O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por meio dos escritórios localizados nas cidades de Aracati, Crato, Sobral e Iguatu intensificou em 2013 o combate o tráfico de animais silvestres. Boa parte de animais resgatados se encontravam sendo comercializados em feiras livres nas cidades do interior. Além do resgate das aves, houve a prisão de caçadores e aplicação de multas.
O papagaio está entre as aves mais ameaçadas por conta da captura criminosa. O Ibama também resgatou, dentre outros animais, macaco, que ao lado do tamanduá, onça vermelha, jacaré e tatu integram a lista dos que mais sofrem com a ação predadora. Os bichos resgatados são levados para Fortaleza.
O Ibama faz a recuperação das aves, devolvendo-as à natureza, ao habitat natural ou às unidades conservacionistas, fiscaliza a degradação ambiental, a pesca predatória, a destruição da fauna e da flora e promove educação ambiental e de manejo florestal.
Neste ano, o escritório do Ibama em Iguatu manteve as ações de combate ao tráfico de animais silvestres e de proteção da fauna em 26 municípios das regiões Centro-Sul, Inhamuns, Sertão Central, Vale do Jaguaribe e Sertões de Crateús. Foram resgatados mais de 400 canários-da-terra, centenas de marrecos, mais de quatro mil avoantes, além de prisão de 40 caçadores, apreensão de equipamentos de caça e aplicação de multas que ultrapassam R$ 3 milhões.
Fiscalização
O escritório dispõe de apenas três fiscais para atuar em uma área muito abrangente. De um lado a proteção ambiental, do outro, os caçadores e criadores. A luta é desigual. A quantidade de traficantes parece ser crescente, numa proporção bem maior, e presentes em todos os municípios. Por uma questão financeira e cultural, há pessoas que fazem tráfico de animais silvestres e há aqueles que criam em cativeiro bichos da fauna nordestina. Outros caçam por puro esporte e prazer.
As aves mais ameaçadas são canário-da-terra, papagaio, golinha, bigodeiro, caboclinho do sertão, galo-de-campina (cabeça vermelha), papa-capim e periquito-do-sertão. A onça vermelha, tamanduá, macaco, jacaré e tatu integram a lista dos que mais sofrem com a ação predadora humana.
Neste ano, um jacaré, duas onças e dois macacos foram resgatados em cativeiros. A novidade foi o resgate de 297 canários-da-terra em uma rinha na zona rural do município de Cedro, além da prisão de 13 pessoas. O campeonato era monitorado há dois meses pelo Ibama e as aves foram levadas para um período de quarentena no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, localizado no bairro de Messejana, Fortaleza.
Na região dos Inhamuns e nos Sertões de Crateús o tráfico de aves é mais intenso. “Depois de caçados, os passarinhos são levados para comercialização nas cidades do Interior e grande parte é vendida nas feiras de pássaros e também são levados para São Paulo e Rio de Janeiro, por meio de ônibus clandestino para satisfazer o desejo de criação de nordestinos que migraram para a região Sudeste”, observa Fábio Lima Bandeira, chefe do escritório do Ibama, em Iguatu.
Apesar dos esforços dos fiscais do Ibama, o resultado é evidente: as aves que até bem pouco tempo eram vistas no sertão cearense estão desaparecendo ante à ação predadora do homem. O canário-da-terra é um exemplo. Existia em quantidade nas matas e nas roças do Interior. “Hoje é caçado e apreendido no Peru e na Bolívia e trazido para cá”, observa o fiscal do Ibama, Alberto Castro. “O canarinho não tem mais na nossa região”, afirma. Nos últimos anos, houve intensificação do tráfico de papagaios. Os traficantes mudaram a sistemática, deixando de apreender as aves. “O papagaio é um pássaro que só reproduz no mesmo lugar”, disse Alberto Castro. “Os comerciantes ilegais retiram os ovos dos ninhos, deixando apenas um só, e os chocam em casa para comercialização dos filhotes”.
O valor de comercialização do papagaio varia entre R$ 200,00 a R$ 400,00. O preço de uma ave silvestre, nativa do sertão, em feira livre oscila entre R$ 10,00 e R$ 50,00. “Quanto mais tempo de gaiola, mais manso for o pássaro, mais valor terá”, explica Castro. “A ave que canta é mais valorizada”.
Araras, tucanos e macacos costumam vir dos Estados do Piauí e Maranhão e da região Norte. Há suspeita de que o transporte ilegal dessas aves é através de caminhões que transportam madeira para o Ceará. “São vendidas nas estradas e algumas são de origens de reservas indígenas”, observou Castro. “Os caminhoneiros recebem encomendas ou trazem esses animais para revenda em pontos certos”.
Os fiscais do Ibama agem geralmente mediante denúncias de moradores preocupados com a questão ecológica. O Ibama conta com a parceria com a Polícia Militar Ambiental e nos últimos anos cresceu o envolvimento ecológico de delegados e agentes da Polícia Civil que contribuem no combate ao tráfico de animais silvestres.
Soltura
O escritório regional do Ibama dispõe de nove áreas cadastradas para soltura de animais silvestres em Acopiara, Cariús, Iguatu, Parambu e Tauá. As propriedades devem ser protegidas da ação de caçadores, distantes dos centros urbanos, ter fonte de água, alimentação e dispor de uma reserva legal.
As pessoas interessadas em cadastrar uma área de soltura de animais silvestres devem procurar o escritório do Ibama. Os técnicos da instituição fazem a vistoria do local e fornecem toda a orientação necessária.
Para Fábio Bandeira, em comparação com as duas últimas décadas, houve redução de matança e resgate de animais. “Os jovens, estudantes, que recebem educação ambiental, estão conscientes e não agem igualmente como os da geração passada”, observou. “Há uma nova consciência”, ressaltou.
Fonte: Diário do Nordeste.