Por Natalia Cesana (da Redação)
Hadley está na porta, pronto para cumprimentar, rabo para cima. A aparência dele está um pouco pior devido ao desgaste. Há manchas na pele onde não nascerá mais pelo, as orelhas estão menores do que deveriam ser, mas para um gato que foi incendiado, ele ainda está elegante.
Hadley estará na livraria pública de Grand Rapids, em Michigan, para o lançamento do livro “O final feliz de Hadley”. Segundo informações do site Mlive.com, a publicação conta a saga deste gatinho que foi cruelmente encharcado de gasolina e incendiado no verão de 2009. Ele vagava longe de casa e só apareceu três dias depois, com queimaduras graves. Os negligentes tutores o deixaram na Sociedade Humanitária de West Michigan, pois não podiam arcar com os custos dos cuidados veterinários.
A equipe da Sociedade Humanitária batizou o gatinho de Hadley e começou a difícil tarefa de salvá-lo. Hadley, que hoje tem 4 anos, sofreu com as queimaduras de terceiro grau por todas as orelhas, pescoço, costas, pernas e parte do rosto. Bigodes e sobrancelhas foram queimados. As pontas das orelhas caíram.
A polícia nunca encontrou o responsável por tamanha crueldade.
O final feliz? Hadley foi adotado por uma garota de 24 anos, Sarah Uzarski, que trabalhava na Sociedade Humanitária quando ele chegou e criou um vínculo afetivo muito forte com o gato.
Sue Stauffacher, autora do livro, se ofereceu para escrever voluntariamente a história de Hadley. Todos os ganhos com a publicação do livro serão doados à Sociedade Humanitária. “Ele me seduziu a escrever essa história, pois há algo realmente especial nele”, disse Sue, que adotou com a entidade dois cachorros, Sophie e Tillie.
Hadley sabe disso. Ele ficou deitado no encosto do sofá de Sarah em uma tarde de sol, posando para o fotógrafo. Ele sobe no colo das visitas e ronrona satisfeito. Além de tudo, ele ainda dá a pata, com seis dedos em cada uma.
“É surpreendente como ele confia nas pessoas, apesar de tudo que passou”, conta Sarah, uma amante dos animais de longa data, graduada em zoologia pela Universidade de Michigan. “Ele é quase um cachorro, pois sempre é o primeiro a vir me cumprimentar na porta.”
Hadley ignora a comparação com os cachorros e continua a ronronar. “Sou muito grata por tê-lo adotado. Ele é o melhor gato que eu poderia ter.”
Melhor, e sortudo. Hadley acaba de passar por um check-up com a veterinária que cuidou dele durante a passagem pela Sociedade Humanitária. “Ela será para sempre a veterinária de Hadley, porque ela lhe deu uma nova cota de saúde”, comemora a tutora.
Sue Stauffacher, autora de dezenas de livros para crianças, considera esta história “um maravilho conto sobre cura depois da tragédia”. Ela imagina as crianças que também sofreram queimaduras ou que sobreviveram a abusos se conectando a Hadley.
“O pessoal da Sociedade Humanitária pensa que sempre esteve claro que Hadley queria viver. Apesar da incrível dor que ele sentiu, ele sempre foi carinhoso e receptivo. A vida tem momentos de dor, mas se você continuar tentando, alcançará o sucesso”, diz a autora.
O apoio recebido por todos os amantes de gatos foi algo esmagador, conta Sarah. Foram mais de US$ 12 mil em doações para que a Sociedade Humanitária pagasse o custoso tratamento e ainda pudesse oferecer uma recompensa a quem desse pistas sobre a pessoa que cometeu tal brutalidade contra Hadley.
Hadley e Minnie têm 1.200 fans no Facebook.
Mas quem é Minnie? “Está embaixo da cama, porque é um pouco tímida”, mostra Sarah. Minnie, que também veio da Sociedade Humanitária, é a melhor amiga de Hadley. Eles se tornaram inseparáveis no tempo que viveram no abrigo, por isso a equipe de protetores queria que eles fossem adotados juntos.
Sendo assim, Sarah agora é tutora de quatro gatos: Hadley, Minnie, Agnes e Jack.
A cada dois dias ela precisa passar uma loção na pele sem pelos de Hadley para evitar o ressecamento e, na hora de dormir, Sarah gentilmente levanta o braço para que ele se aconchegue. “São tantas as pessoas que sequer o conheceram, mas que sempre enviam amor e apoio a ele… pessoas de todas as partes do mundo mandando doações, crianças enviando cartões. Saber que as pessoas se preocupam com este pobre gato aquece meu coração”, comenta Sarah. “Eu acho que foram estes bons pensamentos que ajudaram na cura dele”, completa sorrindo.
Hadley está olhando pela janela um esquilo brincar lá fora. Seu rabo listrado balança exibindo aquilo que sua biógrafa ressaltou como principal característica. “Hadley tem catitude.”