concentração de onças-pintadas do mundo.
De acordo com dados recolhidos pela ONG Instituto Centro de Vida (ICV), 32% da superfície do parque foi atingida pelas chamas que destroem a vegetação há mais de um mês. A outra importante frente de incêndio está no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense. Quase um quarto de sua superfície foi queimada.
O Pantanal está localizado em uma região de mais de 170 mil km², ao sul da Amazônia, e se estende por Brasil, Bolívia e Paraguai.
De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), este bioma abriga 656 espécies de aves, 159 mamíferos, 325 peixes, 98 répteis, 53 anfíbios e mais de 3.500 espécies de plantas.
Fonte: O Globo